Revirando páginas

311 25 2
                                    

  Não havia acordado bem naquela manhã, uma ressaca sem fim parecia me dominar nos últimos dias e o diagnóstico que dei a mim mesma foi: cansaço.

Elizabeth se mantinha empenhada em me arrumar todo tipo de tarefa para me ocupar. Confesso que em alguns momentos saia de fininho e me escondia em qualquer cômodo da casa onde não pudesse ser encontrada. Planejar festas nunca foi comigo, e no meu próprio casamento isso não mudaria. Eu sabia que no fundo as intenções dela eram as melhores, ela sabia que eu sabia sobre oque todos estavam sabendo, e então tentava incessantemente me distrair de tais pensamentos. E eu era grata, principalmente porque Michael havia viajado até Seattle por dois dias e eu não sabia quando o veria novamente. Sentia a falta dele como nunca antes, e pude perceber o quanto estivemos juntos nos últimos dias. Eu havia me viciado nele de uma maneira tão surpreendente que precisava sentir seu cheiro antes de dormir, por isso guardava uma de suas camisas favoritas debaixo do meu travesseiro, ainda tinha seu perfume e eu adorava aquilo.  Por isso em mais uma das minhas escapadas para longe da turbulação do casamento, me vejo sentada na janela de um dos quartos vagos da mansão, esperando pacientemente que meu futuro marido atenda minha ligação.

- não me diga que já sente minha falta? -ele brincou do outro lado da linha, e meu coração transbordou de alegria-  porque... Eu sinto a sua! Demais.

Sorrio em silêncio apenas aproveitando o doce som de sua voz.

- Estou escondida neste instante, Liz está me enlouquecendo, quando vem pra casa?

Casa. Aquela era minha casa agora. O lar onde construiria minha vida ao lado do homem que amava, precisava me acostumar a ideia.

Michael riu de mim e tentou me acalmar.

- Não vou me demorar eu prometo. Antes que você perceba estarei por perto amor.  -fez uma pausa- você está bem? Sua voz parece fraca.

- estou bem, só uma dor de estômago mas já tomei um chá ... -suspirei- vou ter que me contentar com o travesseiro vazio ao lado mais uma noite.

Ele pareceu não ter oque dizer para negar aquilo ou fazer eu me sentir melhor. Um ruído se ouviu na ligação e ele voltou a falar.

- Eu tenho que ir agora, negócios a resolver. -disse em tom formal-  eu te amo Alissa, não se esqueça!

-por que está dizendo isso como uma despedida?

- porque estou finalizando a chamada. -ele riu - te vejo muito em breve.

E então ele desligou.

Fiquei ali naquele quarto por mais alguns  minutos tentando tomar coragem e sair dali, naquele instante senti falta da minha vida como cirurgiã, que a verdade seja dita eu amei operar. Amei salvar vidas e pensar se conseguiria viver o resto da vida sem praticar medicina novamente me assustava. Tentava ignorar o sentimento de aflição.  E como num passe de mágica me lembrei de algo.

- Deus do céu como pude me esquecer?!

Levo a mão a testa me lembrando do frasco de sangue do qual eu queria me certificar que estava livre de químicas depois que passei tão mal na minha primeira semana aqui.  Havia o deixado no frigobar do nosso quarto e com todos os acontecimentos acabara esquecendo completamente.

Corri quarto a fora, afim de levar o tubo de sangue imediatamente para o banco de análises. Porém ao passar pela porta me choco contra um peito de aço. Era Conrad Murray, parado como estátua ali no corredor, e quase praguejei em voz alta por ter sua presença ali.  Dei dois passos para o lado me afastando dele e cruzei os braços.

- Murray... Não fui informada de sua visita.  -o olhei desafiadoramente- Tem alguém doente por aqui?

- Sou o médico da família, vivo nessa casa, não preciso ser anunciado senhorita Winchester. Ou devo dizer futura senhora Jackson?

'Coração de diamante'Onde histórias criam vida. Descubra agora