Segredos

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Olho para o celular mais uma vez na esperança de ver um nome conhecido se formar na tela. Mas ele não tocava, ele não vibrava, ele não fazia nada.
Já havia se passado uma semana desde que saí da casa de Michael daquela forma, e ainda me sentia magoada pela forma que tudo ficou, ainda mais por ele nem ao menos ter ligado para dar alguma explicação. 

Já estava em aceitação, a vida era assim, mas exatamente às três  da tarde daquela quarta feira ele me ligou. Meu coração deu um salto do peito e quase  derrubo o copo de chá gelado da minha mão. Por isso deixo o copo na mesinha de centro e pego o celular. Por um momento olho para meu reflexo no espelho e penso se deveria atender. Já fazia uma semana... Seria a coisa certa?

Sem mais delongas, atendo. Não digo nada apenas encosto o celular no ouvido. Ouço um chiado e um barulho de respiração ofegante, uma voz fraca parece tentar dizer algo.

- A-alissa... -gagueja Michael- por favor..

Franzi o cenho preocupada. Tentando entender oque ele dizia.

- Michael qual o problema?

-Nao.. eu não consigo fazer isso... -dizia ele e eu não sabia se falava comigo ou com alguém perto dele. - O doutor me deu... Remédios...

Levantei imediatamente do sofá e subi até meu escritório preparando uma maleta com alguns itens médicos.

- Fique comigo Michael... Onde você está?

Ele respirou alguns segundos e fazia alguns barulhos com a garganta. Mas não me respondeu. Tive a impressão de que o celular havia caído no chão. Não desliguei , peguei minhas coisas e fui para o carro dirigindo o mais rápido que podia até sua casa onde supus que estaria.

...

A viagem levou trinta minutos, que pareceram mesmo três horas.  E ao chegar nos portões da casa fui barrada por alerta de identidade. Eu não tinha permissão para entrar na casa. Afinal era a casa de uma celebridade, havia certo controle a manter, e aquilo só me desesperou. Como provaria que de fato conhecia ele e que ele havia me ligado? O tempo estava passando e ele poderia estar com um sério problema de saúde lá dentro.

- Senhor Preston, eu lhe garanto, sou médica e seu patrão acaba de me ligar pedindo socorro. - eu dizia ao chefe dos seguranças-

- E eu estou dizendo que não temos uma ordem para deixá-la entrar. Não há dados aqui que e ... já temos um médico na casa.

- Ele pode estar tendo uma overdose.

Quanto mais insistia mais ele se tornava implacável como se não se importasse nem um pouco com a vida de seu patrão. Tentei empurra-lo e passar por ele mesmo assim mas ele me segurou me levando de volta ao meu carro. Era isso? Teria de ir embora enxotada como um cão de rua?

- PRESTON!! -chamou uma voz - oque está acontecendo?

Olhei para trás tentando ver de quem se tratava, e era o motorista que havia me buscado da primeira vez em que estive na mansão. O segurança que me arrastava até o carro parou e sem largar meu braço respondeu ao motorista.

- Uma engraçadinha tentando entrar na casa. Já estou resolvendo Clark. - garantiu parecendo orgulhoso de si- qual o problema?

O motorista cruzou os braços e caminhava a passos lentos até nós.

- O problema Preston, é que essa é a senhorita Winchester, já esteve aqui. Eu mesma a busquei a pedido do  Sr Jackson. - disse ele muito convincente-  Eles são íntimos se é que me entende.

O segurança grandalhão me soltou no mesmo momento e me olhou confuso e assustado.

- me desculpe senhorita Winchester, eu não sabia. - ele se afastou e me deu passagem.

Olhei para o motorista Clark  por alguns segundos agradecendo em silêncio por  sua ajuda e em seguida corri para dentro da mansão.

Lá dentro procurei de forma frenética pelo quarto de Michael. Eram tantos cômodos não podia me lembrar com apenas uma visita lá, porém uma amável empregada que andava pelos corredores carregando a roupa suja dos quartos, me indicou o caminho que eu tanto buscava. Minhas mãos giraram a maçaneta com habilidade e a porta se abriu.

Ele estava deitado na cama, usava pijamas vermelho e dormia profundamente. O braço estava esticado para fora da cama e o celular estava no chão respondendo minhas expectativas sobre a ligação muda.

A passos firmes me aproximei e sentei na beirada do colchão ao seu lado. Abri minha maleta de apetrechos e ouvi seus batimentos cardíacos. Estavam um pouco fracos mas estava funcionando. Suas mãos estavam frias mas seus sinais vitais estavam normais. Ele estava claramente dopado. Suspirei e levei as mãos a cabeça tentando relaxar.

- Ele está bem...

Disse uma voz vinda da porta, um homem alto me encarava, cheio de postura.

- Quem é você? - perguntei o olhando confusa. Me levantei e dei dois passos a frente.

- Sou o doutor Murray. - disse ele se aproximando mais - O médico de Michael.

Ele estende a mão pra mim e eu seguro firme olhando no fundo de seus olhos. Eram gélidos, sem expressão nenhuma.

- Sou a Doutora Winchester. - me apresentei usando o mesmo tom profissional. - Porque ele está sedado?

Ele solta minha mão e enfia no bolso.

- Acredito que não precisemos de um segundo médico aqui. Sou bem capaz senhorita Winchester. - disse ele petulante- E sou profissional também, por isso não saio falando dos interesses do meu paciente.

- Ele me ligou com medo... pedindo ajuda. - eu estava começando a ficar irritada então usei o tom mais impertinente que pude-  Talvez por sua causa.

Ele riu com escárnio e deu mais um passo em minha direção.

- Está tendo ideias demais sobre mim. - ele me olhou de cima a baixo- Acho melhor você ir embora.

O encarei de volta da mesma forma com um sorriso sarcástico nos lábios e me sentei numa poltrona vermelha próxima a janela.

- Ninguém vai a lugar algum.

Murray apenas fez cara feia e saiu do quarto levando consigo toda aquela hostilidade. Já eu permaneci ali sentada esperando que Michael acordasse de seu sono profundo.

'Coração de diamante'Where stories live. Discover now