últimos momentos

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Era uma manhã ensolarada e brilhante, o céu azul tomava conta de todo o cenário pela janela da sala de estar, logo abaixo as árvores no jardim balançavam em sincronia com o vento refrescante. As crianças brincavam no gramado, e podia se ouvir a risada de Paris juntamente com os protestos de bigi  por não correr tanto quanto Prince, numa brincadeira de pega pega. Me peguei sorrindo ao assistir sua diversão.

- Eu amo quando você sorri assim.. -disse Michael me abraçando por trás enquanto depositava um suave beijo em meu pescoço. - Deveria sempre sorrir.

Me aconchego em seu abraço confortavelmente, e ali ficamos apenas assistindo pela janela. Seria assim se eu ficasse com ele? Uma vida normal em família? Ser a mãe que as crianças precisavam e talvez ter até mais um filho... ser a esposa cuidadosa de um marido carinhoso que me ama... Ser sempre feliz?

Meu celular toca me despertando de meus devaneios maternais. Um número desconhecido estava na tela, deslizei o dedo e atendi.

- Alô?

- estou falando com a doutora Winchester? -uma voz masculina diz do outro lado da linha.

-sim você está, posso ajudar?

Franzi o cenho curiosa, Michael me soltou para dar liberdade a mim. Se sentou no sofá tranquilo. Eu continuei em pé.

- Doutora precisa vir ao centro médico UCLA com urgência, aconteceu algo e sei que está de férias mas ... É seu irmão senhorita, ele deu entrada a quinze minutos na emergência e é causa de trauma.

Um choque percorreu meu corpo e por uns instantes não senti minhas pernas. Tentei recuperar o fôlego antes de falar novamente.

-Doutora... Desculpe dar a notícia assim mas achei que gostaria de estar aqui.

- c-claro .. eu..eu estou indo. Estou um pouco longe, vou demorar um pouco mas tentarei estar aí em menos de uma hora. Por favor me ligue por qualquer coisa.. 

Ele diz algo que não presto atenção e eu desligo a ligação. Coloco o celular no bolso do jeans e olho para Michael que parecia preocupado. Ele se levantou e caminhou até mim.

- Qual o problema? Você está pálida.

- meu irmão... Ben sofreu um.. eu preciso ir ao hospital para vê-lo. Preciso ir agora.

A ideia de ter meu irmão machucado me apavorava. Minhas mãos tremulas  eram sinal do choque, e uma onda de culpa me invade por não ter ligado pra ele por todos esse dias. Eu havia me esquecido do meu irmão e agora ele estava na aula de traumas do hospital.
Deixei Michael na sala de estar e corri para o quarto buscar minha bolsa. A passos largos volto para a sala .

- Não, voce não vai dirigir até o hospital, está nervosa demais pra isso.

Michael tomou as chaves da minha mão autoritário.

-eu não posso perder tempo Michael eu tenho que ir, meu irmão está morrendo agora. - disse eu tentando resgatar a chave de suas mãos.

- não! - ele guardou as chaves nos bolsos e segurou meus ombros- vamos com Preston. Eu vou com você.

Olhei incrédula para ele.

-voce não pode ir comigo, as pessoas enlouqueceriam. Eu tenho que ser prática Michael.. vamos me dê a chave.

Ele me olhou com um pouco de mágoa mas se recuperou logo em seguida e segurou minha mão.

- estou com você. - ele disse e me puxou porta afora até a garagem onde Preston estava. - Precisamos estar com urgência no centro médico...

- UCLA - conclui aflita - agora Preston.

Ele fez um sinal com a cabeça e falou algo em seu rádio de comunicação. Senti Michael me empurrando para que entrássemos no carro e eu obedeci. Seguimos estrada a dentro.

Rezava o caminho todo para que não fosse um trauma tão grave assim. Ben era forte, saudável, e adorava esportes radicais e eu não duvidava de que teria se machucado numa dessas aventuras.

- Você está tremendo meu amor... Calma. -disse Michael ao meu lado, segurou minha mão com firmeza- Me diga oque lhe contaram ao telefone.

Pediu paciente e calmo, tentando me transmitir aquilo também. Respirei fundo e comecei a contar.

- Não me deram muitas informações, só que ele estava no trauma no UCLA e que eu deveria ir até lá ver a situação. -percebi que minha voz soava frágil agora - Eu devia ter ligado pra ele ... Praticamente o abandonei ...

- hey nada de se culpar, acidentes acontecem, você é médica sabe disso melhor que todo mundo.

- Eu sei. Vejo isso todos os dias, pais tios, primos, namorados, maridos, amigos todos perdendo alguém, e eu dou a notícia eu dou essa tristeza a eles, e mantenho o pulso firme  mas... Quando é com alguém que amamos a situação muda. - faço uma pausa e olho pela janela pensativa- Nossos pais morreram, não temos tios nem avós somos só nós dois. Eu não sei oque faria sem meu irmão.

- Nada disso vai acontecer, seu irmão vai ficar bem! -repetiu ele me dando conforto. Deitei a cabeça em seu ombro e Michael me abraçou forte.

Sentia meu coração bater forte no peito, e torcia para que a pequena viagem não demorasse demais.

...

Quarenta minutos depois estávamos estacionando nos fundos do hospital, pelo visto Michael tinha tudo planejado e sua equipe havia se arranjado bem. Não percebi quando seus seguranças nos seguiram em vários carros atrás do nosso, Michael vestia jeans preto sapatos de couro preto uma camisa branca de linho e um elegante blazer azul marinho com detalhes dourados,  colocou uma máscara cirúrgica preta e óculos escuros, apesar de muito elegante, estava mais chamando atenção do que disfarçando. Franzi o cenho antes de sair do carro.

- você não está enganando ninguém..

Ele riu e saiu logo atrás de mim, fomos cercados por seguranças e então entramos no edifício. Uma secretária da clínica nos levou até uma das salas privadas onde Michael e eu não seríamos incomodados. Era tudo tão premeditado, tão certo, e fora de meus costumes normais. Olhei para Michael que me encarava cauteloso.

- Aqui vou chamar menos atenção, queria estar ao seu lado neste momento ...esse é meu jeito de estar. Pode ir procurar notícias do seu irmão vou ficar bem aqui.

- Eu vou correr então...   -disse ansiosa demais para fazer rodeios - eu volto para dar noticias.

E então sai da sala correndo por entre  os corredores seguindo rumo a recepção. Eu não me importava com olhares especulativos que sentia ao meu redor, só queria me certificar de que ele estava bem.

- Doutora Winchester! Que bom que chegou. Acabei de receber notícias sobre seu irmão. - disse o mesmo recepcionista que me ligara mais cedo.- Ele sofreu uma lesão na cabeça, está fazendo uma craniotomia neste momento. Os médicos vão mantê-la...

- Ele o que?! - disse sobressaltada interrompendo- quem está operando Ben?!

O rapaz, cujo crachá pendurado no uniforme informava que o nome era Estevan, me olhava agora cauteloso

- ele está sendo operado pelo doutor Prescott. Está em boas mãos. -disse ele me entregando os papéis - preencha por favor... Precisamos das informações.

Suspirei resignada e segui até a poltrona mais próxima para assinar tudo. As próximas horas seriam cruciais.



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