ultimos momentos (pt 2)

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Voltei para a sala onde Michael me esperava, após assinar tudo e obrigar o funcionário a levar informações pra mim. A cada passo que eu dava era uma batida do meu coração, era um segundo a menos, um momento de angústia a mais. Meus instintos me diziam para invadir a sala de cirurgia e fazer a operação eu mesma. Eu era uma boa cirurgiã, eu poderia salva-lo... Porém sou família, e isso talvez atrapalhasse meu desempenho. Então teria que me conformar.

Abro a porta da sala e encontro Michael sentado numa poltrona verde folheando uma revista qualquer. Fecho a porta atrás de mim e me encosto nela soltando um suspiro longo e pesado. Ele me observa neutro e continua onde está.

- alguma novidade? -perguntou-

- ele está em cirurgia... Precisou de uma craniotomia. Pode demorar algumas horas.

- oh... Vamos rezar pelo melhor então.

- eu sou boa nisso. - falei atônita- eu sou boa... Eu me tornei cirurgiã para salvar pessoas, e salvei muitas. E agora, neste momento não posso fazer nada além de esperar.

Caminho até Michael e sento em suas pernas me recostando em seu peito. Ele me abraça firme.

- oque aconteceu com seus pais? - perguntou Michael em tom brando-

- minha mãe teve câncer, descobriu em estado crítico e já não havia oque fazer. O hospital permitiu que ela tomasse uma superdose para partir logo. Foi escolha dela. - contei - Eu me lembro do quanto papai ficou arrasado. Sem esposa, cheio de trabalho, dois filhos pra criar... Ele não esteve tão presente para nós depois de tudo, começou a beber, entrou em depressão e ... - engulo em Seco- Ele se matou com barbitúricos.

Michael parecia chocado, franziu o cenho e me abraçou mais forte. Depositou um beijo em minha testa. Continuei contando.

- Ben e eu já éramos maiores de idade quando ocorreu o suicídio. Eu tinha vinte e um, Ben tinha vinte e seis. Ficamos meio perdidos por um tempo, mas depois aprendemos a nos virar.

- Eu sinto muito Alissa, de verdade. -disse Michael, com o tom de voz afetado. - vocês são muito fortes, lidaram com isso sozinhos. É bem difícil para algumas pessoas.

-Nao foi fácil para nós... Mas sobrevivemos. - dei um sorriso fraco e fiquei em silêncio.

Michael também.

...

Duas batidas na porta três horas depois me acordaram. Eu ainda estava no colo de Michael, ele parecia ter acordado junto comigo. O doutor Prescott entra na sala e eu levanto me ajeitando.

- doutor Prescott! -estendi minha mão e o cumprimentei. - como foi a cirurgia?

Ele parecia atônito e então percebi que ele olhava para meu namorado se perguntando se era mesmo ele ali ao meu lado.

- Doutor?! -censurei - meu irmão, como vai?

- oh desculpe-me senhorita Winchester. Eu... -ele se prepara para dar a notícia e um nó de forma em minha garganta.- Infelizmente as notícias não são boas, seu irmão teve uma hemorragia, conseguimos conter mas... Houveram complicações. Fizemos todo o possível para reverter a situação mas ... Ele perdeu 95% das atividades cerebrais. As chances dele acordar são mínimas e se acordar, será para vegetar e sofrer. Ele está respirando pelas máquinas pois o corpo não está funcionando sozinho. Eu sinto muito, mas como médica deve entender a situação.

Suas palavras fizeram meu mundo cair. Fiquei cega e surda por um bom tempo depois de ouvi-lo, levei as mãos a cabeça em desespero, ouvi minha própria respiração quase que em câmera lenta ecoar pelo comodo, ofegante. Tudo a minha volta naquele momento parecia surreal, como num sonho ruim, em que tentamos nos mexer mas não saímos só lugar. Alguém me segurava firme pelos ombros, alguém me segurava pois sem nem mesmo perceber eu estava querendo agredir o médico na minha frente com socos e tapas, eu gritava e o culpava, eu senti o salgado das lágrimas que escorriam por meu rosto. Eu vi enfermeiros entrando no quarto e tentando me segurar, uma dor aguda em meu braço me tirou do frenesi, me aplicaram alguma injeção, eles me apagaram.

'Coração de diamante'حيث تعيش القصص. اكتشف الآن