Capítulo 41 - O MAGNATA

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      "Hã?"

      "Meus olhos" – ela continuou, arregalando-os um pouco mais, sorrindo. – "A cor deles. Oficialmente, são cinza, mas puxando bastante para o azul. Dependendo da luz, eles ficam com um tom de azul mais escuro, quase violeta." – Ela tinha muito orgulho deles, mas era modesta o bastante para se esforçar em não deixar isso tão evidente. – "Eles chamam um pouco a atenção. É uma cor rara numa japonesa."

      Maks se sentiu sem graça pela sua distração. Não havia se policiado tão bem para evitar gestos exagerados.

      Na verdade, parecia ter adormecido durante o último minuto.

      Ou foram... minutos?

      "É, são realmente lindos." – conseguiu articular, o elogio sendo acompanhado de um sorriso que mais parecia um pedido de desculpas. Olhou para os lados, para baixo, e depois, voltou a olhar na direção dela, mas como sempre, evitando diretamente aqueles olhos.

      Principalmente, porque agora era ela quem o fitava, ainda sorrindo. E diante daquele olhar, sentiu-se desarmado, quase intimidado, chegando a encontrar dificuldades para pensar numa frase que pudesse quebrar aquele silêncio que se formou.

      "Talvez,seus olhos sejam assim por ter muita água em sua personalidade."  – acabou dizendo, lembrando-se de uma passagem lida em um livro, quando a narrativa se referia aos olhos (também) translúcidos da personagem retratada.

      "Memórias de uma Gueixa" – Yuko lembrou de imediato da citação, acrescentando logo em seguida: – "Adoro esse livro!" – Após a exclamação, seu semblante imediatamente adquiriu um ar sonhador. – "Quando eu era pequena, sempre que passava por Gion, eu lembro de correr sempre pela mesma rua para chegar na frente de um restaurante onde podia ver uma gueixa através da vitrine. Eu ficava maravilhada vendo ela se apresentando, com aquela maquiagem destacada e tão graciosa em cada gesto... Era hipnotizante ficar observando aqueles movimentos tão delicados de dança. Nossa... eu sonhava em ser uma delas quando crescesse." – Uma lembrança mais vívida lhe surgiu e a fez rir um pouco. – "Levei muitas surras da minha mãe por gastar toda a maquiagem dela e por sujar os lençóis quando me enrolava neles para imitar aqueles quimonos caros e trabalhados...!"

      "Eu também gosto muito."

      "De usar a maquiagem da sua mãe e se enrolar nos lençóis?" – ela perguntou, erguendo uma sobrancelha e simulando seriedade, tentando deixá-lo encabulado, como já fizera outras vezes.

      "Não! Não isso." – Ele sorriu com a pergunta bem humorada. – "Gosto do livro." – E lembrou o nome do autor com facilidade. – "Arthur Golden..." – Franzindo um pouco o cenho, fez seu pensamento fugir dali por um momento, tentando lembrar de quando e onde teria lido aquele livro.

      E, como já temia, sua mente apenas deu voltas, tentando acessar épocas e lugares inacessíveis, sem chegar a lugar nenhum, sem conseguir desencavar nenhuma lembrança específica da data ou de local; apenas a história permanecia ali, guardada num cantinho de sua memória. Nada mais que isso.

      Mas estava feliz por confirmar que aqueles belos olhos não eram lentes.

      Antes que a conversa pudesse ser retomada, Aleksei apareceu no seu campo de visão e o chamou, conseguindo sua atenção.

      —Maks, nós estamos indo ver o senhor Kihara agora, OK?

      —Só vocês? – ele perguntou, soando um pouco decepcionado. – Porque eu também queria muito conhecer esse sujeito.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesWhere stories live. Discover now