Capítulo 6 - CONFIANÇA

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      Houve uma breve pausa, como se Maks precisasse assimilar aquelas palavras.

      —Um o quê!?

      —Um Caçador de Nômades – repetiu Aleksei.

      —Volto num minuto – avisou Dmitri, antes atravessar a porta e desaparecer na escuridão. 

      —Vocês são é malucos! – Maks exclamou, um pouco mais irritado. – Não sabem de nada sobre mim!

      Seus olhos acompanharam a saída do Caçador de sobretudo e ainda persistiam em buscar uma abertura para também escapar daquele vagão. Mas sem sucesso: não havia como driblá-los. E o líder do grupo logo retomou a palavra, conseguindo sua atenção.  

      —Você sabe seu nome apenas porque já deve ter lido em algum documento com você. De acordo com o documento, é um russo da cidade de São Petersburgo e embora tenha nacionalidade russa, fala apenas o idioma português. Assim como nós, acordou aqui em Kyoto com uma amnésia estranha. Não lembra de absolutamente nada da sua vida pessoal, mas lembra das coisas que já aprendeu. Além disso, está mais rápido e mais forte do que uma pessoa normal. Prova disso é aquela poltrona quase arrancada. Errei em alguma coisa?

      Aleksei não havia errado em absolutamente nada. E aquilo o surpreendeu. – Então, também acordaram aqui em Kyoto, com amnésia...? – Maks perguntou, sentindo-se feliz pela primeira vez desde que acordou por não estar sozinho naquela condição.

      —Sim, já fazem alguns meses – confirmou ele. – Mas não sabemos como ficamos mais fortes, se esta for sua próxima pergunta.

      E era. Acabou desistindo de fazê-la pelo motivo óbvio.

      —Foi um garoto chamado Kaneda quem começou essa caça aos Nômades, sozinho – Aleksei continuou relatando. – Depois, ele foi nos encontrando, um a um, e nos juntamos. Eu, o Dmitri aqui. – Indicou a pessoa ao seu lado com um leve gesto com a cabeça. – A Yelena, e mais o Mikhail, que está neste momento na nossa base, junto com o Kaneda. Só que nós fomos encontrados pelo garoto praticamente na mesma semana. Você foi quem demorou mais a aparecer.

      Maks olhava na direção de Misaki, que montava guarda na porta, olhando para fora. Não entendeu por que o gigante oriental não fora citado.

      —Misaki também é um Caçador de Nômades, mas não é exatamente igual a nós. – acrescentou Aleksei, percebendo o olhar de dúvida de Maks. – Ele é um cara normal.

      —Normal?! – exclamou Maks, um pouco alto demais. – Ele?! – Apontou com o dedo, de maneira exagerada. – Com aquele tamanho todo, ele pode ser qualquer coisa, menos normal!

      Aleksei riu daquela afirmação. – É, ele impressiona mesmo. – Os olhos se desviaram, focando em seu imenso amigo. E ele, certamente, ouvira o comentário de Maks, pois ficou claro que segurava um sorriso, embora o olhar se mantivesse fixo em sua vigília.

      —Por isso ele não usa uma roupa igual a de vocês? Por ser normal?

      — Não. Ele não usa porque, com aquele tamanho todo, não temos uma jaqueta dessas que caiba nele. Aí improvisa. – Voltou a olhar na direção de Maks. – Tem muita coisa que você precisa saber ainda. Estamos indo para nossa base agora. Podemos discutir tudo lá, será melhor.

      Inesperadamente, abarriga de Maks roncou forte, um som que ressoou alto, ecoando naquele ambiente fechado. Misaki, ainda em seu posto de guarda, reprimiu novamente o riso enquanto o dono daquele estômago faminto ficou sem graça, colocando uma das mãos sobre a barriga. A garota, por sua vez, ignorou o peculiar som produzido, assim como Aleksei, que se manteve impassível.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora