Capítulo 22 - CORAGEM

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     Ela caminhava com dificuldades em direção à entrada da Clínica Kihara. Apesar de não querer admitir, sua idade já pesava um pouco, fato que ficava ainda mais evidente em momentos como esse, que pedia um pouco mais de vigor físico. Seu filho a amparava pelo braço, sendo extremamente cuidadoso em conduzi-la a cada passo.

      Uma prestativa enfermeira havia trazido uma cadeira de rodas até próximo à porta do carro, logo que desembarcaram. No entanto, com um gesto altivo, a mulher fez questão de ignorar a presença dela. E ainda resmungou algumas palavras, parecendo estar ofendida, desaprovando a idéia de entrar naquele lugar sentada como uma doente. Afinal de contas, tinha apenas torcido ou quebrado o tornozelo, não era necessário todo aquele exagero. Podia muito bem entrar manquitolando sobre suas próprias pernas.

      E assim o fez, apoiada nos ombros do filho, mas de pé, mancando até cruzar o umbral daquelas portas envidraçadas.

      No entanto, sua teimosia acabou sendo vencida quando o próprio filho passou a insistir no pedido inicial da enfermeira. E com ele se tornando um pouco mais insistente que a discreta profissional da clínica, a teimosa senhora finalmente cedeu, sentando-se na cadeira de rodas. Atitude que a fez engolir um pouco de seu orgulho, bastante descabido naquela situação, diga-se de passagem.

      O fato é que, sentar-se na cadeira de rodas não lhe deu apenas mais mobilidade. Mais importante que isso, sentar-se naquela cadeira acabou salvando sua vida.

      Na rua, gritos de medo começaram a ser ouvidos. E, junto a esses gritos de desespero, se sobressaíam brados mais selvagens, que não pareciam se originar de gargantas humanas.

      Nômades.

      Mãos monstruosamente poderosas se agitavam pelo ar numa fúria enlouquecida, destruindo tudo o que tocavam com seus golpes descontrolados. Carros estacionados eram erguidos no ar, voltando ao chão tombados. Postes de energia também eram derrubados, com golpes com as mesmas mãos. Qualquer coisa que estivesse ao alcance deles, em seu caminho de destruição, era despedaçada ferozmente. Pessoas corriam em pânico para todos os lados, procurando se afastar daquelas pessoas ensandecidas e absurdamente fortes.

      Sem ter quem os parassem, aqueles três Nômades continuaram seguindo ao longo da rua, num trajeto de destruição sem rédeas.

      O último deles, porém, acabou fazendo um pequeno desvio, entrando pelas portas abertas daquela clínica.

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      Enquanto seguiam em direção àquela área residencial, Dmitri não perdeu tempo e começou a disparar, descarregando a pistola. Pretendia colocar o tronco inteiro para fora do carro e usar as duas armas ao mesmo tempo, mas o vidro daquele lado, por diversas vezes, encontrava um problema em descer totalmente. Exatamente, como agora.

      Um problema que sempre esqueciam de consertar.

      Apesar do balanço do carro e dos movimentos desconcertantes de seus alvos, os disparos foram precisos. Sete tiros e sete criaturas caíram no chão, abatidas.

      Da outra janela, com o vidro totalmente aberto, Mikhail havia conseguido colocar metade do corpo para fora. Apontou suas armas, mas nem teve tempo de disparar.

      Como se não bastasse a leve trepidação e a dificuldade para mirar em alvos móveis, os Nômades para quem ele mirava caíram todos, um a um, antes que ele tivesse a chance de apertar o gatilho.

      Quando Dmitri perdeu alguns instantes ao trocar as armas de mãos, passando a que estava carregada para sua direita, Mikhail tentou focar nas criaturas restantes, procurando abatê-los antes dele.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesWhere stories live. Discover now