Legado da Destruição - Caçadores de Nômades

Capítulo 15 - O QUE SÃO OS NÔMADES?

       Era o momento. Se Maks quisesse se ver longe daquela loucura toda, aquele era o momento ideal. E ele nem precisou pensar muito para dar a resposta.

      —Estou dentro – Assentiu com firmeza enquanto falava. – Só que... tudo isso que está acontecendo... os Nômades, esta missão... – Olhou com estranheza para as próprias mãos, abertas na sua frente. – Esses poderes esquisitos que a gente tem... ganhou... sei lá! É tudo muito... – Interrompendo a frase, passou as mãos agora pelos cabelos e suspirou forte. Milhares de dúvidas ainda estavam chacoalhando dentro de sua cabeça, só que ele ainda precisava mantê-las guardadas por enquanto, até que fosse possível encontrar respostas para elas. – Mas não pretendo desistir. Os Nômades têm que ser eliminados, isso está bem claro.

      —OK – concordou Aleksei com um aceno da cabeça.

      No quarto onde Kaneda se trancara, ouviu-se o barulho de alguma coisa sendo jogada na parede e quebrando. E Maks lembrou de uma outra questão.

      —Por que não obrigam o garoto a voltar para casa? – O rosto se voltou na direção do quarto fechado.

      Dmitri se dispôs a responder – Porque não sabemos onde ele mora. Ele diz que é morador de rua, o que eu não acredito muito. Mas se ele tem família, ela não está fazendo lá muito esforço para tê-lo de volta, porque ninguém procurou por ele. 

     —Mas é um bom garoto – concluiu Aleksei, com um olhar que lembrava o de um pai orgulhoso. – E corajoso demais. Caçou sozinho aquelas criaturas por um mês inteiro. Foi o primeiro a conseguir enfrentar e matar um Nômade. Um não, foram vários! Por mais errada que seja a idéia de uma criança de onze anos sair pelas ruas com uma pistola na mão, atirando naquelas coisas... Ele só precisa entender que, depois que nos reuniu, o trabalho dele acabou.

      "De qualquer forma, não seria bom ele voltar para casa agora, no meio dessa guerra toda em que estamos vivendo" – lembrou Yelena.

      —Entendo – concordou Maks, lembrando de uma particularidade a respeito dos Nômades: da mesma forma que os Caçadores conseguiam facilmente distinguir as criaturas entre as pessoas normais, o contrário também ocorria e o simples ato de serem vistos por um Nômade já era motivo para atacarem. E como o garoto também era um Caçador, se tornava naturalmente um alvo.

      Ou seja, o isolamento constante dos membros da equipe não era apenas opcional, mas necessário para mantê-los vivos.

      Maks acabou tendo uma boa segunda impressão a respeito dos Caçadores. Depois daquele susto inicial na estação de trem, simpatizou rapidamente com a equipe.

      Mas tinha a impressão de que alguns deles não levavam aquilo tudo muito a sério, como se ignorassem o nível de perigo envolvido nas caçadas. O bom-humor exagerado de Dmitri durante o confronto com a horda de Nômades, por exemplo, lhe pareceu um tanto descabido, fazendo tudo soar meio irreal, como se estivessem dentro de um filme de aventura.

      Até que foi surpreendido por uma lembrança recente de quando ele mesmo acabou soltando uma piada, referindo-se a um possível defeito nas habilidades de Aleksei.

      Pena que não dá de mandar para a assistência técnica, foi o que havia falado, em tom de brincadeira.

      E, na ocasião, não se sentiu deslocado ao usar de bom humor para extravasar um pouco a tensão, mesmo que ainda estivesse tremendo de medo pelo que acabava de presenciar.

      Teve que admitir: não levar tão a sério ajudava a enfrentar aquela realidade. Quebrava a tensão. Tornava todo aquele pesadelo mais suportável.