Capítulo 36 - IDIOMAS

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      Clínica Kihara


      Mikhail, o Caçador que acabou ficando para trás devido à superlotação do Lancer, agora acompanhava Maya em suas tarefas. O mais perto possível. Mantinha-se afastado o suficiente para não atrapalhar enquanto ela lidava com os pacientes, mas sempre voltava a se aproximar durante os intervalos entre os atendimentos.

      A conversa entre eles foi bastante divertida e, como sempre, regada a um acentuado tom de flerte. Uma forma de se conhecerem melhor, que, infelizmente, acabava sendo um pouco prejudicada pela barreira do idioma.

      Com Mikhail não conseguindo entender nenhuma palavra de japonês e Maya tendo o mesmo problema com as expressões em português, a única saída havia sido apelar para uma terceira língua que fosse ligeiramente compreensível aos dois.

      E por incrível que pareça, esta nova língua de semi-compreensão mútua passou longe dos tradicionais inglês ou espanhol.

      Acabaram escolhendo o coreano.

      O motivo desta escolha incomum é que os dois se descobriram fãs fervorosos de doramas, os tradicionais seriados feitos na Coréia do Sul. As conversas assistidas nesses programas estavam gravadas em suas mentes, sendo de grande ajuda na compreensão um do outro. Alguns pitacos de inglês e espanhol também eram inseridos aqui e ali, conforme a necessidade.

      E ainda tinha o acréscimo da língua em libras, mas feita de um modo bem particular a eles, sem obedecer a regras oficiais, apenas utilizando gestos óbvios que eles inventavam durante o papo.

      Ou seja, numa análise bem abrangente da situação, tratava-se de um russo português e de uma japonesa conversando num idioma que era uma mescla de coreano, com toques pontuais de inglês e espanhol, acompanhado de uma língua gestual bem rústica.

      Uma bela salada de idiomas.

      E o mais inacreditável é que eles conseguiam se entender perfeitamente.

      Depois de avisar Maks através de uma ligação mental que demoraria um pouco a retornar, acrescentou também que não queria ninguém invadindo sua mente.

     Lá da base, o mais novo integrante dos Caçadores concordou com o pedido (que mais parecia uma ordem) e assim o fez, assegurando-o de que, logicamente, o deixaria em paz.

      E as horam voaram de maneira frenética enquanto aquele casal interagia pelos corredores vazios daquela ampla clínica.

      Ao perceber aquele avanço das horas, Mikhail se viu obrigado a se despedir dela para voltar à base. Como não pretendia chamar nenhum dos companheiros para buscá-lo, teria ainda pela frente um longo e demorado caminho para trilhar de volta, a pé. 

      Mas Maya o tranquilizou. Bastaria esperar mais alguns minutos que seu plantão terminaria e ela poderia levá-lo pessoalmente. Havia pego seu carro da oficina naquele mesmo dia e estava até ansiosa para mostrar o que fora feito nele. Sabia que o Caçador iria gostar.

      Terminado o plantão, Maya tomou um rápido banho e trocou de roupa, fazendo sair de cena seu impecavelmente branco uniforme de enfermeira, sendo substituído por uma combinação de roupas que protegia melhor seu corpo do frio; com exceção de seus membros inferiores, que tiveram que se virar com ainda menos tecido para cobri-los.

      Deixaram o prédio da clínica e caminharam em direção ao estacionamento, com Mikhail sendo extremamente cavalheiro em permitir que ela seguisse à frente dele; apesar da dificuldade hercúlea que teve em desviar os olhos daquela voluptuosa mulher que o guiava por entre os carros, com aqueles passos graciosos e quadris ondulantes.

Legado da Destruição - Caçadores de NômadesOnde histórias criam vida. Descubra agora