CAP.41 - Filho da chuva.

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Em um impulso Rick se aproximou da menina, que se encolheu em sua cama por instinto.

— Desculpe, desculpe. — Lágrimas escorriam no rosto do príncipe.

Pude ver pela fresta da porta que ela olhava fixamente para o seu rosto, percebendo todas as feridas oriundas das batalhas travadas na ilha Paradiso.

— Eu sei que você não podia, desculpe por falar isso. — Respondeu a menina. — Mas mesmo assim eu queria que você acabasse com tudo aquilo, que me salvasse. — As lagrimas voltavam a correr soltas pelo rosto da menina e para mim aquele dia tinha que terminar. Fui silenciosamente para a minha cama no Quebra-ondas e finalmente chorei por Agnes.

Apesar do amanhecer, me mantive preguiçosamente na cama até ouvir gritos, que fizeram com que toda a preguiça fugisse do meu corpo com um grande salto. Travei uma corrida maníaca até o convés e lá ví Buks e Ulthred carregando Cielo no colo, onde o mesmo gritava ordens a respeito do concerto do Quebra-Ondas. Alguns Vikings, misturados a piratas trabalhavam seguindo as ordens do mago azul, enquanto um rapaz sem uma das pernas moldava peças em madeira.

O humor era diferente, realmente o belo Sol havia feito sua magia, porém o príncipe não estava ali.

Senti a mão de Alfred em meu ombro, e um caloroso sorriso incentivou o meu humor. Peguei os machados gêmeos e fui ajuda-los da melhor forma que pude.

O dia correu rápido, enquanto os navios rebocavam o Quebra-ondas e no final vimos alguns sinais de melhoria. Sabia que se Abil estivesse ali, o navio já teria sido corrigido, porém, ele se mantinha desacordado por causa das batalhas.

No terceiro dia, o Quebra-ondas já tinha condições de navegar de uma forma mais decente, a única coisa que faltava era a vela, que tinha sido mal costurada por uma escrava na ilha Paradiso, Alfred disse que conseguiríamos uma vela na Ilha da Solidão, pois o trabalho artesanal era muito forte alí.

Com tanta coisa acontecendo, tínhamos ido apenas ao local onde a princesa Lorraine havia nos oferecido um banquete e ainda não tínhamos feito um reconhecimento da ilha. Ao pensar nisso lembrei-me da explicação a respeito de um local onde o mundo joga os seus incapazes. No momento achei aquilo um absurdo e ao olhar a força de vontade de Cielo em ajudar, mesmo com sua atual limitação, decidi um dia quebraríamos aquele paradigma. Mas isso podia esperar.

O pirata continuou a nos dar detalhes a respeito da ilha, dizendo que a mesma era patrocinada pela Ilha de Nosso Senhor. Ele tentou me explicar quem era esse tal senhor.

— Um Deus. — Disse ele com escarnio. — Que não possui nome e apenas gosta de castigar quem o ama. — Alguns soldados de Lorraine estavam próximos e olharam para o pirata com cara feia. — Parece que ele teve um filho e que pregaram o rapaz na cruz. Onde já se viu, imagina se fazem isso com Thor? Ele ia explodir o mundo em trovões! — Thomas fazia uma mão bater na outra para fingir um som de trovão, enquanto o anão perdeu a paciência com aquele papo de religiões. Já eu, achava tudo aquilo incrível, pessoas com poderes gigantescos, capazes de criar mundos e molda-los a sua vontade. Quem não gostaria desse tipo de poder?

— Talvez tenhamos problemas nessa ilha. — O anão interrompeu o devaneio do prateado. — Eles se chamam de reino e isso quer dizer que eles possuem um rei.

— Exato pequeno. — Alfred veio e trouxe um prato repleto de pães e peixes salgados que nos ofereceu enquanto falava. — Apesar da doce Lorraine, seu pai é um sujeitinho complicado. Com certeza vai ser algo problemático. — Deixamos o assunto se encerrar por ali, já possuíamos muitos problemas atuais, para nos preocupar com os futuros.

No final daquele dia, nos reunimos para falar do rumo de nossa viagem enquanto jantávamos. Estávamos todos os tripulantes do Quebra-ondas, menos Abil e Agnes que continuava em seu quarto, Thomas, Stanley, o velho Viking e Fred, seu filho. Porém a discussão a respeito do futuro de nossa missão era mais discutida por pessoas que não faziam parte dela, do que por nós mesmos. Parecia que tínhamos sido tomados por um marasmo, por uma falta de vontade de seguir em frente, de voltar a nossa antiga vida sem problemas. Logo nós que vivíamos sonhando com aventuras.

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now