CAP.37 - A princesa do raio branco.

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A noite já era densa, mesmo assim não vimos o tempo passar. Nossos olhos ficaram presos em todas as direções em busca de qualquer vestígio. O desespero era tanto que não pensamos que nosso navio naquelas condições horrendas não conseguiria perseguir um navio mais veloz. Navegamos em círculos praticamente em busca de qualquer sombra, qualquer alma viva em todo o oceano, mas nada encontramos, e quando o desanimo tomou a todos nós decidimos que seria hora de voltar. A visibilidade já era quase nula, seria inútil permanecer.

Apontamos para a ilha da Solidão e a perseguimos até o momento em que fogueiras distantes começaram a indicar a sua posição. Conseguimos perceber os navios dos vikings e dos prateados já estavam aportados lá, porém, existia um belíssimo navio branco com uma gigantesca cruz bordada em sua vela. Aquilo nos causou algum estranhamento, tendo em vista que todos os navios que havíamos visto até o momento possuíam o sol de Soleria bordado, porém aquele era diferente.

Thomas segurou a corda que prenderia Quebra-ondas ao porto, e quando questionado pelo anão apenas fez um sinal de não com a cabeça.

— A bandeira cristã? — Perguntou o viajante.

— A princesa está aqui. — Respondeu o irmão.

— Princesa? — Perguntei.

— Lorraine, do raio branco. Acredito que ela está preparando um grandioso jantar para lhes receber. — Comentou o prateado, com desanimo na voz.

— Não estou com animo para isso. — Respondeu Rick, pulando do navio para o porto.

— Príncipe, eu sei que não é o melhor momento, mas o exército cristão é capaz de superar os vikings em números. É de uma importância absurda o bom relacionamento com eles. — Achei engraçado o indomável Thomas o prateado se referir com algum respeito a Rick. A imponência de nossos feitos pedia esse tipo de comportamento, de todo o tipo de homem.

— Tem carne? — Perguntou o anão.

— Dos três tipos. — Respondeu o pirata com um rápido sorriso. — Dos que voam, dos que andam e dos que nadam. — O príncipe olhou para o anão que apenas deu com os ombros, depois se voltou para mim.

— Thomas está certo, precisamos manter nossa missão apesar de qualquer coisa. — Disse até com certa frieza. — Além do mais, não me lembro de ter comido nada hoje.

— Eu também não. — Resmungou Buks, com a mão na barriga.

Pude ver nos olhos do príncipe que seria um daqueles momentos em que o cargo posto em seus ombros valia mais do que sua personalidade. Mas somos soldados e antes de qualquer coisa, tínhamos a missão de convocar o exército do mundo para a guerra contra o mundo inferior. E ao me olhar novamente, o príncipe entendeu o que deveria ser feito.

— Ok, vamos nesse banquete. — Quase murmurou. Bom pelo menos o corpo dele esteve lá.

Foi a primeira vez que eu vi a dona do raio, Lorraine, a bela e doce princesa branca. Nunca imaginei o quanto ficaria amigo dela, o quanto gostaria daquela mulher. O destino é algo inexorável. Foi naquele dia, mesmo que eu nunca tivesse visto o príncipe em pior humor, que a princesa se apaixonou por ele.

Nos limpamos, afinal a menina era uma princesa. Não poderíamos ir fedendo a sal e suor. Buks era o mais empolgado, não com a realização de nossa missão, mas com a possibilidade de comer carne vermelha. Passamos longos dias comendo apenas peixes, praticamente desde a ilha nórdica que não comíamos nada a não ser os malditos peixes, como o anão os chamava. Ulthred demorou um pouco mais, queria deixar a armadura de chumbo e esmeraldas brilhando, até porque, ele também era um dos príncipes inferiores do arquipélago do escudo. Apesar das caretas de Alfred, a respeito do pupilo utilizar aquela armadura em um evento como aqueles, o viajante apenas resmungava que era um soldado de chumbo antes de qualquer coisa.

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now