Cap. 02 - A Fenda

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- Então nosso bisavô, o maior mago de Soleria, Gaiga do Dragão Branco, era um chato? Perguntou Arthur, quase magoado com o que eu acabava de dizer-lhes.

- Na grande maioria do tempo, sim! - Afirmei com um sorriso. - Mas ele tinha seus momentos bons.

- Mas Rick o odiava! - Respondeu Elric com desdem.

- Meu pai acabou sendo uma das pessoas que Rick mais respeitou em sua vida. Posso até dizer que eles ficaram amigos no final.

- Como? - Perguntou JP.

- Se me deixarem contar o resto da história irão saber. - Respondi, recebendo uma careta do pequeno. - Para continuar a história, eu preciso explicar-lhes uma coisa: existe uma magia chama "recolhimento de memórias", ela consegue fazer com que quem a pratique consiga ler as lembranças de uma pessoa com quem teve algum tipo de contato. É muito usada atualmente nos interrogatórios, o que a faz ser mal vista por todos os não praticantes da magia branca. Para falar a verdade, é uma das magias mais simples, porém perigosa. Acabei usando essa magia em alguns de meus companheiros ao longo do tempo e sou capaz de selecionar memórias ao meu bel prazer, como por exemplo tudo o que eu contarei agora.

Duas pessoas montadas em belos cavalos cruzavam a Floresta do Desconhecido, um vasto pântano ao norte de nosso reino, habitado por répteis e outras formas de vida asquerosas. Precisariam ainda cruzar a Tribo Élfica e depois seguir para o Leste até chegar ao seu objetivo.

Já haviam feito um dia inteiro de viagem, e ainda faltava bastante para chegar ao lar dos elfos. O Sol era intenso e a paisagem naquele momento não era das mais belas.

-Está calor, não é? – O cavaleiro que se mantinha a frente e era consideravelmente maior do que o outro, disse. – Odeio calor, ainda mais com essa roupa, fico todo suado. Que nojo. – Continuou sacudindo as mãos. – Prefiro frio, quando o tempo está gelado é só se cobrir que você consegue se esquentar, agora com esse inferno de tempo, não tem o que ser feito. Tempo maldito, odeio calor. Eu já falei isso, não é?

- Acho que é toda essa gordura que você tem na barriga. - Respondeu o outro cavaleiro, sendo rapidamente olhado pelo maior. - Estou brincando! - Disse animado.

- Engordei um pouco, não foi? Também, o que posso fazer? Não tem um movimento em nossa casa, fico entediado e o que acabo fazendo?

- Devorando tudo o que encontra pela frente.

- Muito engraçado! - Respondeu o cavaleiro maior com desdém. - Olha esse Sol... não tem uma gota de água em lugar algum.

- Óbvio, você bebeu o seu estoque e o meu! - O cavaleiro menor praticamente berrou a acusação.

- Vou morrer desidratado! Tenho certeza disso! Minha boca tá seca, como se tivessem colocado areia nela. - Respondeu o maior, sendo ignorado pelo outro.

Mais ou menos no meio da manhã seguinte, já conseguiam enxergar a gigantesca parede de espinhos que defendia a única passagem do reino para a parte de fora. Havia sido erguida pelos elfos a centenas de anos e era difícil de ser superada, pois, além das folhas em forma de navalha, que cortavam mais do que as melhores espadas, existiam plantas venenosas capazes de deixar imóveis qualquer um que quisesse adentrar. Aquilo a muito fora bastante útil, porém, há alguns anos ninguém passava por ali.

A Fenda tratava-se de um gigantesco portão feito de madeira e pedra, que era trancado por raízes imponentes. Abri-la era uma arte que apenas o líder da guilda tinha controle, e dependia de uma sequência perfeita de elementos, caso errada, culminaria no fechamento eterno da abertura. Aquilo era uma preocupação de um dos cavaleiros, pois fazia bastante tempo que não era aberta e com a morte do antigo líder da guilda verde, tinha medo que com ele o segredo tivesse sido perdido.

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now