CAP.36 - Desespero.

1 0 0
                                    

O álcool tirou nossos sentidos. O barulho das duas tripulações tirou nossa atenção, os risos altos tiraram o nosso alerta. Fomos atacados abertamente e não percebemos, partimos em todas as direções, a chuva cada vez parecia pior aumentando o nosso desespero. Mais uma vez fazíamos uma busca desesperada por Agnes.

A madrugada se espalhou lenta e turbulenta, pegamos alguns vikings e alguns bons piratas prateados, caso encontrarmos o inimigo, só esquecemos que nosso nível de interação com esses soldados era praticamente nulo. Nosso navio quebrado praticamente se arrastava pelo mar, enquanto o humor do príncipe piorava a cada instante.

O mais racional de todos nós foi Ulthred, que criou o plano de nos separarmos, deixando Abil e Cielo no navio prateado aos cuidados de Stanley. Foi dele a ideia de nos encontrarmos indiferente do resultado no final do dia na Ilha da Solidão. Não foi falado ao certo, mas tínhamos uma missão a ser realizada. Não poderíamos perder tempo em uma busca alucinada pela menina.

O anão permanecia na proa ao lado do príncipe e mesmo tendo aversão a água, a chuva parecia ser o de menos naquele momento. Era um fato, depois de tudo o que passamos juntos, não podíamos perder nossa amiga.

Nos primeiros raios do dia, a chuva parou e deixou o mar um pouco mais calmo, aumentando a nossa velocidade. Era um dia bonito, pudemos ver até alguns golfinhos, mas nem isso alterou o nosso humor. A cada instante que se passava, nosso nervosismo era maior.

— Como que ela sumiu sem ninguém ver? — Era a trigésima vez que o anão fazia aquela pergunta. — Será que ela caiu no mar? Com a chuva seria difícil de encontra-la — Eu já havia me questionado sobre aquilo, mas Agnes era forte, ela conseguiria algum modo de chamar a nossa atenção.

— Eu falhei com ela. — Disse num sussurro o príncipe.

— Nos falhamos. — Respondeu o anão.

— Não, eu falhei com ela. Eu prometi que iria protegê-la para sempre e agora ela some embaixo do meu nariz.

— Nos vamos encontra-la! — Berrou o anão.

— Vamos. — Disse o príncipe em um pequeno sorriso para o amigo. — Vamos encontra-la e vai haver sangue, Buks! — A expressão do príncipe era maligna, assustando no primeiro momento o anão. Mas em seguida Buks sorriu descendo lentamente a mão em seu machado.

— Isso com certeza! — Berrou o anão segurando com força o cabo do machado e rapidamente largando-o. Suas mãos estavam tão machucadas pelo uso da magia, que era inviável para ele segurar qualquer coisa. Seu processo de cura era mais rápido e em um ou dois dias já estaria apto a utilizar o machado novamente, mas aquilo se revelou mais uma preocupação impressa na face do príncipe. Seu principal guerreiro tinha uma limitação daquela. — Eu simplesmente não consigo. — O anão pareceu ler seus pensamentos. — Eu já tentei de todas as formas possíveis dominar o dano do fogo, mas eu simplesmente não consigo. Eu sei que é uma magia primaria, controlo chamas muito mais avançadas do que isso, mas eu simplesmente continuo a me queimar. Minha mãe disse uma vez que meu fogo parece ser diferente dos outros, mas acho que ela falou isso apenas para me consolar.

— Vamos resolver isso também, bola de pelos. — Respondeu o príncipe colocando a mão no ombro do anão.

Eu permanecia na beirada do navio olhando para todos os ângulos, porém, tudo o que eu enxergava eram os tons de azul entre o céu e o mar. Gaivotas davam voos rasantes em busca de alimento, e um cova-rasa começou um inútil trabalho de pescaria, tendo em vista que a hora do almoço se aproximava, mas no primeiro lançamento da isca ao mar, perdeu carretel, linha, anzol e chumbo, irritando um Viking mais experiente. Lembrei imediatamente de Cielo e das palavras de Stanley a respeito das sequelas que ele poderia ter. Não é mistério a ninguém que eu nunca fui muito chegado a ele, mas naquele momento estava preocupado. Por mais que não fossemos amigos, sua lâmina era necessária para o nosso objetivo, ele era um ótimo guerreiro.

Achei engraçado que como no inicio de nossa missão, tudo já havia dado tão errado. Perdemos metade de nossa tripulação, mas o que achei pior foi o mundo que nos foi apresentado. Um mundo de escravidão, onde a vida de uma pessoa valia menos do que uma moeda de um metal qualquer. Lembrei-me do Jarl da ilha nórdica e de seu egoísmo, para com nossa causa. Como as pessoas poderiam ser assim. Aquele não era o mundo para crianças que desejariam ser lendas e sim para pessoas que sabiam lidar com ele. Precisávamos crescer rápido, deixar os sonhos de lado e aprender as regras do jogo. 

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now