Soleria - A Canção de Dama Lua

CAP. 40- A revolta de Alfred.

Pude olhar os rostos das tripulações de Alfred e de Thomas, e os mesmos compartilhavam do nosso sentimento. Por mais que não soubéssemos o nome de cada um deles, já éramos irmãos de escudos, mesmo o prateado não tendo feito o seu juramento, eu via a solidariedade em seus rostos.

— Deixe-nos vê-la. — Eu disse. E novamente velho guerreiro abaixou a cabeça.

— Está bem. — Respondeu ele, balançando a cabeça.

Subimos a bordo do navio e tanto os Cova rasa, quanto os Vikings nos olhavam com respeito. Até Fred, filho de Alfred que eu detestava, com sua corja nos fez uma pequena reverência. Éramos guerreiros vindos da batalha, tentando recolher um amigo caído, aquilo era a irmandade do escudo, o sentimento compartilhado, o respeito e a honra correndo no peito de todos.

Ele nos levou a uma cabine que possuía até algum luxo, possivelmente deveria ser o seu próprio quarto, e lá estava ela. Vi suas roupas manchadas de sangue jogadas no chão e só aquilo era uma visão assustadora. Ela estava banhada, porém todos os machucados que possuía fizeram nosso coração chorar. Lorraine estava ao lado da cama e ao ver o príncipe entrar no cômodo ficou corada, fez uma pequena reverencia e saiu em máxima velocidade.

Eram feridas cruéis feitas não para matar, mas sim para deixar marcas para que não só ela, como todos nós, nunca nos esqueceríamos de nossa incapacidade de proteger os nossos próprios companheiros. As pessoas na ilha Paradiso nos chamavam de heróis, eu particularmente achava aquilo ridículo naquele momento, estávamos longe disso.

A menina acordou com um grito arrepiante, a alma expressando o pânico ao nos ver em seu quarto improvisado. Ela se esgueirava na cama enquanto puxava cobertas, as lagrimas corriam soltas, tamanho era o seu desespero. Não poderíamos ter ideia do que haviam feito com ela, mas para uma menina forte como Agnes aquilo era um sinal.

O príncipe tentou conforta-la, mas ela se debateu feito um animal encurralado, até acertar um chute na cara de Rick e arrancar um fiapo de sangue de seus lábios. Alfred apenas assistia a cena, pude notar uma lágrima correr seu rosto triste.

O vi sair do quarto e aproveitei para ter a minha deixa. E chegando ao lado de fora vi o pranto se soltar de sua alma.

— Eu não consigo parar de imaginar, se fosse minha filha. — Ao falar disso lembrei-me da minha possível esposa, da noite ao qual eu arranquei um beijo e assim me tornei meio parente do Viking. — Se fosse minha filha, nem o mundo inferior serviria de esconderijo para esses filhos da puta.

— Haverá volta. — Respondeu Thomas. — Se encontrarmos Brown e sua corja, pode ter certeza, que nem cinzas sobrarão deles — Disse ele batendo em meu ombro. — Bonito cordão. — Disse ele com um leve sorriso. — Lhe venderam em alguma estalagem? — Disse ele piscando para mim, irritando assim o seu antigo mestre.

— Não dê atenção a esse pirata, filho. Nos campeões do Thor, não devemos atenção ao lixo do mar. — Disse Alfred me puxando para o seu lado. Ele havia me chamado de filho, não me lembro da ultima vez que meu pai me chamou assim.

— Isso porque eu era o melhor aluno. É como dizem, o aluno é a cópia do professor. — Resmungou o pirata.

— Ninguém nunca disse isso seu idiota! — Respondeu o Viking com uma grande risada limpando as lágrimas, sendo seguido pelo pirata. Porém, alguns instantes depois, ambos voltaram a fechar a cara um para o outro.

A tripulação de Thomas cuidava de nossos ferimentos, enquanto Alfred e Ulthred conversavam no convés.

Todos pareciam emocionalmente abalados. Enquanto eu não sabia o que sentir. Simplesmente não sabia como chorar e outra coisa que eu era incapaz de lembrar foi a ultima vez que o fiz. Eu sabia que nossa situação era drástica, sabia que tudo aquilo colocaria nossa missão em perigo e o pior, sabia que nem todos os meus amigos voltariam para Soleria vivos. Mas eu acredito que ainda estava paralisado de medo de todas as ameaças que o mundo nos oferecia. E percebia como éramos ingênuos em nossa amada ilha.