Dantálion [COMPLETO]

39.

Mergulhado num sonho que se desfaria a qualquer momento, ele sente a mão de seu pai em suas costas, o guiando de volta ao Palácio. Seu corpo parece ser feito de nuvens, sem sentidos, sem consciência. Ele caminha, nem mesmo sentindo o chão sob seus pés.

Ao virar o rosto, porém, sua visão periférica capta algo que atrai sua atenção.

Dantálion.

O garoto está mais pálido que de costume, agachado, usando uma das mãos para se apoiar no chão. A outra mão aperta seu pescoço enquanto convulsões violentas ameaçam derrubá-lo. Seu corpo arqueja, a boca abrindo e fechando em busca de ar, sufocando. Seus olhos estão fixos na mulher morta, e, mesmo à distância, é possível sentir o terror indescritível em seu olhar.

O Sacerdote tem o impulso de correr até ele e ajudá-lo, mas a mão de seu pai em suas costas o faz lembrar que não pode se denunciar agora, não depois de ter tirado uma vida justamente em nome de sua segurança. Seria pior ainda se tudo aquilo fosse em vão.

Olha uma última vez para Dantálion, na esperança de que ele o veja.

Mas o garoto mantém o olhar vidrado na direção da guilhotina, arfando como se não conseguisse respirar, dobrado sobre si mesmo, apoiando-se no chão.

Tudo que o Sacerdote pode fazer é desejar que ninguém o note.    

O próximo capítulo é bastante longo, mas é um dos mais importantes de toda a história. Espero que gostem e não se importem com o tamanhão dele (é um dos meus favoritos).