20.

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A ansiedade lhe dá dores de estômago. Já faz meia hora que está esperando, e nada do garoto aparecer. Talvez ele nem mesmo venha. Foi uma péssima ideia acreditar que ele acabaria aparecendo no mesmo lugar de antes.

O Sacerdote resolve se sentar, encostado na árvore em que subira da última vez. Espera alguns minutos, ouvindo o silêncio reconfortante da mata. Espera mais alguns minutos. Seus olhos começam a pesar, seduzidos pela calmaria e frescor verdes do ambiente vazio e úmido. Sem lutar, ele se entrega às imagens confusas e sem sentido que vão se formando em sua mente, fazendo-o esquecer aos poucos a ansiedade, esquecer aos poucos o medo, até que se esquece da floresta e de tudo o mais.

Quando abre os olhos, o garoto está à sua frente, os braços cruzados sobre o peito, aquele olhar sarcástico com as sobrancelhas erguidas.

- Parece que alguém andou cochilando...

- Eu... Faz tempo que você está aí?

- Só o suficiente para te ver babando como um retardado.

- O que é um retardado?

- Olha, garoto, – ele ergue a mão num gesto para impedi-lo de falar – eu sei que você deve ter muito para me perguntar, e eu tenho muito pra te dizer. Mas uma coisa é certa: este não é o lugar. Precisamos encontrar um lugar seguro, principalmente agora, que você resolveu tirar a soneca da tarde aí, onde qualquer um pode ter te visto. Eu realmente estou correndo um risco desnecessário com você. – ele leva uma das mãos à testa - Sério, ou você para de fazer essas idiotices ou eu serei obrigado a nunca mais falar com você.

- Me desculpe.

Dantálion solta um riso de desprezo.

- Desculpe?! Você acha que vai adiantar pedir desculpas quando eles estiverem colocando uma corda no seu pescoço? Ou no meu?!

- Eu só... Dormi um pouco. Que mal há nisso?

Numa explosão de raiva, o garoto agarra sua túnica, erguendo-o alguns centímetros do chão em que está sentado.

- Que mal há nisso? É sério?! Você vive num lugar em que há uma lista de crimes idiotas puníveis com a morte, como olhar dentro de uma porta, e você me pergunta que mal há nisso? Eu vou dizer pela última vez: ou você para de arriscar nossas vidas à toa, ou eu nunca mais falarei com você, entendeu?

- Mas...

- Você entendeu?!

Dantálion o fulmina com o olhar.

- Entendi! – diz o Sacerdote, quase sem voz.

- Então me responda: você vai parar ou não?

- Eu acho que...

- Você vai parar ou não?! – grita Dantálion, sacudindo-o violentamente.

- Vou!

Ele o solta de uma vez, deixando seu corpo atingir o chão com força.

- Ótimo. – diz, mudando completamente de tom – Vamos procurar um lugar.

E caminha floresta adentro.    

    

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Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now