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E no final do dia, o relógio bate a vida embora.
As coisas não são como eram antes,
Você nem mesmo me reconheceria mais.
Eu tentei tanto, e cheguei tão longe,
e no fim, isso nem mesmo importa.
Eu tive que cair, e perder tudo,
mas no fim, isso nem mesmo importa.

Linkin Park - In the End

Amarrado a uma cadeira, completamente só, ele observa a escuridão da sala subterrânea do Palácio em que havia sido jogado

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Amarrado a uma cadeira, completamente só, ele observa a escuridão da sala subterrânea do Palácio em que havia sido jogado.

O cômodo desconhecido por tantos anos o apavora, dando-lhe um pressentimento horrível de que aquele era o mesmo cômodo que havia testemunhado a tortura de Iago e sua família. Por que outra razão permaneceria escondido do Palácio?

Seu coração dispara, a ansiedade lhe dando náuseas. O que fariam com ele?

Todo seu corpo dói, a mutilação em sua orelha competindo em intensidade com o corte latejante da perna, além, claro, dos hematomas novos deixados pelas pancadas que os Surdos e os Auxiliadores lhe deram.

Por sorte, um dos Surdos era do grupo da medicina, e havia costurado seus cortes e aplicado remédios sobre as feridas abertas. Provavelmente morreria de infecção ou hemorragia caso alguém não o fizesse.

Mesmo assim, a sensação de ter sido alvo do linchamento de mais de trinta pessoas parecia prestes a rasgar seu corpo a qualquer momento. Nem mesmo sentia como se o corpo fosse dele. A dor e o formigamento são tão intensos que o amontoado de carne e pele que chama de corpo poderia muito bem pertencer a outra pessoa. E, se não bastasse isso, a dor em seu corpo também fazia companhia ao abismo em sua alma.

De fato, a sensação era a de ser apenas um monte de carne, como aquele javali enorme e morto, esperando na cozinha até que alguém o cortasse em pedaços para assar.

Era ele agora que estava naquela situação, esperando até que alguém resolvesse o que fazer com ele, menos dono de si mesmo do que os estranhos escondidos sob as máscaras.

Ele cerra os dentes, a dor pelos socos que havia levado na mandíbula enchendo seus olhos de lágrimas.

Então era aquela a sensação que Iago deveria ter sentido a vida toda, aquela sensação horrível de estar indefeso, imobilizado, incapaz de escolher o próprio destino, incapaz de acabar com o terror inimaginável que o aguardava...

Se Iago estivesse vivo, ele o defenderia. Mas sozinho, estava perdido.

Ele era, afinal, o inimigo número um dos Surdos. Sua cumplicidade era conhecida apenas pelo garoto, agora morto. O que os Surdos sabiam dele é que era um tirano, assassino em nome da Voz, e um traidor do Palácio. Se o matassem seria pouco. Provavelmente fariam coisas muito piores. Provavelmente o usariam como exemplo sobre o palanque.

Ele chora novamente, a solidão esmagando seu peito e superando todas as dores.

Todos os seus amigos estão mortos, e ele está sozinho nas mãos de seus inimigos.

A porta se abre, e uma vela ilumina o cômodo, carregada por um dos membros da Ordem dos Surdos, ainda coberto por seu disfarce.

O Surdo fecha a porta atrás de si e senta em uma cadeira à frente da sua, aproximando a vela de seu rosto para enxergá-lo melhor.

- Você pode, por favor, me explicar o que está havendo? - pergunta Lúcio, a voz carregada com tristeza - Quem é você? Malphas?! Alastor?!

- Sou eu quem faz as perguntas aqui, Sacerdote. - ele responde em tom de ameaça.

- Eu não sou o Sacerdote, nunca fui, e jamais serei. Parem de me chamar assim.

- Como devemos chamá-lo, então? Dantálion?!

A última palavra soa com cinismo, provocando uma pontada de dor em seu peito.

- Nós sabemos que Dantálion está morto, Sacerdote. Ele era Iago, aquele que você matou semana passada.

- Você está mentindo! Ele me disse que ninguém sabia o nome verdadeiro dele!

- Ele é que estava mentindo. - continua o outro, em tom incisivo - A maioria de nós não sabia quem ele era, mas alguns sabiam, sim. Ele mentiu para você, Sacerdote, e você também mentiu, tentando se passar por ele.

Lúcio abre a boca, incapaz de dizer qualquer coisa.

- Você achou que fôssemos todos idiotas, não achou? Que não sabíamos quem você era de verdade?

- Se vocês sabem quem sou, então sabem que eu fiz tudo isso para ajudar vocês! - interrompe Lúcio, suor e saliva espirrando de sua boca.

- Nós não sabemos tanto a seu respeito, na verdade. Não sabíamos que você era o Sacerdote, mas sabíamos que alguém estava se passando por Dantálion após sua morte, e é exatamente isso que você vai explicar. Por que fez isso? Por que você o matou e assumiu sua identidade?

Um choro compulsivo toma conta de Lúcio, o ódio ardendo em sua garganta.

- Eu não queria matá-lo! - ele berra, os olhos cerrados em dor - Ele era meu melhor amigo, ele me amava, e ele queria que eu fizesse o que eu fiz! Você pode não acreditar em mim, mas isso não muda nada! Se algum de nós merecia estar vivo, era ele! Eu morreria mil vezes para que ele estivesse vivo agora! Se você quiser, pode me matar. Eu já não me importo com minha vida faz tempo! Eu só não fiz isso ainda porque jurei a ele que não faria!

O Surdo o deixa falar sem interrupções.

- O que quer que seja que for fazer comigo, faça logo! Eu não aguento mais sentir dor! Se for me matar, me mate logo! Eu não quero continuar nessa merda de lugar! Só me deixe morrer rápido! Por favor...

Quando se cala, entregando-se novamente ao choro, a figura negra retoma a palavra:

- Eu não sei o que pensar, Sacerdote. O que sabemos é que você tem oprimido o povo a cada dia mais, e que matou Iago e assumiu o lugar dele entre nós. Além disso, você confessou hoje que foi o assassino de seu próprio pai e do Auxiliador da Justiça. E, se bem me lembro, foi justamente um de nós que propôs o assassinato, o que me leva a crer que você era Moloque.

Lúcio olha para ele com sinceridade, a tristeza rasgando seu rosto.

- Eu não sei se vocês acreditarão em mim, mas, por favor, eu contarei toda minha história, e responderei todas as perguntas que quiserem, e então vocês poderão decidir o que farão comigo. Apenas me escute, mesmo se achar que estou mentindo. Eu preciso dividir isso com alguém. Eu preciso que alguém mais saiba o que aconteceu.

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Dantálion [COMPLETO]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin