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Encontram uma pequena clareira, escondida por uma elevação, bem ao lado do rio. O som das águas correndo silencia todos os outros sons, fazendo do esconderijo um lugar perfeito para conversarem sem serem ouvidos. Um tronco gigantesco, caído provavelmente há muitos anos, cerca um dos lados da clareira, podendo servir tanto como abrigo quanto como apoio.

Dantálion senta sobre o chão, gesticulando para que o Sacerdote sente à sua frente.

- É importante que sempre fiquemos um de frente para o outro. – diz – Assim temos visão de todos os ângulos e não seremos pegos de surpresa por ninguém. Além disso, de hoje em diante só nos encontraremos à noite, depois que todos estiverem dormindo. Não devemos mais nos falar durante o dia, e você não deve sair do Palácio enquanto os Auxiliadores estiverem acordados.

O Sacerdote acena com a cabeça diante da esperteza do outro.

- Antes de mais nada, - continua Dantálion, esfregando as mãos nas calças – eu preciso esclarecer algumas regras com você. Regra número um: acho que você deve estar ciente de que não deve falar sobre mim para ninguém, mas vou reforçar para garantir que você não esqueça. Número dois: eu responderei suas perguntas, mas algumas coisas não poderei dizer por enquanto, não me pergunte por quê. Três: se algo der errado, não importa o que seja, nunca mais venha aqui, e nunca mais me procure. E quatro: nós podemos até ser amigos um dia, mas existem coisas mais importantes que nossa amizade, como nossa segurança. Eu quero que você jure que, se algo acontecer com um de nós dois, você vai fingir que nunca me conheceu. E eu farei o mesmo.

O Sacerdote jura.

- Ótimo. Agora, vamos às perguntas. Você deve ter um monte. Por onde quer começar?

- Dantálion não é seu nome de verdade, é?

- Para você, é. Próxima pergunta.

O Sacerdote lhe atira um olhar de raiva, zangado com a resposta atravessada.

- O que foi? – pergunta o outro - Achei que eu tivesse acabado de deixar claro que não responderei todas as perguntas agora.

O Sacerdote suspira. Lidar com aquele garoto é mais difícil do que tinha imaginado. Por que ele se submete a isso?

- Então, algum dia eu saberei o seu nome verdadeiro?

- Não.

- Por que não?

- Regra número dois.

- O quê?

- Regra número dois: não responderei todas as perguntas, não me pergunte por quê.

O Sacerdote se levanta, irritado.

- Você vai responder alguma coisa que eu perguntar?!

- Sim, desde que você pare de perguntar o meu nome.

Ele se senta novamente. Respira fundo, e lança outra pergunta:

- O que é Deus?

Dantálion arregala os olhos, sorrindo de perplexidade.

- Eu vi essa palavra num poemas...

- Poema.

- Você vai me responder ou vai só ficar me corrigindo?

O garoto toma um longo fôlego, ajeitando sua posição para ficar confortável. Entrelaça os dedos à frente do corpo e começa a falar, sua voz tornando-se firme e séria:

- Deus é uma palavra antiga que ninguém usa mais. Não aqui, pelo menos. Antes de poder te explicar o que ela significa, porém, você precisa entender o que quero dizer com antiga. O que você acha que existia antes desta cidade?

Dantálion [COMPLETO]Where stories live. Discover now