LAÇOS MORTAIS | Bonkai |

51. Pesadelos e Decisões

- Bonnie, você está grávida.
Aquelas palavras não fizeram sentido nenhum. Como poderiam?
- Como assim, grávida? - perguntou Matt, franzindo as sobrancelhas louras - Ela não pode estar grávida, ela... - se calou de imediato.
Todos olharam para mim horrorizados. Exceto Stefan. Damon deve ter dito a ele o que havia acontecido antes de partir à minha procura.
Fiquei em silêncio, brincando com o tecido avermelhado do cobertor entre meus dedos trêmulos. Ninguém disse nada por longos minutos, até Genesis não sabia o que dizer naquela situação.
- Bonnie- disse Tyler, parecendo fazer um esforço enorme para controlar a própria voz - Me diga que o pai dessa criança não é quem estou pensando que é.
Minha visão começou a ficar turva, algo quente escorreu pelo meu rosto.
- Stefan - a voz de Matt também parecia alterada - Você sabia disso?
Stefan respirou fundo.
- Eu sabia o que tinha acontecido quando Bonnie ligou para o Damon naquele dia. Mas não sabia que ela estava grávida.
- O quê?! - Tyler ficou de pé - Quando ia nos contar isso?!
Stefan não se alterou. Ele sempre era assim, quase nada o tirava do sério. No entanto, como Tyler, ele parecia fazer um esforço enorme para não estourar.
- Damon me fez prometer que não contaria nada a vocês - prosseguiu - Ele pensou que já estavam preocupados demais sem isso.
- Bonnie - Matt sentou na cadeira ao lado de minha cama, suas mãos encontrando as minhas de forma firme e carinhosa - Me diga que o que aconteceu foi consensual. Q-Que Kai não a obrigou a fazer nada... Diga que ele, não... Por favor, diga que ele... - sua voz foi ficando cada vez mais incompreensível, até que eu entendi que ele estava chorando.
Não respondi.
Como poderia contar aos meus melhores amigos que eu fui estuprada. Sentia-me nojenta só de pensar em proferir aquelas palavras em voz alta.
- Damon não podia ter decidido isso sem nós! - brigou o lobo - Se não tivesse dado uma de mártir, talvez, nós tivéssemos podido ir junto e trazer Bonnie à salvo para casa há muito tempo.
- Ele só fez o que pensou que estava certo - defendeu Stefan- Eu também não queria que vocês se machucassem. Mas percebo que isso foi um erro. Bonnie sofreu por nosso erro.
Caroline ficou de pé, envolvendo a barriga de forma protetora.
- Mas isso não é possível, não é? - perguntou esperançosa - Gen, diga que você estava errada. Um vampiro não pode engravidar uma humana. Isso não é... possível.
Genesis levantou seus olhos escuros para a loura.
- Eu não erro com essas coisas- enfatizou - E além do mais, vocês me disseram que ele é um tipo de bruxo vampiro, não?
- Um herege - Matt acrescentou com uma voz automática.
- Sim, um herege. Então, ele tem uma porcentagem humana que aparentemente o torna capaz de ser fértil como tal.
- Isso é loucura - disse a loura, voltando à sentar ao meu lado, desolada.
- Não é mais loucura que uma vampira grávida de um humano - Stefan falou ainda taciturno - Isso é uma via de mão dupla, Caroline.
Tyler se aproximou da cama com uma expressão resoluta.
- Onde ele está Bonnie?- perguntou, tremendo de raiva- Eu vou matar aquele desgraçado. Mas não antes de castrá-lo com uma tesoura cega.
Matt também parecia preparado para enfiar uma estaca no peito de Kai.
- Ele... - sussurrei chocada demais para falar um decibel mais alto -... Está morto. Eu o matei. Fiquei parada lá, vendo-o queimar junto com a casa.
- Você tem certeza disso? - quis saber Matt.
- Eu fiquei lá até de manhã - afirmei - até que não sobrasse nada da estrutura.
Tyler estava tão possuído de raiva que marchou para fora do quarto, mas não antes que eu o escutasse soltar um grunhido de socar uma das paredes do corredor.
Nada daquilo estava fazendo sentido. Como eu podia ter algo tão monstruoso crescendo dentro de mim, se nutrindo da minha vida como um sanguessuga. Eu não podia estar grávida. Não podia. Era inconcebível até via imaginação.
- Pessoal, eu posso ficar sozinha um pouco?-pedi ainda em estado de choque.
- Tem certeza?- perguntou Caroline, acariciando meus cabelos emaranhados.
- Sim.
Todos começaram a se retirar, Stefan foi o último.
- Você pode fazer um favor para mim, Stefan?
- O que precisar- assinalou.
- Eu preciso de um pouco de verbena.
Pela primeira vez naquela manhã, sua expressão desmoronou. Sua boca se abriu em um pequeno O.
- Bonnie você precisa pensar melhor nisso, é só um bebê...
- Eu não quero essa coisa dentro de mim - fui firme - É meu corpo, eu decido o que fazer com ele.
- Você está abalada. Não é uma notícia fácil de receber em uma situação comum, que dirá nesse caso...
- Eu fui estuprada, Stefan! - soltei, explodindo em lágrimas - Isso não é um "caso". Eu não quero olhar pra essa criança e lembrar tudo o que o pai dela me fez! Eu não quero ser uma mãe ruim por odiá-lo! E também não quero que ele sofra por eu não amá-lo! Por favor, me entenda!
- Eu não entendo - disse, olhando para qualquer direção, menos para mim, seu maxilar travado - Eu nunca vou entender, porquê não estou na mesma situação que você. Mas antes de fazer qualquer besteira, me dê apenas um prazo.
- Eu não vou esperar- sacudi a cabeça com veemência.
- Eu não estou pedindo um mês. Apenas uma semana. Você confia em mim?
Eu ri, amarga.
- O que você acha que vai mudar em uma seman...
- Você confia em mim, Bonnie? - me interrompeu de maneira firme.
Olhei para o rapaz de olhos verdes me encarando da entrada do quarto. Apesar de aparentar ser jovem, ele era um homem com mais de três séculos de idade. Se eu confiava nele? Sim, com a minha vida.
- Você sabe que sim- me rendi.
- Uma semana. E então, você pode fazer o que quiser.
Assenti, contendo as lágrimas.