Prólogo

3.3K 205 16
                                    


Ano - 2018

POV Paul

Chego em casa depois de um dia cansativo. Olho no relógio e vejo que passam das 21:00 horas. Uau! Hoje passei muito do horário de sair do escritório. Uma sexta feira bem agitada e repleta de problemas... mas que no fim das contas, tudo se resolveu. 

Abro a porta de casa já tirando o blazer e jogando a chave do carro no aparador. Acendo o abajur e enquanto pego o controle da TV, observo o porta retrato com a foto de mais uma viagem que fizemos juntos. Vejo também a foto que estou com minha mãe. Saudades dela, mesmo morando na mesma cidade que eu, temos pouco tempo juntos durante a semana. O trabalho realmente me ocupa muito. Aproveito e verifico a secretária eletrônica, já que mesmo com redes sociais, ela ainda é a moda antiga e prefere me ligar todos os dias após o expediente para saber se comi direito e como estou. Ouço sua voz doce dizendo que também está com saudades e desejando uma excelente noite. Preciso retornar, senão vou causar uma preocupação daquelas. 

Ligo a TV no Youtube e resolvo colocar uma música que não sai da minha cabeça a dias. Ouvi algumas vezes enquanto dirigiria para o trabalho e agora fico cantarolando por aí.  Faço a busca e logo a acho. Ela está nas paradas e fazendo bastante sucesso. A música começa e começo a cantar junto:

"O que eu devo fazer sem você?

É tarde demais para catar os pedaços?

Muito cedo para se desfazer deles?

Você se sente abatida assim como eu?

Seu rosto, ele faz meu corpo doer

Isso não vai me deixar em paz.."

A letra é realmente linda e muito bem feita:

"Acho que eu deveria me acostumar com isso

O lado esquerdo da minha cama é um espaço vazio

Lembro que éramos estranhos

Então, me diga, qual é a diferença

Entre o antes e agora..."

Caminho por alguns metros e dou uma olhada no pé da escada, mas vejo que as luzes do corredor e as portas dos quartos estão fechadas. Ela realmente ainda não chegou. Pego o celular no bolso e desbloqueio. Vejo mais uma foto nossa e vou direto para seu número. Toca uma, duas, três...na quinta vez, ela atende:

- Amor! Boa noite!

- Oi querida boa noite... achei que estivesse em casa... eu só cheguei agora...

Digo isso enquanto caminho até o sofá e me jogo, colocando as pernas para o alto e sentindo aquele cansaço rotineiro.

- Eu adoraria estar em casa Paul, hoje é sexta e dia da gente começar o fim de semana juntos, já que na segunda feira vou viajar e ficaremos longe por quinze dias... mas sabe como é hospital né? Faltando cinco minutos para sair, chegou uma urgência... nem deu tempo de trocar de roupa acredita? Estava começando a passar o plantão para o médico da noite e já tivemos que correr... mas fique tranquilo namorado, eu logo estarei em casa... as coisas tranquilizaram por aqui e logo estou saindo tá? Estou com saudades...

- Eu também estou morrendo de saudades de você... nossa, ficar esse tempo longe vai ser difícil, mas entendo que você tenha que ir! É uma médica inteligente e tem mesmo que aproveitar essas conferências! O difícil é ser lá do outro lado dos Estados Unidos né rs! Quer sair para jantar? Amanhã não temos que acordar cedo e eu espero ter o fim de semana todo com você...

- Sair para jantar? Ai amor eu adoraria, mas eu estou bem cansada... já fiz mais de doze horas de plantão... mas já sei o que fazer! Vá na adega, pegue o nosso vinho preferido que vou passar para pegar aquela pizza que a gente tanto gosta. Aí quando eu chegar em casa, tomamos um belo banho na banheira e depois comemos.. .o que acha?

Escuto pessoas conversando e sei que ela está andando pelos corredores do hospital. Sinto orgulho da mulher que ela se tornou... determinada, reconhecida, amorosa com seus pacientes e uma médica exemplar. 

- Tudo bem! Desde que você me prometa que amanhã vamos sair para jantar e que você vai usar aquele vestido que comprei essa semana.

- Combinadíssimo amor! Agora vou para o vestiário me trocar e logo estou em casa. Aguenta só um pouquinho que já já estarei em aí para te mimar.

- Oba! Estou aguardando... um beijo!

- Outro amor, te amo! 

- Eu também amo você...

Desligo o celular e me ajeito no sofá. Continuo cantarolando mas logo a música muda.

Desbloqueio novamente o celular e começo a ver as minhas redes sociais. Respondo as mensagens do meu cunhado, que me convida para jogar futebol amanhã a tarde e ainda brinca que eu devo ir, já que vai ter cerveja na faixa para todos. Respondo dizendo que isso vai depender da "patroa" já que teremos o fim de semana de folga e quero muito curtir com ela. Respondo a Linda também, que manda a foto de um copo de cerveja e mais um começo de noite bem produtivo para ela. Mais do que merecido, já que trabalhamos muito hoje.

Me levanto e deixo o celular no sofá. Caminho até a adega e escolho um bom vinho. Ouço que meu celular toca uma vez mas como não deve ser nada importante, não volto para atender. Depois vou até a cozinha e quando passo pela sala, ouço que o celular não para de tocar. Vejo no visor que é um número desconhecido e continuo andando, para colocar o vinho para gelar.

Da cozinha, escuto que o toque não para e isso até me irrita. Vou a passos largos até a sala e pego o celular. Confiro novamente o número e vejo que realmente não conheço:

- Alô?

A voz do outro lado fica em silêncio e insisto:

- Alô??? 

A pessoa não responde e só consigo ouvir passos rápidos e uma porta se fechando. Uma voz masculina fala ao fundo, mas um pouco longe do telefone que a pessoa está usando:

- Alô???  Olha, para você estar me ligando assim, desesperadamente... é porque algo grave está acontecendo! Mas se você não responder, vai ficar meio difícil!

Então, depois de mais alguns segundos de silêncio, a pessoa me responde chorando desesperadamente:

- Paul, sou eu! Me ajuda por favor! Eu não aguento mais! 

A voz é muito familiar para meu ouvido e fico imóvel. A anos não a ouvia.

- O que está acontecendo?

Ouço que a porta se abre e a voz masculina também conhecida chega cada vez mais perto:

"Te achei... Eu já falei que não é para você usar essa merda de telefone!!!!!"

Ele grita e a ligação se encerra. O que acabou de acontecer aqui? Não pode ser, não pode ser!!! 




O RecomeçoWhere stories live. Discover now