32. Sinto muito

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Três semanas e meia depois...

Eu estava machucada, magoada com meus pais, confusa em tentar lidar com toda aquela imagem errada que criei deles, mas estava no caminho para a melhora. Ainda não me sentia pronta para conversar com eles, mas não tinha mais chorado. Tinha arrumado minha casa, levado Cookie ao petshop e pensava em pintar o quarto de hóspedes. Tinha começado a praticar Yoga regularmente e a concentração exigida nela me ajudou muito, assim como todos os exercícios de respiração.

Passei muito tempo na ONG com as crianças. Na última terça até comecei a dar a introdução da fotografia para a turma dos "maiorzinhoa", entre 12 e 15 anos. Eu ocupava minha cabeça e me sentia bem entre eles.  A ONG oferecia algumas atividades culturais e um espaço para as crianças ficarem enquanto os pais trabalhavam. Estava animada com as aulas.  Lilian, a moça gentil que me recebeu no primeiro dia tinha me dado espaço e adorou minhas sugestões, começaria dar regularmente aula de fotografia nas terças, e as quintas faria a hora do conto. Agora estávamos na semana do Halloween e iria fazer uma hora de conto temática amanhã, já tinha preparado algumas coisas e as crianças estavam animadas. Na sexta teríamos uma pequena festa com todas as crianças, o Halloween era só na próxima terça, mas a administração achou ruim fazer em dia de semana.

Estava indo agora ao mercado comprar alguns doces para as crianças e meus "alunos", era meio estranho dizer isso. Mas pela primeira vez em dias me sentia bem comigo mesma. Tinha que fazer algumas compras de mantimentos para minha casa, estava sendo uma adulta nota dez nesse quesito. 

 Eu escutava minha playlist no aleatório no caminho do mercado e ri quando pulou para "Lights on", eu tinha algumas músicas dele no meu celular. Não comecei a xingar o nada como na vez em que estávamos brigados e começou a tocar "Mercy" no rádio, ao invés disso aumentei o volume do rádio e cantei junto. Lembrei de todas as vezes que o vi apresentar aquela música e principalmente ensaiar, ele xingava baixinho quando errava alguma nota na guitarra, por isso estava sempre com cara de concentrado. Preferia sua voz ao vivo, era muito mais gostosa e principalmente quando ele estava sem banda, só apenas com seu violão.

(...)

A parte mais divertida das compras foi escolher os doces, tinha algumas variedades naquela época do ano no mercado. Tive que fazer a parte chata, pegar os itens da lista de compras lá de casa. Olhava com os olhos cerrados as opções de papel higiênico e escolhia se era realmente vantajosa levar o da promoção. Levantei o olhar e passei os olhos pelo corredor e então no fim dele o vi.

Não, não, não! Não, ele não! Puta merda! Ele me olhou de volta e em reflexo me agachei atrás da pilha de sacos de papel higiênicos na promoção. Será que se eu sair daqui agachada e quietinha ele percebe? Era a última pessoa que esperava encontrar e principalmente a última que queria conversar.

-Diana?! – droga fui descoberta! Talvez eu esteja convivendo com crianças demais – você ta bem?

Me endireitei, passei a mão nos meus cabelos e fingi ter dignidade.

-Carlos – respondi séria e querendo correr dali com meu papel higiênico na promoção.

-Diana – ele respondeu meu nome quase como se pudesse acreditar que estava ali. Ele estava sem barba e com o cabelo mais curto – Uau! Acho que isso é um sinal, você não sabe o quanto pensei em você nesses últimos dias.

Que deus me proteja. Amém!

Carlos tinha uma cestinha com algumas cervejas dentro e um pacote de guardanapos. Ele estava diferente do que costumava ser, a postura menos tensa, tinha tatuagens novas no braço esquerdo e ele ficava parecendo muito mais novo sem a barba.

Best Part (IWT 2ª temporada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora