Vitória tocou cada um dos pingentes, sem parar de sorrir. O colar prata com duas correntes, sem sombra de dúvidas, se tornara sua joia favorita em prazo de segundos.

— Você gostou?

— Me diga que isso foi uma pergunta retórica, por favor.

— Não está mais aqui quem perguntou.

— Ele é lindo, Em. Obrigada! — Voltou seus olhos à Ana que sorriu.

— Que bom que gostou. É para ter um pouquinho de mim com você.

— Já tem muito de você comigo, em mim.

— É isso que importa então. — Deu um meio sorriso. Um meio sorriso que não convenceu Ana. Era exatamente por isso que estava insegura e adiando essa conversa, a certeza de que não seria tão fácil. O olhar de Vitória fixado novamente em algum canto da sala, sua cabeça recostada no sofá, seus dedos entrelaçados estava fazendo seu coração acelerar e dessa vez não era por um bom motivo. Pequenas coisas que ficavam grandes em uma situação como essa. As duas palavras "sete meses" estavam ecoando na cabeça de Vitória. Não estava acostumada a passar um dia sequer sem que pudesse ter Ana ali. O máximo que haviam ficado sem se ver foram as duas semanas em que estava demasiadamente preocupada com sua pequena paciente, mas, no final, Ana estava ali com ela, lhe dando colo quando o pior acontecera. E quem estaria ali quando precisasse a qualquer hora? As outras pessoas que se importavam com ela não tinham tanto tempo disponível assim para correr quando ligasse, por exemplo, às duas horas, como ocorrera na noite passada. Mas a oportunidade que a morena tinha deveria ser aproveitada, aprenderia a lidar com a falta de seus caprichos por algo que faria Ana sentir-se realizada. Se sentiria péssima se fosse a culpada por Ana perder essa chance, jamais deixaria de apoiá-la numa hora dessa.

— Quando você vai? — Perguntou ajeitando-se no sofá de novo. Não deixaria transparecer que parte de si estava sendo egoísta por a querer em São Paulo.

— Não sei exatamente quando, sei que em breve. Tenho uma reunião para marcar.

— E o seu desfile? — Franziu o cenho. Ana estava empolgada com isso desde quando a conhecera, estranhou o fato de que sete meses longe poderia causar o cancelamento do evento que até ela passara a esperar.

— Bem, como é em breve a ida e são sete meses, volto exatamente no mesmo mês do desfile. Conto com a ajuda das pessoas da grife e do comitê, farei o possível de lá.

— Então já está tudo de caso pensando, hum? — Sorriu ao ver Ana sorrir assentindo.

— De certa forma sim, porém ainda não tinha certeza se iria.

— Por ainda não ter me falado? — Arqueou as sobrancelhas.

— Eu não iria apenas avisar você que estava pegando um voo pra Milão para ficar sete meses por lá, eu tinha que saber o que pensaria sobre.

— Vou estar mentindo se disser que sete meses longe de você por mim tudo bem, mas eu, em hipótese alguma, iria ser egoísta ao ponto de não ficar feliz por você. Uma das coisas que mais me fazem bem é ver você feliz.

— Sete meses vão passar rápido. — Sorriu apertando sua mão.

— Eu espero.

— Vamos nos falar todos os dias. Quero saber de cada coisa que acontecer por aqui.

— Pare de falar como se já fosse uma despedida, por favor. — Pediu baixo.

— Desculpa. — O canto dos seus lábios se curvou em um meio sorriso. — Me empreste seu notebook?

— Claro, está no lugar de sempre.

Ana levantou do sofá, indo até o quarto de Vitória e encontrando seu notebook sobre a escrivaninha. O pegou e voltou à sala. Vitória estava sentada do mesmo jeito ainda, novamente com os olhos fechados. A conhecia o suficiente para saber que não estava tão bem quanto parecia com a notícia. Não duvidava que estava feliz por ela, mas também não duvidava que sentia as mesmas sensações incômodas.

Sentou-se ao lado dela, a fazendo abrir os olhos e encostar a cabeça em seu ombro. Abriu seu email, procurando o último que recebera com o convite. Começou a digitar a resposta fazendo Vitória soltar um riso baixo.

— O que foi?

— Eu acho uma graça esse seu lado profissional. — Recebeu um olhar de Ana que sorriu e balançou a cabeça de modo negativo. — Mas ainda não tenho certeza se você faz roupas tão bem quanto tira as minhas.— Ana a olhou incrédula. Para quem parecia estar pensativa demais havia mudado rápido. O sorriso lascivo em seu rosto a fez fechar o notebook imediatamente e o colocar sobre a mesinha de centro.

****

O sofá nunca fora tão confortável quanto parecia estar enquanto Ana estava deitada com metade do seu corpo sobre o de Vitória e contornava a renda do seu sutiã com a ponta do indicador. A cabeça da morena estava encostada na sua, estavam em silêncio há alguns minutos e o que antes seria um silêncio totalmente comum, estava deixando as duas inquietas. Tudo parecia estar sendo como uma última vez, mesmo que ambas soubessem que ainda tinham tempo para estarem juntas, havia uma necessidade de guardar na memória cada minuto a mais que pudessem estar na presença da outra. Saber que passariam tanto tempo longe, ainda que por um tempo limitado, parecia começar a criar uma saudade que ainda era desnecessária, porém inevitável. Embora Ana estivesse satisfeita agora que seu dilema havia sumido, que sua resposta estava dada, e que a reação de Vitória não fora ruim — em partes —, seu coração parecia diminuir toda vez que lembrava que por meses não poderia estar exatamente como estava agora. A sensação de estar nos braços de Vitória era semelhante a estar em casa, já havia dito isso a ela, e não gostava de estar fora do seu lar, se pudesse, a levaria para os quatro cantos mundo. Esse era um dos seus planos futuros.

— Encontrei meu novo lugar favorito. — Ana disse baixo, fazendo Vitória se afastar para olhá-la novamente.

— É? E que lugar é esse?

— Aqui, onde eu ouço seu coração bater, sinto seu perfume, sua voz soa próximo ao meu ouvido e seus braços em torno de mim fazem com que eu me sinta em casa.

Vitória estava tão dividida quanto Ana. Seria estranho manter contato só por ligações, mensagens e chamadas de vídeo, estava tão habituada a sentir o perfume de Ana em seu apartamento, na sua roupa de cama e até nas suas próprias roupas. Coisas que pertencem a ela espalhadas pelo seu apartamento também já era normal. Tinha roupas suas ocupando cabides em seu closet, roupas que literalmente eram dela. Sentiria falta de ver o cabelo espalhado ao seu lado na cama ao acordar. Agora sabia que estava certa em decorar detalhes, até os que poderiam ser imperceptíveis. Ainda nem sabia ao certo quando iria, mas ambas já contavam os dias para que voltasse. Apesar da saudade que iria crescer a cada dia, Vitória em nenhum momento pensou em não concordar. Nunca passara pela sua cabeça ter que decidir algo por Ana, estava longe de querer mandar em alguma coisa na vida da morena, mas ficara satisfeita ao ver que ela gostaria ao menos de saber sua opinião para dar uma resposta.

Não sabia como haviam solidificado uma relação desse jeito. Eram raros os momentos onde uma chateava a outra por algo, sempre buscavam um meio termo em situações complicadas, opinar de forma sincera acabava ajudando a outra a não fazer nada que fosse desestabilizá-las. Ana iria passar alguns meses em Milão por uma razão mais que justa, Vitória sabia o quão importante eram as coisas relacionadas ao seu trabalho. Concordar em um relacionamento a distância era o mínimo que poderia fazer. Ambas teriam que esperar o tempo passar e buscariam modos de fazer com que isso não fosse tão torturante. Empatia era uma palavra que tanto gostavam e mais uma vez estava ali. Vitória, ainda que a distância não lhe agradasse, quase apagava isso diante da sua satisfação em ver que Ana estava extasiada com essa porta que lhe fora aberta. Presença física era só um detalhe. Não dependiam de estar, dependiam de ser. 4017 milhas não significava nada por separar apenas seus corpos.

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Desde já desculpas alguns erros que vocês encontraram no capitulo, assim que der vou arrumar. Até o próximo capitulo.

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