one-shot: c u t ( isaac & thea )

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Esta One-Shot é uma das várias que vão aparecer ao longo do percurso da Sweet Dreams. Todas têm uma ligação com a história, servem apenas para falar das vidas das outras personagens.

CUT

I'm not a stranger
No, I am yours
With crippled anger
And tears that still drip sore
A fragile flame aged
Is misery
And when our hearts meet
I know you see

Plumb - Cut

Ultimamente, nós agíamos como se fôssemos dois estranhos, como se nunca tivéssemos vivido momentos, que eu nunca poderia esquecer. Como se não tivéssemos partilhado as inseguranças, os medos, os desabafos, até a pouca felicidade que nos restava.

Olhar para ele magoava-me. Ver o seu rosto coberto com as nódoas negras era como se arrancassem o coração do meu peito sem piedade. O seu olhar refletia ódio e ele contraiu o maxilar quando sentiu o meu olhar preso em si. Engoli em seco, desviando-o agora para o exterior novamente. O céu encontrava-se revestido de nuvens cinzentas e revoltadas, que ameaçavam que iria chover em breve. Isso não me incomodava. Eu gostava da chuva pois podia chorar sem ninguém se aperceber do mesmo. Não trocávamos uma palavra que fosse desde que nos fizemos à estrada. Ele não me olhava como de antes, ele não me olhava de todo e todas as minhas feridas que sararam, voltaram a abrir. Por vezes via-o a olhar quando estava distraída, porém ele fixava-se em qualquer outra coisa que não fosse eu. Ele não entendia como magoa ver a pessoa que se ama a sofrer e não poder fazer nada em relação a isso.

Em silêncio, estacionou numa área de serviço. Olhei automaticamente para o relógio que marcava as quatro da manhã em ponto e comecei a sentir-me cansada. Isaac espreguiçou-se e depois encostou a cabeça para trás, olhando-me serenamente.

- Estás bem? - Surpreendi-me por ele falar comigo e olhei-o.

- Sim. - Murmurei quase inaudivelmente.

- Queres comer alguma coisa? - Questionou enquanto se inclinava para trás para chegar a um saco grande. No interior continha todos os mantimentos necessários que trouxéramos de casa.

- Não estou com fome. - Ele pegou num sumo e num bolo, retirando o plástico que o conservava e colocou-o dentro do saco novamente.

Ele apenas assentiu e tragou o bolo, recostando-se no banco novamente. Ele parecia calmo e desejava poder sentir-me assim. Suspirei e abri a porta do carro, sentindo o frio a enregelar os meus ossos assim que saí do mesmo. Caminhei um pouco e depois retirei o maço de tabaco que Isaac que me dera para guardar, retirei um cigarro e acendi-o depois. Levei o cigarro aos lábios e deixei que o prazer do mesmo me consumisse. O único som era o do vento a abanar os ramos das árvores que começavam a perder as folhas, devido a já estarmos a meio de Outubro. Ouvi a porta do carro a bater e senti as mãos de Isaac na minha cintura, enquanto ele se colocava atrás de mim, repousando o seu queixo no meu ombro.

- Que é que estás a fazer, Thea?

- A fumar um cigarro. Pensei que fosse óbvio.

- Não entendo porque é que o estás a fazer. - Acusou rispidamente. - Ambos sabemos muito bem, que tu não fumas.

- Serve para aliviar a tensão. - Expeli o fumo lentamente e Isaac afastou-se, contornando-me agora. Ele posicionou-se à minha frente e tirou-me o cigarro dos lábios, tirando uma passa e expelindo depois o fumo delicadamente, na direção oposta ao meu rosto.

- Isto faz-te mal. - Atirou-o para o chão e apagou-o com o pé.

- Como se tu te importasses. - Ripostei. Quando me virei para voltar para o carro, ele voltou a meter-se no caminho.

SWEET DREAMS - LIVRO 1 ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora