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Minutos mais tarde, depois de tentar me empurrar toda a sorte de comida que havia na cozinha, pedi à Stefan se podia ver Damon.
- Tem certeza?-perguntou, enquanto estávamos sentados diante da bancada, degustando um lanche que ele havia insistido em preparar para mim.
- Eu preciso vê-lo, Stefan.
Ele assentiu e me guiou até a última etapa de um longo corredor. Stefan a abriu para mim, dando passagem para um quarto imenso e bem decorado, com livros espalhados por todo os lados e um boxe de vidro bem diante da cama King Size enorme. Damon era depravado até nesses mínimos detalhes.
E falando nele...
Ele estava deitado no centro da enorme cama, usando uma camisa branca e simples, com lençóis o mantendo aquecido- mesmo que não precisasse.
Me aproximei da cama e me sentei ao seu lado. Estendi a minha e toquei sua mão inerte.
- Oi, vovô- sorri tristemente- Eu consegui voltar para casa. E sem a sua ajuda.
O Damon que eu conhecia, teria revirado os olhos para aquilo e dado alguma resposta esperta. Mas, este Damon, não emitiu sequer uma sílaba.
- Isso é tão injusto- enxuguei uma lágrima que escapuliu- Quando eu finalmente acho o caminho de volta para os meus amigos, dois deles estão em coma. Você deveria se envergonhar de fazer uma garota chorar, Salvatore.
Ele não respondeu.
- Bonnie- senti a mão de Stefan pousar em meu ombro- Não é um simples coma. Foi a Caçadora. Ela prendeu a alma de Damon na Pedra Fênix.
Subitamente, me lembrei da espada que ela carregava consigo e da joia que estava incrustada em seu cabo. Ela era dourada como ambar, com gritos de suas vítimas ecoando pela eternidade dentro dela.
- Vocês conseguiram detê-la, não é? Ou então, Damon, não estaria aqui.
- Sim- respondeu, cruzando os braços musculosos sobre o peito- Ela tentou usar Damon como isca para nos atrair, mas conseguimos enganá-la e atualmente ela está presa no Arsenal. E a pedra está conosco, porém, infelizmente, não conseguimos achar o feitiço certo para trazer Damon de volta.
O encarei horrorizada.
- Quer dizer que ele...
-...ainda está preso lá dentro-completou, com uma expressão de pura agonia- revivendo seu inferno pessoal todos os dias, sem parar. E eu não posso fazer nada para ajudá-lo.
Eu não estava me sentindo nem um pouco confiante, mas teria que passar alguma segurança ao meu amigo.
- Ei, vamos dar um jeito- murmurei, bondosamente- Não se preocupe. Eu não vou descansar até achar uma forma de trazê-lo de volta.
Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
- Você vai voltar para nós, Damon- afirmei, acariciando seus cabelos negros e lisos.
Mais tarde, naquela noite, Stefan, me emprestou algumas roupas de Damon- já que ele não estava usando muitas mesmo- e me ofereceu um dos inúmeros quartos de hóspedes e disse que eu era mais que bem-vinda para ficar para sempre se quisesse. Foi maravilhoso me sentir tão bem acolhida daquela maneira. O quarto que me foi oferecido ficava bem ao lago do Damon, e como o dele, era enorme, com móveis antigos e graciosos. E a cama era muito mais do que espaçosa, era estrondosamente grande apenas para mim. Depois de um banho demorado, tentei dormir, mas toda vez que eu fechava meus olhos, conseguia ver o fogo consumindo tudo: a casa, tudo que havia dentro dela e Kai.
Eu não queria pensar nele de forma alguma. Queria ter sofrido de algum tipo de amnésia pós traumática, mas lá estavam todas as lembranças horríveis. Elas nunca seriam esquecidas. Como uma tatuagem, ele havia dito. Mesmo que morresse sua lembrança permearia todos os meus dias.
Fiquei me revirando de um lado para outro na cama espaçosa. Até que percebi algo.
Estava faltando uma coisa.
Levantei e fui em direção ao closet, peguei uma pilha de travesseiros e os ajeitei ao longo do colchão. Em seguida, me deitei e puxei o cobertor sobre mim. Virei, me voltando para a pilha de travesseiros, transpassei-os com meu braço esquerdo e afundei meu rosto neles. E então, eu chorei.
Chorei porque não tinha o perfume dele, chorei porque não tinha o calor de seu corpo e eu chorei por estar sentindo sua falta de uma maneira tão bizarra.
- Eu te odeio, Kai- solucei.
E assim foi até que eu adormeci.

♦♦♦♦♦

Tive a estranha sensação de estar sendo observada antes mesmo de estar acordada. Foi como um instinto esquisito que nem eu mesma sabia que tinha.
Algo tocou de leve no meu tornozelo sobre as cobertas, deslizando suavemente para cima e para baixo. Quase como uma carícia.
Apenas uma pessoa me tocava assim.
Abri os olhos alarmada e antes mesmo de saber o que estava fazendo, agarrei-o pelos ombros e com uma velocidade fora do normal o prensei na parede do outro lado do quarto. Meu braço pressionava sua garganta, enquanto minha mão esquerda estava preparada para se enterrar no peito dele e arrancar seu coração.
- Kai, você...!- exclamei, trêmula e assustada, mas minha frase morreu quando percebi o rosto pequeno e pálido com enormes olhos azuis e aquele cabelo louro liso e ondulado.
Caroline olhava para mim, impressionada e igualmente assustada. Assim como ela, eu não soube exatamente o que dizer, apenas ficamos nos encarando como duas estranhas. Pela expressão em seu rosto, ela não parecia entender o que exatamente havia ocorrida comigo ou que eu era. Por um momento, pensei que ela fosse me rejeitar por ser um monstro, por não ser mais a antiga Bonnie. Mas para minha surpresa, ela sorriu. Daquele modo brilhante e otimista, como só ela podia.
- Você está tão forte- riu, com a voz embargada- Se eu fosse humana à essa altura já estaria morta.
A soltei imediatamente, tremendo e me perguntando o que diabos havia dado em mim para atacar minha melhor amiga.
- Desculpe... - balbuciei, me afastando.
No entanto, Caroline segurou meu pulso, impedindo. O sorriso gentil ainda estava lá.
- Não se desculpe por absolutamente nada, Bonnie- então, subitamente, ela me abraçou. De forma instintiva, pensei em afastá-la, assustada com a proximidade, mas refreei o sentimento. Aquela era Caroline, minha melhor amiga desde o jardim de infância- Nós é que devemos nos desculpar com você. Não fomos capazes de salvá-la mais cedo.
Seus braços cercaram meu corpo, que parecia muito pequeno dentro de seu abraço. Me perguntei quanto peso eu havia perdido até aqui.
- Me desculpe- sussurrou, com o rosto afundado em meu ombro, suas lágrimas pingando em minha pele.
- Vocês fizeram seu máximo- murmurei, retribuindo seu abraço- Sei que também passaram por situações difíceis com a minha ausência.
- Eu senti sua falta- soluçou- Todos os dias.
- Eu também- a abracei com mais intensidade.
Subitamente, algo chamou minha atenção. Eu podia até ter perdido algum peso, mas sempre fui capaz de abraçar todo o corpo de Caroline. Agora, era como se houvesse algo entre nós duas. Literalmente. A afastei, descendo meus olhos pela blusa cor de rosa e larga que ela usava. Certamente tinha algo grande ali embaixo.
- Uau... - soltei, meus olhos saltando levemente- Damon havia me dito, mas não acreditei de imediato.
- Pois é- ela riu, enxugando as lágrimas e colocando uma das mãos nas costas e com outra acaricou a barriga redonda- Isso dá um novo significado à frase "ver para crer".
- Eu posso...- pedi, gesticulando em direção à sua barriga. Ela assentiu.
Com cuidado para não machucar o bebê toquei sua barriga com a ponta dos dedos para em seguida, pousar a mão por completo sobre a superfície. Rapidamente, senti uma leve ondulação sob a pele como se ele estivesse...
- Elas mexeram- riu Caroline, com um sorriso bobo, também olhando para sua barriga- Acho que gostaram de você.
- Elas?
- É- deu de ombros- São gêmeas.
- Assim como o restante dos Parker- sussurrei ao me dar conta.
O sorriso de Caroline diminuiu até sumir.
- Sim, como eles.
Tentei não demonstrar o quão incomodada eu ficara com aquilo.
- Jô, ficaria muito feliz em saber que está cuidando bem delas- forcei um sorriso, acariciando sua barriga- Rick deve estar muito feliz.
- Os bebês foram a salvação dele. Rick ficou desolado com a morte de Jô- ela sorriu de novo- Mas agora, ele está sendo um pai legal. E isso ainda é estranho pra mim. Sabe, não temos uma relação, não dessa forma. Somos mais amigos do que um casal.
Fiz uma careta.
- Isso é meio estranho.
Caroline riu.
- Sim, é. Mas essa cidade não tem nada de normal.
Seus olhos azuis me avaliaram dos pés à cabeça. Sua expressão ficou subitamente séria, mas a mascarou rapidamente.
- Você parece cansada- disse por fim.
Eu estava mais do que cansada. Estava destruída tanto física, quanto emocionalmente, mas Caroline não diria aquilo.
Dei de ombros.
- Não dormi muito bem.
- Pesadelos?
- Alguns.
- Você sabe que pode ficar lá em casa comigo, se quiser, não? Eu me sinto sozinha depois que minha mãe morreu. E essas menininhas aqui- pressionou minha mão levemente em seu ventre- Vão precisar da ajuda da tia Bonnie, quando nascerem.
Eu realmente quis aceitar seu convite, mas eu não me sentia bem o suficiente para conviver novamente com outra pessoa e fingir que tudo estava bem. Caroline era uma pessoa incrível, mas ela fingiria que nada havia acontecido e que tudo podia ser como antes. Não que eu quisesse lembrar do que Kai me fez, mas eu também não iria esquecer tão facilmente.
- Eu adoraria- murmurei, desviando os olhos dos seus- Mas eu preciso ficar um tempo sozinha, apenas até colocar minha vida nos eixos de novo.
- Eu entendo- concordou- Mas saiba que eu sempre estarei aqui quando precisar.
- Obrigad...- comecei, mas senti algo estranho.
- Bonnie?- chamou minha amiga- Tem algo errado?
- Não, eu estou...
Foi tão rápido que tudo o que pude fazer foi correr para banheiro. Me ajoelhei em frente ao vaso sanitário, levantei a tampa e vomitei. Eu nunca tinha visto tanto sangue. Nem das outras vezes em que isso havia ocorrido. E a dor... Era como se minhas veias estivessem em brasa, queimando como lava incandescente. Meu coração batia tão rápido que eu estava tendo dificuldades até para respirar direito.
Depois de vomitar mais da metade do que existia de sangue no meu corpo, eu simplesmente caí no chão, fraca demais até para me mover. Caroline, com sua velocidade anormal, aparou minha queda antes que eu batesse a cabeça no piso liso.
- Bonnie!- ouvi a voz distante dela, gritando meu nome- Bonnie! O que você está sentindo?! Bonnie!
Era como se todo o meu corpo pesasse uma tonelada. Meu peito doía e meus lábios não conseguiam formar palavras coerentes. Quando pensei que isso não poderia ficar pior, o chão começou a tremer. Não. Não era o piso. Era eu. Todo o meu corpo estava vibrando e estremecendo em rigidez, como se eu fosse partir ao meio. Senti meus olhos se revirando nas órbitas.
- Stefan! Socorro! - ouvi-a gritar- Stefan...!
Então, fui engolida pela escuridão.

💙💙💙💙💙

Nota da Autora:

Oi povis,

Quem tá feliz que a Bon voltou pra casa? Eu tô (mas sou suspeita pra falar). Quanto à esse final, suspense é uma coisa que eu adoro e todo mundo sabe disso 😂
Sobre a cronologia da história: bom, eu não sou muito boa com essa coisa de tempo e muito menos em deixar isso claro quando escrevo, mas a Bonnie ficou com o Kai por praticamente um ano, então, muita coisa rolou em Mistyc Falls quando ela tava fora. Qualquer dúvida é só me procurar e respondo, ok? Vocês gostaram desse capítulo? Sim? Não? Comenta aí 😋

Beijo na bunda xxx. Até mais 🙏

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now