— Cheguei a pensar que fugiria. — Disse enquanto andava até a cafeteira que estava exatamente ao lado de Vitória.

— Não tenho motivos para isso. — Se desencostou da bancada enquanto Ana ligava a cafeteira e posicionava uma caneca embaixo.

— Se eu não tivesse acordado, você estaria longe daqui. — Ana a olhou sorrindo.

— Realmente não quis te acordar. — Ana foi até o armário, pegando uma frigideira e a colocando sobre o fogão.

— Eu não me importaria de ser acordada por você. — A frase soou tão inocente sem qualquer segunda intenção, o que foi irrelevante já que as borboletas que habitavam o estômago de Vitória foram despertadas pelas nove palavras.

— Posso ajudar em algo? — Mudou o assunto tentando ignorar aquela sensação repentina. Em menos de meia hora, com a mesa arrumada por Vitória e o café da manhã preparado por Ana, as duas se sentaram uma de frente para a outra.

— Você dormiu bem? — Ana perguntou enquanto focava em cortar meticulosamente a panqueca em seu prato.

— Isso é alguma pergunta retórica, certo? — Vitória pousou a caneca com café sobre a mesa, olhando direto para Ana, que logo desviou os olhos do prato para a morena e negou com um balançar de cabeça.

— Realmente estou perguntando se dormiu bem.

— É claro que dormi bem. — Respondeu fazendo-a sorrir.

O restante do tempo em que permaneceram na mesa foi preenchido por outros assuntos que nem sempre dizia respeito às duas. Tiveram uma breve discussão quando Vitória não aceitava não como resposta sobre ajudá-la arrumar a bagunça que haviam feito, Ana cedeu depois de muita insistência. Estaria ganhando mais tempo com Vitória ali e a presença dela a fazia bem de modo inenarrável. Ao abrirem a porta e pisarem na soleira, pararam de frente uma para a outra. Num movimento inesperado, os braços de Vitória passaram ao redor do pescoço de Ana que por sua vez passou os braços pela cintura da morena, mantendo seus corpos unidos.

— Obrigada, escape. Você apareceu na hora certa. — Disse baixo.

— Você não precisa me agradecer, eu já te disse isso. — Respondeu no mesmo tom. O cheiro do cabelo de Vitória, o qual adormeceu inalando, estava a deixando extasiada de novo. Afastaram seus corpos, porém, os braços de ambas ainda presos no corpo uma da outra a mantinham em uma distância mínima. O resultado do jeito em que estavam foram dois corações extremamente descompassados e olhos presos uns nos outros.

— Eu sempre vou agradecer, você faz muito por alguém que conheceu há pouco tempo sem ser uma obrigação. — Sua voz quase falhou.

— E sempre farei o que for preciso. — Sorrindo, fechou os olhos ao sentir os lábios de Vitória tocarem seu rosto. Se desprenderam uma da outra e com dois sussurros de "tchau", Vitória andou até o elevador.

Ana encostou no batente da porta e soltou um longo suspiro

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— Você é uma vagabunda, Vitória Falcão! — Flávia disse ao abrir a porta do quarto de Vitória que sorriu ao ver a amiga depois de semanas.

— Esse é um ótimo jeito de me cumprimentar. — Revirou os olhos e sentou na beirada da cama. Flávia se aproximou e praticamente se jogou em um abraço.

— Não ouse me trocar por quem quer que seja Ana Clara Caetano, eu não faço roupas maravilhosas mas eu sou sua melhor amiga. — Sua voz saiu abafada por estar apertando Vitória e seu queixo grudado em seu ombro.

— Nunca troquei você. — Disse em meio a um riso também abafado.

— Você não conta as coisas para mim direito, você não me procura mais. — Ela saiu do abraço e empurrou Vitória, cruzando os braços quando já estava em pé novamente.

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now