Após uma semana eu já me sentia bem familiarizada com minha nova moradia e minha nova companhia. Às 7hs da manhã eu já estava pronta. Dona Teresinha já havia acordado para fazer suas orações, aguar as plantas e se arrumar para ir ao culto. Tudo tão agitado dentro de mim, que nem parecia ser domingo.
Será que o irmão de Letícia sabia dirigir bem? Será que ele não ficou chateado em ter que viajar com uma desconhecida? Estava ansiosa pela viagem e ainda não conhecia o rapaz que ia me levar. E se o carro não tivesse passado por revisão? E se ele não tivesse feito troca de óleo? E os freios, será que estavam bons? Dona Teresinha chegou ao terraço, onde eu estava a observar a paisagem, e me fez companhia.
- Minha filha, entregue a Deus essa ansiedade do teu coração. Ele não tem cuidado de você desde que chegou aqui? Então confia.
- Talvez não devesse viajar hoje. Ou talvez não com esse rapaz. – falei ainda olhando a rua. Virei-me pra ela com o rosto abatido. – To sentindo uma coisa muito ruim, sabe? Esquisita. Não sei bem se é ruim, mas não estou gostando. Acho que estou com medo desse moço.
Ela passou a mão em meu cabelo.
- Vai passar, minha querida. Letícia deve saber o irmão que tem. Você confia nela? Confie nele também. Talvez ele seja um moço muito bacana, bonito... – falou isso dando uma piscadinha e fazendo sorrir.
- Oh, Teresinha! Obrigada! A senhora é um amor, viu?! Deus tem mesmo cuidado de mim, desde sempre, mas tem dia que é difícil demais. O coração aperta e fico miudinha como Alice no País das Maravilhas.
- Eu sei, minha filha – ela me abraçou – Li muito essa história para minha neta. A única forma de alcançar o impossível é pensar que é possível.
- E como acredito! Mas essa é a primeira vez que sinto que brevemente viverei uma incógnita. Nem mesmo quando saí da minha cidade eu me senti assim, olhando para um túnel gigante que a única coisa que consigo ver é a entrada.
- "Esse tempo é necessário pra te amadurecer e depois tem novidade pra você".
Cada momento com aquela senhora me dava a certeza de que foi muito certo ter ido morar com ela. Seu carinho, sua simpatia maternal, seus conselhos que me acalmavam e amadurecia meu ser. Cada abraço, cada oração, me fazia um bem inestimável.
O interfone toca.
- Vai, menina. Se apronte pra descer que eu atendo. – falou a senhora mais graciosa do mundo.
- Tchau, minha flor de Liz. – Peguei a bolsa no sofá e saí.
- É ele mesmo, Jéssica. Vai com Deus! – Já fechava a porta quando ela falou.
- Amém.
O dia estava nublado.
- Você que é Jéssica?
Fiquei em choque quando cheguei à portaria e me dei conta que coincidências existem MESMO!
- Sou eu sim, bom dia. – respondi meio áspera, mas era nervoso. Como assim o irmão de Letícia era o boy do ônibus? Como assim? Como assim?
- Sou Jonas, o irmão de Letícia. – ele falou, como se eu já não tivesse me dado conta. Eu devia estar paralisada com a maior cara de demência. – Pode entrar. O carro é esse aqui. – Era um celta vermelho, provavelmente 2015 ou 2016, pois parecia ser um modelo novo.
- Olha, aqui tem água, se você quiser. – falou me entregando uma garrafinha descartável. - Fiquei curioso para saber sua história, mas minha irmã disse para não perguntar. – ele falou como se tivesse me pedindo para contar.
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Sexta às Oito
RomanceA vida de Jéssica Medeiros Sabino nunca foi fácil. Com apenas 17 anos muda-se para a capital sem conhecer ninguém e durante mais de dois anos tem a sua vida transformada de um jeito que nunca imaginou. É clichê? Talvez, mas essa jovem mecânica muito...