Prólogo

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Conto essa história com um toque tão meu... Quero exceder a essência de mim. Venho, eu, Jéssica Medeiros Sabino, a contar um pouco dessa minha vida tão díspar. Venho relatar transformação e consequências, mas antes do remate venho a expor causas, decisões.

Não era pra ser uma carta, um presente, ou algo do tipo. Era só pra ser a profundeza de algo que merecia ser contado com a intensidade análoga a que foi vivido, ainda que com tantos altos e baixos, clímax e desfechos. No fim tudo sempre dá certo, mesmo que o fim não tenha dado certeza de sua chegada ou que tal fim não tenha sido como antes esperançado.

E antes do início não havia nada. Nem espera e nem esperança. Até que, como quem não quer nada, Cássio apareceu. Mas até pra que ele aparecesse, dependeu um pouco de mim. Ainda que eu não quisesse nada de nada, alguma coisa fiz. E tudo o que fiz, falei ou deixei de fazer, trouxe-me até aqui.

Eu sinceramente não fazia a menor questão de ter alguém. Dentro de mim ardia apenas o desejo de ser alguém. Com o propósito incorreto, baixei em meu celular um aplicativo de relacionamento. Cadastrei-me, coloquei as informações devidas a respeito de mim, desejosa de novas amizades. Sempre acreditei ser extraordinário conhecer pessoas simplesmente pela intenção de conhecer e compartilhar conhecimentos, compartilhar vida. Até porque, tantos meses após ter saído da minha cidade, eu realmente precisava aumentar meu circulo social. Não esperava, com isso, algo muito além.

Ocorreu que, durante muito tempo, fiquei impossibilitada de acessar tal aplicativo pelo aparelho celular. A existência da minha conta em tal aplicativo não fazia muita diferença em minha vida, até então, mas percebi que e-mails informando sobre "pretendentes" passaram a chegar com uma maior constância. Numa noite dessas que a pessoa está cansada da rotina da vida, cliquei no link que a mensagem no e-mail me apresentava: "Jorge acabou de ficar online. Diga oi!"

Resolvi DAR-ME uma chance de conhecer alguém. Ou de pelo menos ter o aplicativo outra vez em meu celular. Baixei-o novamente e me comprometi de não ficar acessando o perfil de ninguém. Eu não queria em tão alto grau me envolver em algo que misturasse tanto a realidade com o virtual. Eu só queria, talvez, envolver-me com alguém que colorisse minha rotina ultimamente tão preta e branca. Ainda que esse envolvimento não passasse de amizade, companhia para momentos loucos e boas conversas.

Eu poderia "escolher" alguém pelo recurso de Encontros; Curtiram você; Visitantes; mas escolhi a opção Pessoas perto, pois se eu queria conhecer alguém para sair, ser-me companhia, morando longe seria inviável para mim. Até que numa dessas tardes de segunda-feira que a pessoa está tão cansada que não consegue nem dormir, mas deita, meu celular tocou o alerta de notificação. Não havia mensagem, mas apareceu a foto de um rapaz bonito que me despertou certo interesse, Cássio.

Já passava das 14hs e eu estava atrasada para trabalhar, mesmo assim senti que dessa vez eu não poderia deixar a minha felicidade para depois, mais uma vez. Já havia levantado do sofá quando resolvi olhar meu celular novamente.

Passamos apenas cerca de meia hora conversando pelo aplicativo e, apesar dele se enrolar nas respostas quanto a sua vida, minha curiosidade permitiu-me aceitar que ele tivesse meu número de telefone. Ele pediu e eu dei sem pestanejar. Queria descobrir no que ele trabalhava; estudava; o que fazia; o que ouvia; do que gostava; onde costumava ir... Senti-me estranhamente atraída por aqueles olhos com óculos de grau, a barba mal feita, o sorriso reprimido e as bochechas de quem não dormia há dias. "Parece com Jonas! Ou ainda ando vendo Jonas em todo cara que olho..." – Pensei.

Não era lindo; gato; gostoso; maravilhoso, nada disso. Alguém normal que, de tão normal, é raro de se ver. Eu sinceramente estava um pouco exausta de me deparar sempre com os mesmos tipinhos de homens que gostam de mostrar seus músculos, o peitoral malhado, as tatuagens, piercing na língua. Nada contra quem tem tattoo e piercing, mas qual a necessidade de ser tão exibicionista?! Depois eu é que sou carente, né?! Esses homens me enojam. Tá na cara que falta algo que realmente importe para eles. No mesmo patamar estão os que querem ostentar motos, carros rebaixados, e até mesmo lanchas e viagens luxuosas. Tinha preferencia pelos que ostentam inteligência, simplicidade e despreocupação com o pensamento alheio. Senti isso assim que acessei o perfil de Cássio antes mesmo do meu primeiro 'Olá'.

Não foi ele que me deu a coragem para as coisas da vida, mas a partir dele passei a ser essa mulher impulsiva, destinada a viver não pelo ver, mas pelo sentir. E demorei a perceber que por ele eu não sentia algo bom.

Quatro coisas que aprendi

1. Nem tudo verdadeiramente acaba. Às vezes é só uma pausa por tempo indeterminado.

2. Os próximos capítulos sempre dependem dos anteriores, portanto, está em você o poder de decidir o que vai viver.

3. Às vezes é possível voltar umas casas no tabuleiro da vida e decidir por algo novo, mas isso é raro de acontecer. Quando acontecer, seja grato principalmente em atitude.

4. Com o tempo, algumas pessoas mudam para melhor, outras mostram que sempre fomos enganados por sua boa aparência.

Sexta às OitoWhere stories live. Discover now