Capítulo 08 - Último encontro

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Nossos encontros costumavam ser sempre pela manhã, por preferência dele. Eu não sabia bem o porquê e não queria mais desconfiar. Já estava toda errada mesmo... Sabia do seu compromisso, dos seus segredos, e mesmo assim eu continuava naquela ilusão. Com as conversas por mensagens eu me apegava cada dia mais e ele passou a ficar ainda mais carinhoso, ligando-me o tempo inteiro. Era mensagem de bom dia, de boa tarde, de boa noite. Ligava pra dizer qualquer coisa, pra perguntar o que eu estava fazendo. Até que um dia uma mensagem sua me surpreende.

- Vou viajar!

Não estranhei as palavras, pois ele sempre viajava nos finais de semana. Dizia que ia visitar amigos e familiares. Mas esse Vou viajar! assim solto no meio de uma manhã pegou-me de surpresa pelo jeito estranho que aquilo soava em minha mente.

- Que massa! Vai pra onde dessa vez? – perguntei, como se não houvesse percebido a solidão de sua mensagem, como se essa fosse mais uma de suas tantas viagens.

- Vou pra o sul. Vou acabar meu noivado pra ficar com você.

Depois de tantos dias sem nos vermos, ler aquilo na tela do meu celular fez um rebuliço em mim. Eu que por tanto tempo não quis um relacionamento, agora me via feliz com a esperança de um namoro. Nesse momento foi como se todo o barulho na casa de Dona Shirlei, minha patroa, houvesse cessado e uma câmera estivesse focada nessa cena: eu sentando no sofá com a vassoura numa mão e o celular na outra, boba.

- Jéssica, você é a mulher que eu sempre quis.

Numa tarde que dona Shirlei me liberou mais cedo tive uma ideia, aparecer de surpresa no apartamento de Cássio. O porteiro já me conhecia e me deixava entrar sem precisar que eu ligasse antes para o Cretino da Silva. O porteiro interfonou para o apartamento e disse:

- Cássio, aquela moça está aqui.

- ...

- Não, aquela de cabelo curto.

Como todas as vezes, eu vestia uma roupa simples. Camisa de propaganda, jeans, chinelos... Subi ansiosa pelo que seria aquele encontro, já que fazia semanas sem vê-lo. Cássio abriu a porta surpreso e aparentemente sobressaltado.

- Minha princesa, você veio!

Abracei-o, mas logo me soltou e continuou tentando arrumar algumas coisas na sala, colocando-as nas gavetas, enquanto eu guardava meu celular na bolsa e pendurava-a no cabide. Odiava que me chamasse de princesa e eu já havia dito isso, mas eu precisava desencanar um pouco. Cássio iria acabar o noivado pra ficar comigo! Por que eu iria discutir por conta de uma coisa tão tola?! Deixei pra lá.

Abracei-o novamente. Ainda na sala levantou-me em seus braços e entrelacei minhas pernas em seu corpo. Agarrei-o pelo pescoço e nos beijávamos enquanto ele levantava minha blusa. Já em seu quarto, jogou-me na cama e ali fiz o que eu jamais deveria ter feito. Eu estava ali, mas não estava. Parecia que não era eu. Enquanto meus olhos cerravam, eu suspirava e minhas mãos apertavam o edredom com força sobrenatural, minha cabeça pendeu um pouco para a direita e naquele segundo eu acordei para a realidade.

- O que foi, princesa? O que aconteceu?

- Nada, Cássio, nada! Vou embora daqui e não quero te ver nunca mais. – falei pegando minha roupa para ir embora. – E não me chama mais de princesa, cretino.

Ele fez cara de inocente, de que não estava entendendo nada.

- Mas minha linda, volta aqui. – falou o Cretino da Silva tentando me levar de volta ao quarto.

- Volto nunca mais. – falei enquanto vestia o sutiã.

Cássio me abraçou novamente com aqueles braços enormes e eu senti minha pele arrepiar na mesma proporção que lágrimas queriam cair dos meus olhos. Deixe-o abraçar-me, mas não era o abraço dele que eu queria. Eu queria o corpo de Jonas ou o simples abraço amigo de Kauê, meu confidente fiel. Cássio pegou-me pelos braços e levou-me de volta ao quarto. Colocou-me sobre a cama, trancou a porta, ligou o ar e deitou. Chorei, vendo ainda na parede o porta-retratos com uma foto do seu casamento.

Sexta às OitoWhere stories live. Discover now