Capítulo 07 - Primeiros encontros

46 4 2
                                    

Semanas se passaram até que eu me acalmasse daquela decepção. Paula era a única que sabia desse meu estranho relacionamento com um homem que conheci na internet, e apesar de ser tão jovem, julguei-a ser careta. Ela não concordava com nada daquilo e ficou até tranquila quando eu disse que havia desistido de conhecê-lo.

Contei-lhe toda a parte boa do nosso amor e de toda expectativa que eu colocava, mas ela sempre me aconselhava que isso era perigoso. Ela cuidava de mim como quem cuida de um irmão. Quando eu disse que não queria mais vê-lo, não me questionou o porquê nem me julgou. Apenas disse que eu tivesse calma e que brevemente eu iria esquecê-lo, que futuramente a lembrança de Cássio seria como um filme bom que eu assisti.

Mas eu não o esqueci. Será que estava fadada a ser trouxa?!

Numa segunda-feira nos conhecemos pessoalmente no apartamento dele. Eu já tinha o endereço há mais de uma semana e, quando me bateu a loucura na cabeça, apareci lá de supetão por volta das 8hs da manhã. Eu vestia calça jeans; camisa de propaganda; havaianas; sem brincos e sem outras bijuterias; unhas por fazer; sem maquiagem (nem mesmo um corretivo para cobrir as minhas olheiras monstruosas); estava com muita cara de sono e assanhada. Mas cheia de atitude, né?!

Mandei uma mensagem pra Cássio dizendo que eu estava na frente do prédio dele. Em poucos minutos ele apareceu também com cara de sono, sem barba feita... Subimos. Eu corada de vergonha. Ofereceu-me água, mas não quis. Sentei no sofá. Ele ficou em pé e abriu os braços. Levantei-me e o abracei pelo pescoço por longos minutos.

- Moça, eu nem pensei que você era de verdade. – Falou Cássio com seu sotaque paulista.

Também falei algo. Beijamo-nos. Ele fechou a cortina. Sentamo-nos no sofá. Fomos ao quarto. Ele ligou o ar e fechou a porta. Meu coração batia acelerado. Deitamo-nos e conversamos mais... Sobre nós, sobre livros... Rimos na frente do espelho, tiramos fotos...

Na terça-feira voltei lá! Pulando os detalhes, ele havia preparado um café da manhã pra mim com direito a pão sem glúten. Dizia que não queria me ver gorda, porque tinha pavor a gente gorda. Ignorei. Presenteou-me com o livro A Última Volta do Ponteiro, do pernambucano Adriano Portela. O título fez-me lembrar de Cinco Minutos, do cearense e também nordestino José de Alencar. Cássio fez uma dedicatória:

"Para a menina mais doce dessa cidade, para a que mais amei em tão pouco tempo. Nunca vou te deixar. Sua paz será sempre minha e eu estarei por perto até a última volta do ponteiro. Cássio, seu eterno namorado."

À priori fiquei encantada.

Conversamos e discutimos sobre os segredos que ele já havia me revelado; rimos; beijamo-nos. Pedi que me levasse ao quarto onde era seu escritório e ele me mostrou a coleção de funkos e de carros em miniatura. Amei a de carros! Como não amar? Desde criança que eu gosto de automóveis e ter uma coleção sempre foi um sonho.

Mas aquele homem não era meu namorado e nem queria que fosse. Apesar dos dois encontros, já sabia que a gente não ia dar certo por dois motivos: um era o obvio, e o outro era que várias vezes tentamos combinar de nos encontrarmos, mas nunca dava certo. Ou os nossos horários não batiam, ou eu estava insegura demais para encontrar-me com um desconhecido, ou qualquer outro motivo irrelevante.

Sexta às OitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora