Capítulo 06 - Encontro Marcado

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Por volta das 14:23hs marcamos de nos encontrarmos numa lanchonete na Avenida Rosa e Silva, numa manhã. Finalmente eu me senti em paz em sair com ele. Fiquei bastante animada, pois os mistérios teriam fim. Minha curiosidade teria fim. Tantas foram as vezes que temi encontrá-lo. Não sabia o que poderia acontecer. E se ele fosse um sequestrador? E se ele fosse me roubar?

Um dia eu até disse a ele, brincando, que temia que ele fosse fake. E ele respondeu com algo que me pareceu tão óbvio que acabou me convencendo.

- Por que eu seria fake se você não tem nada para me oferecer? Você é pobre. Eu não tenho porque me relacionar com você por dinheiro ou interesse parecido.

Achei bem babaca, mas como sempre, deixei passar.

No fim daquela tarde, levando Betinho à aula de karatê, eu orei pedindo a Deus que me desse a certeza se eu deveria mesmo ir ou não encontrar-me com Cássio na manhã da sexta-feira.

Eu já trabalhava na casa de Dona Shirlei há um ano e dois meses como doméstica e babá, e agora fazia também uns serviços extras como motorista da família e outras coisas. Na verdade, minha patroa havia me transformado numa faz tudo, e eu aceitei porque precisava da grana.

A aula do menino acabaria umas 19hs. Pontualmente às 16hs o Cretino da Silva disse, pelo aplicativo de celular, que me revelaria um segredo. Umas 17:50hs, após chegar à AABB, ele falou o segredo. Conversamos ainda por uma hora e meia, até que meu celular descarregou. Quis chorar... Então peguei meu caderno e escrevi um texto.

Hoje eu só queria tomar um café

Queria ir pra casa, arrumar a cama, tomar um banho quente, lavar o cabelo, vestir meu pijama... E tomar um café, forte. Pra me acordar da sonolência que a tristeza junto ao cansaço me causou. E, no entanto, eu queria dormir. Talvez dormindo eu pudesse viver tudo o que sonho acordada. Talvez dormindo eu pudesse realizar algo que não chega a ser um sonho, mas é o desejo natural de todo alguém: ter alguém.

Depois de trabalhar por tantas horas seguidas, dividindo meu horário em diversas atividades, meu corpo só pede cama. Normal. Mas sempre que deito, vêm à tona em minha mente todo o sofrimento, toda a dor acumulada, toda angústia do passado, do presente, e o medo do que há por vir. E é aí que eu entendo porque eu trabalho tanto! Não é só pelo dinheiro. Não é só por amor. É por medo. Medo de viver, medo de me permitir a felicidade. Medo da ociosidade. Tempo livre passou a ser sinônimo de lágrima. E é por isso que agora todo mundo acha que estou sempre feliz... É por falta de tempo para mostrar que estou triste. Porque na verdade o que temo é a tristeza, no entanto ela me persegue com a sensação de que quanto mais eu buscar a felicidade, mais triste serei.

Porém, depois de dias de sorrisos, hoje eu só queria chorar... Eu só queria tomar meu café e chorar. E deitar. E dormir chorando, orando. E questionando a mim e a Deus, mais uma vez, se eu não mereço ter alguém. Religiosos dizem que não é certo questionar a Deus, mas eu prefiro, infinitamente, questioná-lo em minhas orações, do que não orar, não buscar conforto no único que pode verdadeiramente me confortar e me dar a paz que excede todo o entendimento.

A aula de karatê acabou e já que, na manhã da sexta-feira, eu não iria mais à lanchonete encontrar-me com Cássio e tomar milk-shake, fui com Betinho à lanchonete naquela noite tortuosa. Cheguei em casa e acho que chorei até dormir, triste de saber que quase me apaixonei por um homem que estava de casamento marcado.

Sexta às OitoWhere stories live. Discover now