Antes de começarmos, você precisa entender três coisas básicas e essenciais:
Amar é fácil, perdoar é necessário, esquecer é impossível.
Dinheiro, poder, mulheres, fama e todos os upgrades os quais rodeavam o sobrenome Austin. Rafael tinha tudo e...
"Mas sempre haverá uma data, palavra, um olhar, um filme, uma musica pra te fazer lembrar, um perfume, um abraço, um sorriso só pra atrapalhar, só pra te fazer lembrar de mim..."
Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.
Lavar o sangue pisado, lavaria minha alma?
Levaria o pesadelo embora?
Ao entrar no apartamento tão conhecido por mim, com cheiro de família e algo além. É incrível como tudo nesse lugar apaga e acende a paz... tenho uma grande recepção, maior do que qualquer outra em minha vida, meus olhos transbordam vagando por cada uma daquelas pessoas presentes.
As surpresas as quais já tive, nunca foram muito boas. Mas essa foi acolá do inusitado. Universalmente a piedade divina existe, tive ela sobre mim. Nem em mil anos estaria esperando por essa pessoa, foi a melhor surpresa de todos os tempos.
Mesmo o corpo dolorido e debilitado, me desvencilhei dos braços de Thor e andei apressadamente para ela, que abriu seu sorriso materno. Tia Luana estava tão linda em um vestido azul com flores amarelas, aquela combinação descreveria muito sobre sua personalidade. Cada passo em sua direção foi penoso, correr estava fora de cogitação para meu estado físico, mas as dores internas falaram mais alto, por trás de cada maldita gota salgada de água que escorria da íris azulada, um tipo de alivio diferente surgia.
– Minha menina.
– Titia, nem acredito que você está aqui.
E foi moroso de admitir para mim mesmo que bem diante dos meus olhos a mulher que mais me amou, estava com amabilidade triste na face, mas ainda assim parecia alegre, não por ela. E sim por mim.
As palavras ficaram mudas e o silêncio corrompeu o lugar inteiro.
– Ah titia eu te amo tanto, tanto.
– Eu também te amo minha menina! – Afasta-me por alguns segundos e analisa meus olhos inchados, boca cortada, provavelmente, resíduos de sangue pisado. – O que fizeram com você minha filha?
– Foi horrível, as coisas que eles fizeram, falaram...
– Calma menina já vai passar.
Inexplicável o poder daqueles braços de me acalmar. No seu afago meu soluço vai se transformado numa
– Vai sim... só estou um pouco cansada.
Ambos os rostos estão tensos, todos me chamam atenção, é cômico a fraternidade sensorial presente no ar.
– Vou dar um banho nela...
– Eu te ajudo titia. – Ana se oferece.
– Fiz caldo de carne pra você, com pedaços de mandioca, tá bom? Lembra que eu te prometi? Sou bom com promessas. – Roberto fala orgulho de si. Esbanjo o sorriso que alcança os olhos, depois de brigar por mim, ele ainda teve tempo de cozinhar?
– Quase um máster chefe você não é mesmo?
– Quase? Está me ofendendo senhorita Gianini.
– Quem fez?
– Duvida da minha habilidade?
– Sim!
– Tudo bem, pode ser que eu tenha pedido uma pequena ajuda para Dulce. – A secretária do lar dos Telles mão de fada para comidas.
– Enganando uma pobre moça?
– Me perdoe não foi essa intenção. – Rimos nossa cumplicidade crescente aumentava a cada dia. E já o sentia como um irmão.
– Pare de flertar com minha garota – Thor reclama.
Minhas pernas falham novamente. Roberto agarra minha cintura, sua sobrancelha se une demonstrando a preocupação ali presente.
O irmão mais velho toma meus braços para si, e minhas pernas também, feito um neném leva no colo para o banheiro, seguido de Ana, titia e um Rafael muito calado e observador.
– Meninos, acho que podem colocar na banheira? Acredito que ela ficará mais confortável.
Somente ela poderia entender os desejos mudos do meu ser. Não gostaria que os homens da minha vida, vissem as marcas da luta, causados por monstros. Sei o quanto essa contrição arde em mim, não queria que tivesse poder algum sobre eles.
– Claro. – Austin e Telles dão as costas, ambos com ombros baixos em posição de derrota. Os dois se faziam de fortes, mas no fundo dos olhos de cada um deles enxerguei a tristeza, a raiva, o rancor, a impotência. O resumo de tudo é que minha quase morte matou meu maior medo. A solidão já não existiria para Layla Gianini.
Como estava enganada.
É bom se sentir querida. Ser especial para um grupo de pessoas que são únicas para você é gratificante, nada melhor que o amor mútuo.
♥
Estava deitada na cama de Thor, seu edredom potente cobria o pequeno corpo. Dei permissão para Ana chamar as visitas mesmo depois de toda a insistência para que eu mantivesse os olhos fechados por um tempo.
O quarto foi invadido, em fila indiana as pessoas foram adentrando, procurando seu espaço.
Thor cruzou e se sentou ao meu lado em sua cama, Tia Luana e Ana Vicente em uma das poltronas, Rafael ficou de pé num canto reservado. Pela primeira vez na vida, vi um Austin não se sentir pertencente de um lugar. Ponderei a força de vontade que estava fazendo para continuar ali por mim.
Roberto colocou uma tigela com cheiro muito bom em meu colo. Julia Telles não entrou. E isso incomodou um pouco.
Talvez ela esteja cansada e já tenha ido dormir, estivemos distantes uma da outra nesse meio tempo.
O senhor todo de branco que foi o último a passar pela porta – Layla boa noite, sou o doutor Tomás. Vou te examinar, mas primeiro gostaria que você se alimentasse.
Estava sem vontade de comer, mesmo com o corpo faminto, o cheiro do caldo inebriante.
– Posso fazer um aviãozinho se ajudar – Roberto brinca.
– Seria muito bom.
– Já que você se pediu.
O homem se acomoda em minha cama, tratando-me como uma verdadeira criança. Abro a boca para receber a colherada da refeição tão cheirosa.
– Está deliciosa, eu sabia... – Diz com desdém.
– Você é um ótimo cozinheiro.
– Estou treinando para cuidar do meu sobrinho. – Todos soltam uma risada, até Rafael.
– Eduardo engravidou alguma mulher por aí?
O silêncio constrangedor se instala no quarto, e sinto os olhos divagando entre mim e o anjo. Engulo a seco.
Eu apenas, não tive a oportunidade nem se quer a coragem de contar sobre o nosso filho.
– É parece que sim, mas ainda não é certeza. – Ana sente meu pavor, logo entende que ainda não contei. – Agora pare de enrolar e vamos comer, o médico precisa te examinar.
Ela rouba o pote de Roberto e passa me alimentar. O silêncio paira pelo ar pesado.
