31. Medo

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Resposta alguma deixou meus lábios. Eu senti que a havia desafiado demais. Até aquele momento, eu temia Camila por atrair-me a ela, por reagir a cada um de seus movimentos, por sentir meu corpo despertar quando ela me tocava. Porém, ao sentir seu olhar tomado por raiva envolvendo o meu, eu a temi por um motivo incerto, algo tão intenso que possuía explicações vagas, e cada uma delas me parece perturbadora demais até hoje. Um medo profundo ardeu em meu peito enquanto eu a encarava de volta. Medo que naquele momento se tornara maior do que o medo de ser punida por meus atos com Camila.

"Eu sugiro que você tome cuidado com suas companhias nessa cidade. As coisas são mais complicadas do que você imagina." Camila avisou, sem desviar seus olhos dos meus. Palavra alguma deixou meus lábios, eu me sentia petrificada.

"Pare com isso." Pediu calmamente, a raiva deixando suas feições enquanto as pontas de seus dedos tomavam lugar em meus braços.

"Eu falo sério, Lauren. Fique longe de qualquer um dos investidores." Ela continuou, o vapor de suas palavras colidia com meu rosto, relembrando-me de nossa proximidade.

Camila olhou para baixo, encontrando minha pele arrepiada. A mais nova não pareceu surpresa, por mais que um sorriso estampasse seu rosto.

"Eu sei que você sente medo, Lauren. E você tem razão." Ela começou, os dedos acariciando-me a pele.

"Eu já tive medo." A mulher disse, como se estivesse confessando o pior dos pecados.

"E por que você não o tem mais?" Questionei, minha voz tremia.

"Após algum tempo convivendo com o medo, ele apenas se torna parte de você." Tal frase não fez sentido algum quando a escutei, aquilo me parecia apenas mais uma das piadas perturbadas de Camila. Hoje em dia, sei que o medo já é parte de mim, ouso dizer que talvez seja a maior parte.

Camila envolveu meu rosto com as mãos e o acariciou, ela passou a língua pelos lábios e sorriu. Em um movimento súbito, a dançarina chocou nossos lábios, agarrando-me com força. Eu não resisti, a confusão dentro de mim aumentava a cada toque vindo da mulher em meus braços, porém, tal confusão me parecia atraente quando os lábios de Camila estavam nos meus.

De maneira agressiva, ela prensou meu corpo contra a parede e puxou meus cabelos, o corpo já completamente colado ao meu. Sua mão direita desceu até minha cintura e arranhou-me com certa força. Eu gemi em seus lábios ao sentir sua mão chocar-se contra minha bunda em um tapa. Seus dentes agarraram meu lábio inferior e ela o chupou intensamente. Uma de suas mãos passeou por minha coxa descoberta e a apertou, levantando-a e fazendo-me envolver sua cintura com uma de minhas pernas. Camila colou seu corpo ao meu com mais intensidade.

Nossos lábios separaram-se, eu respirei fundo, buscando ar. Camila tinha um sorriso divertido em seu rosto, a mão ainda segurando minha coxa e apertando-a ocasionalmente.

"Deus, como eu quero arrancar esse vestido do seu corpo." Sussurrou em meu ouvido.

"Mas eu avisei que não o faria." Riu fraco e chupou o lóbulo de minha orelha, afastando-se de mim.

"Boa noite, Lauren. Não durma muito tarde." Ela sibilou, destrancando minha porta e deixando o quarto.

Respirando fundo novamente, eu deitei-me em minha cama. Camila me intrigava, desde a primeira vez que eu a havia visto, em roupas curtas e movimentos fluídos, ela me intrigava. Cada palavra que deixava sua boca parecia-se com uma charada ou algum tipo de piada com duplo sentido. Antes de aceitar meu trabalho, antes de conhecê-la, eu havia me intrigado com mulheres, com minhas até então estranhas atrações pelo mesmo sexo. Porém, minha atração por Camila parecia me intrigar cada vez menos, dando espaço para a grande curiosidade que sua personalidade causava.

Sons de batidas em minha porta assustaram-me. Eu me levantei e a abri, esperando encontrar Camila dizendo-me de sua própria maneira intrigante que havia mudado de ideia sobre retirar meu vestido.

"Srta. Jauregui?" A figura de Normani se revelou pela fresta aberta por mim.

"Olá, Normani. Você precisa de ajuda com algo?" Perguntei docemente.

"E... Eu posso dormir com você?" Sua pergunta fez-me engasgar por um segundo.

"O... O quê?"

"Dinah não está. Eu não quero correr esse risco." Explicou, fazendo-me arquear uma sobrancelha.

"Do que você está falando? Risco?" Questionei.

"Risco? Que risco?" Suas feições modificaram-se subitamente.

"Srta. Jauregui? Por que eu estou na porta do seu quarto? Por que os seus lábios estão vermelhos?" A perda de memória de Normani se manifestou.

"Entre, Normani." Suspirei, a morena deu de ombros e adentrou meu quarto.

"Dinah não está, eu acho que você deveria dormir aqui." Expliquei.

"Ela saiu com eles de novo? Eu espero que tudo esteja bem." Novamente, eu não entendi o que tal frase significava. Porém, devido à perda de memória e cansaço perceptível da acrobata, resolvi não realizar mais perguntas.

"Obrigada por me deixar dormir com você." Ela disse enquanto se aconchegava em minha cama, eu ri e desliguei as luzes.

"NÃO!" A escutei gritar e apertei o interruptor novamente, encarando-a em pura confusão.

"Eu tenho medo do escuro." Esclareceu, seus olhos ainda arregalados do susto que levara. Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto enquanto eu ligava um abajur e desligava as luzes.

Após colocar meus pijamas e me deitar ao lado de Normani, a morena abraçou-me e deitou a cabeça em meu peito, o lenço que Camila havia lhe dado permanecia amarrado em sua cabeça. Eu senti minhas bochechas queimarem com seu gesto.

"Esses jantares são cansativos. Eu gostaria que nós não precisássemos fazê-los." Ela comentou.

"É necessário?" Perguntei enquanto tocava seu cabelo com timidez.

"Nós precisamos deles, e eu acho que sempre precisaremos. Isso me preocupa." Normani contou.

"Por que isso seria preocupante?"

"Isso o quê?" A perda de memória falou mais alto, dessa vez em menor escala.

"Boa noite, Normani."

"Boa noite, srta. Jauregui"

Dark Times - Camren (Horror!Fanfic)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora