— Você tem outro, não é? Admite, Ana Clara, você sempre teve jeito de que não se contentava só com um. — A acusou.

Ana segurou o volante com mais força, sentindo seu sangue ferver de tanto ódio. Quem ele era pra achar que ela teria capacidade de traí-lo?

— Não tenho, mas deveria! — Falou baixo, esperando que ele não tivesse ouvindo, senão as coisas só iriam piorar.

— Isso é falta do que eu te causo na cama, poderíamos resolver isso, mas sempre tem uma dor de cabeça que te impede. — Sentiu nojo ao ouvir as palavras dele. Estava abismada com o nível que ele conseguiu chegar, e estava impressionada consigo por em algum momento ter pensado que seria uma boa ideia aturar o namorado porque antes ele demonstrava mais carinho. Mike estava completamente alterado, tirando conclusões erradas e a acusando de coisas que não fez, e ainda pior, culpando a falta de sexo. Até que nível aquilo chegaria se não tivesse mudado de ideia?

— É ridículo o que vou fazer agora, mas você não merece mais que isso... — Respirou fundo, para proferir com vontade todas as palavras que viriam em seguida e acabariam com tudo. Nunca imaginara que terminaria um namoro por ligação, mas era mais fácil fazer tal coisa, era só encerrar a chamada, desligar o celular e não teria mais que ouvir os protestos do ex namorado. Ia começar a falar quando ouviu uma freada e não teve tempo de pensar em mais nada.

O carro de Ana foi atingido na lateral por outro em alta velocidade. Em segundos perdeu pouco a pouco todos os seus sentidos.

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Já era a quarta vez que Vitória entrava naquele quarto, olhando a paciente no mesmo estado. Observou a morena que tinha um sono causado por sedativos, uma das pernas quebrada e por baixo da roupa do hospital, um curativo por conta da cirurgia. O soro pingava gradativamente enquanto ainda estava no começo. Aliás, Vitória o colocou ali há minutos atrás. Olhou a tela que marcava seus batimentos cardíacos e se sentou na cadeira ao lado da cama. Estava admirada com a beleza da mulher adormecida sobre o leito. Mesmo com a pele mais pálida que o normal, a perna engessada, e a roupa do hospital, continuava linda. Vitória pensou que talvez fosse a paciente mais linda que já passou por aquele hospital. Sabia que seu acidente fora causado por distração enquanto falava no celular, e não entendia como alguém tão inteligente no mundo da moda, poderia se esquecer de uma simples regra. Sim, Vitória reconheceu na hora em que pegou o prontuário de Ana, sabia que sua grife era conhecida, tanto que tinha em seu closet algumas peças assinadas pela mesma.

A médica se levantou da cadeira e caminhou até a janela do quarto, abrindo a persiana, observou de longe as árvores que começara a pouco ter suas folhas tingidas por tons mais quentes, e em breve pintariam o chão de São Paulo. Ana abriu os olhos, piscando várias vezes com dificuldade de mante-los abertos por conta da luz. Estranhou o lugar em que estava, tentou mexer as pernas mas uma delas estava imobilizada. Viu a agulha no dorso da mão e levou os olhos até o soro que ainda pingava. Só então percebeu a presença de uma mulher virada de costas para si. Vitória suspirou, voltando a fechar a persiana e virou devagar, vendo uma moren atordoada que respirava com certa dificuldade.

— A bela adormecida foi finalmente despertada do seu sono profundo. — Vitória proferiu em meio a um sorriso, caminhando a passos lentos em direção a Ana.

— É clichê se eu disser que não sei o que estou fazendo aqui? — O tom de voz de Ana saiu baixo.

— É clichê, mas você merece uma explicação. — Vitória voltou a se sentar ao lado da cama. — Você realmente não lembra de nada? — Ana forçou buscando uma lembrança, mas conseguiu um resultado incompleto.

— Lembro de estar terminando meu namoro por uma ligação.

— Enquanto dirigia, certo? — Vitória sorriu de canto quando Ana assentiu. — Por acaso a senhorita não sabe que isso não é algo que se faça?

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now