Revolução Natalina

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Natal era uma coisa muito estranha no Acampamento Meio-Sangue.

A grande maioria dos campistas voltava para sua família mortal e era recebida com bebidas quentes, banquetes deliciosos e presentes debaixo de um pinheiro na sala. Mas haviam os que não participavam de tudo isso, a eles damos o nome de Sós.

Os Sós eram formados pelos rejeitados, os órfãos, os ressentidos ou os confusos fugitivos. Esses eram os semideuses que ficavam no acampamento nos feriados familiares. Porque eles não sentiam ter uma família.

Clarisse fazia parte dos ressentidos. Ela não queria voltar para casa, para os braços da mãe que sempre a repreendeu e escondeu da filha que o motivo pelo qual aquelas criaturas a perseguiam não era pela sua aparência, e sim pelos seus poderes.

Annabeth fazia parte dos rejeitados. Ela não tinha um lar junto ao pai, ele não a queria por perto e ela não queria ficar perto dele. Por que quereria? O homem nunca a tratou com uma filha, sempre guardou rancor por ter sido abandonado pela deus a e não exitou antes de discontar esse ódio na pequena.

Travis e Connor faziam parte dos órfãos. Ou ao menos, eles esperavam isso. Não queriam ter que participar dos rejeitados, queriam acreditar que não tinham para quem voltar, porque não queriam voltar. Não para uma mulher que abandonou Travis e um pequeno Connor nos braços de um total desconhecido enquanto proferia maldições para os dois. Ela não era sua mãe, ela apenas... Lhes dera a luz.

Katie fazia parte dos confusos fugitivos. Aqueles que descobriam a verdade e se afastavam, querendo ficar longe da rede de mentiras que os cercava. Esse tipo de semideus geralmente demorava anos para notar que os pais estavam apenas tentado protegê-los, da melhor maneira que podiam.

A questão é que os natais no acampamento eram sempre silenciosos e tristes, só serviam para lembrar o quanto eles estavam sozinhos no mundo. Por ser um feriado cristão Quíron não tinha nada o que fazer, já que os Olimpianos proíbiram qualquer tipo de comemoração a feriados desse tipo.

A neve caía melancolicamente e o refeitório estava em um silêncio sepulcral. Aquilo irritou Travis de uma maneira que nunca antes havia irritado. Eles eram amigos o ano inteiro, faziam bagunça o ano inteiro, pregavam peças o ano inteiro, por que no Natal todos os anos era isso? Essa depressão?

– Chega disso! - Gritou para os poucos que ali estavam, todos o encararam com desinteresse, mais uma dos Stoll.

– Sente e coma, filhote de deus. - Resmungou o Sr. D., o único que parecia feliz com toda aquela falsa paz.

– Não! - Katie olhou repreendendo-o pelo atrevimento, por que ele não sentava logo?

– O que foi que disse...? - O deus erguia uma sobrancelha intrigado com o desaforo.

– É Natal, droga! Mesmo que não acreditemos nisso, não tem porquê todo esse climão. O Acampamento era pra ser um lugar divertido! - Quíron sorria fracamente, feliz pela iniciativa do filho de Hermes. Katie só faltava se enterrar de vergonha do namorado, queria poder pegá-lo pela orelha e o afogar no lago congelado.

– Caso você não saiba, Stoll, o Natal é uma época familiar, e que eu saiba nem você nem ninguém aqui tem família. - Ela estava com raiva, não queria realmente magoar ninguém dizendo aquilo, queria só que ele calasse a boca. Já era difícil passar a época sem ninguém comemorando e sorrindo, assim, com ele lembrando de que ela estava infeliz, era pior ainda.

– Eu tenho família. - Olhou para Quíron como se pedindo apoio. - Eu lembro que quando cheguei aqui você me disse que tudo ia ficar bem e que eu não estava sozinho. - Olhou para o irmão irritado. - O que Luke sempre dizia quando um novo campista chegava, hein Connor? - O mais novo murmurou algo. - Mais alto!

– Somos todos uma família aqui. - Travis sorriu orgulhoso e apontou para o irmão.

– Viu? Eu tenho família! - Ele falou e bateu o pé. - Todos aqui temos! Só esquecemos disso. - Procurou por apoio na mesa de Deméter e viu que Katie começava a encará-lo intrigada, não mais envergonhada. Aquilo lhe deu forças, seu discurso não estava tão ruim assim, afinal. - Nós temos até o mesmo sangue, droga! Não é porque não temos pais que não somos uma família. - Ele disse e um estrondo foi ouvido.

– Basta! - O Sr. D. encarava-o irritado. - Chega de sensacionalismo, Stoll. Essa é a única época do ano em que eu consigo ter um pouco de paz, então por que você simplesmente não cala a boca? - Quíron apenas observava tudo com uma expressão neutra, mas tinha um brilho orgulhoso no olhar. Quem diria que seria Travis a se voltar a favor da união do acampamento?

O diretor esbravejou, mas todos os campistas já murmuravam entre si e sorriam bolando ideias para sua festa natalina. Alguns "Ei, eu namoro minha prima!" foram ouvidos, fazendo com que muitos rissem. Travis sorria orgulhoso olhando para tudo maravilhado.

Quando o refeitório já havia virado uma verdadeira bagunça, com campistas correndo de mesa em mesa para trocar sugestões e planejar algum tipo de comemoração improvisada Katie cutucou-o. Travis olhou para ela com um brilho travesso no olhar.

– Eu te conheço, o que você está tramando, Stoll? - Nada de bom vinha do filho de Hermes.

– Nada, Kit-Katie... - Sorriu de canto, aquele sorriso dele, e puxou-a pela cintura encostando suas testas. - Eu estive pensando, você sabe o que é um visco? - A garota revirou os olhos.

– Minha mãe é a deusa da agricultura, o que você acha? - Ele sorriu como se estivesse acabado de ter a melhor ideia do mundo.

– Você bem que poderia encher o acampamento deles, não acha? Esses campistas precisam de um pouco de inspiração. - A menina riu e se aproximou mais.

– Assim? - De repente ele viu que um visco surgira da coluna ao lado deles e se pendurava bem entre os dois. Travis sorriu malicioso.

– Perfeito.

TratieWhere stories live. Discover now