Lágrimas de Champagne

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- Miranda. - Katie chorava, e mesmo depois da irmã tentar acalmá-la de todas as formas possíveis ela continuava chorando. Uma péssima maneira de passar o Ano Novo.

- Sim? - A mais nova acariciava os cabelos ruivos da outra, tentando fazer com que ela esquecesse a cena que presenciara.

- Sabe por que eu chamo isso - mostrou a caixa de bombons de cereja para a irmã - de bombons de emergência?

- Não, por quê? - Miranda limpou uma lágrima que escorria pela bochecha da conselheira-chefe enquanto essa abria outra embalagem do doce, colocando a trufa na boca.

- No meu primeiro Natal aqui a única coisa que eu queria era ficar sozinha, sabe, num canto. - A irmã não a interrompeu. - Ai os Stolls me arrastaram para uma guerra de bolas de neve, foi minha primeira, entende? - Sorriu fraco. - Eu nunca tinha brincado com crianças antes. - Miranda não pode evitar sorrir também. - E aí, quando eu voltei para o chalé na noite eu encontrei... Abra a gaveta. - Acenou para o criado-mudo, e a mais nova obedeceu. - Colado na parte de cima, um envelope, pode abrir. - Ali dentro tinha uma embalagem cuidadosamente dobrada e um bilhete, que Miranda leu e não evitou o riso fraco. - Foi o único presente de Natal que recebi naquele ano, e aquela trufa foi a única coisa que me fez sorrir e suportar o réveillon. - Katie suspirou olhando para o teto. - Mas agora não está funcionando. Bateu na caixa de bombons jogando a no chão, somente dois ainda não tinham sido comidos. - Eu não acredito que ele me deixou. - Olhando para Miranda com os olhos marejados balbuciou a frase que acompanhou todo o dia das duas. - Ele foi embora, Mi, ele me abandonou no Ano Novo.

- Não foi culpa dele, Katie, ele não pôde evitar.

- Ele podia... Ele devia! Ela não estava aqui quando ele chorou a morte do pégasus favorito! Ela não estava aqui quando Connor foi sozinho para uma missão! Ela não estava aqui para fazer uma festa surpresa pra ele! - Miranda rapidamente juntou um bombom do chão e Katie mordeu agradecida. - Ela só apareceu aqui e levou ele de mim! Do nada!

- Kay, você tem que entender... - Ela também sentia falta de Connor, mas entendia. Por que para Katie era tão difícil?

- Não é o que você está pensando, Mi... - Soluçou a mais velha. - É que ele me prometeu, no dia 1° daquele ano, que eu nunca mais ia ficar sozinha no ano novo.

- Você não está sozinha, eu estou aqui com você. - Acariciou os cabelos da irmã, mesmo sabendo que o consolo era inútil.

- Ele disse que eu sempre poderia bater nele no Ano Novo. Era uma tradição Miranda! Eu o batia todo Ano Novo! - Fechou os olhos encostando a cabeça na cabeceira da cama. - Nosso primeiro beijo foi no Ano Novo. - Ela sorriu a lembrança. - Eu fui bater nele e ele pegou minha mão, eu ri e antes que pudesse perguntar qualquer coisa ele estava me beijando. Era assim todo ano desde então, eu dava um tapinha em seu ombro e ele me beijava. - Sentou na cama. - Eu queria tanto que ele estivesse aqui...

- Ele vai estar no ano que vem e em todos os outros, e se contarmos os anos bissextos esse não é o Ano Novo de verdade, vocês podem comemorar quando quiserem.

- Eu o amo, Miranda. Ela não ama ele como eu o amo. - Olhou para a irmã com sinceridade e a dor da traição brilhando nos olhos. - Ela nunca foi mãe dele. Nunca.

- Isso se chama espírito natalino, nele temos incluso o perdão. - Miranda sorriu de lado e puxou Katie da cama. - Por que você não fica feliz e tenta conhecer sua sogra quando ela voltar?

- E se ele não quiser voltar? É a mãe dele, afinal, eles podem querer ficar com ela. - Novas lágrimas voltaram a escorrer pela sua face. - Ele já tem treinamento suficiente para se virar no mundo mortal, pode querer ficar por lá, de qualquer forma. - Então era isso que a incomodava. Não era o fato de tê-la trocado na noite de Ano Novo pela companhia da mãe, era o risco de serem separados. Isso fez com que a mais nova sorrisse ternamente.

- Ele te ama, Katie, não tem amor maior do que aquele que a gente tem por opção do coração, e não obrigação do sangue. - E limpando uma última lágrima que escorria completou. - Ele vai voltar, ele sempre vai voltar.

Foi a pior noite de Ano Novo que Katie já passou em toda sua vida, mas foi o melhor dia 4 de todos, quando no alto da colina ela chorou abraçando o rapaz que amava, enquanto ele a segurava forte contra si. Quando por fim se soltaram a filha de Deméter bateu tanto nele que ele teve que se proteger o rosto para não deixar marcas.

- Nunca. - Disse ela apontando o dedo em riste. - E eu disse nunca mais me abandone no Ano Novo, entendeu Stoll? - E então se beijaram apaixonadamente, até que Travis interrompeu o momento com um sorriso.

- Nem no Ano Novo nem em qualquer época do ano, Garnder. - E sussurrando contra sua boca completou. - Nunca mais.

TratieWhere stories live. Discover now