Capítulo 34 - Escuro como meu nome

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Amei e fui amada, dei e recebi. E agora, chegou ao fim, vou acabar assim, sem amor algum.

– Calma, não chora bebê, depois que terminarmos com você, nem irá sentir dor, e poderá voltar pra casa da mamãe, lugar de onde nunca deveria ter saído.

– Quem sabe guardar ela por uns dias para usarmos quando necessário?

– Não seria uma má ideia.

Armas sendo passadas pelo meu corpo, numa brincadeira sem nexo dos desgraçados, enfiam no sutiã, agora por debaixo da saia, continuam, por mais que implore para que cessem, eles não o fazem.

Deixo de sentir, fecho os olhos e mergulho fundo em meus pensamentos. Sem esperanças, depois de ser espancada, meus olhos estão fechados devido ao excesso de tapas, minha boca inchada e cortada, porque os beijos, os quais pareciam mordidas levavam meu sangue. A dor física podia ser suportável, mas a interna, não sei se um dia iria embora... só quero que acabe logo.

O destino brinca comigo, da forma que fui concebida, vou acabar morrendo!

Estupro é a pior violência a qual uma mulher pode sofrer. Se conseguir sair viva daqui, espero ter forças pra continuar vivendo, uma parte de mim morrerá nesse dia.

E no declive sem estabilidade, é queda livre.

Abro os olhos, ao escutar chutes e pontapés, tiros, corpos rolando no chão, homens brigando, pânico, rostos conhecidos, desconhecidos se socando, o medo paralisante se esvair indo, tudo acontecendo em câmera lenta e rápido demais.

Reconhecendo os defensores, posso dizer que valeu a pena sim, se hoje fosse o dia que meu eletrocardiograma virasse linha reta, tinha valido alguma coisa.

Rafael Austin e seu amigo Diego Kalel, lutavam a meu favor.

Cada pedaço quebrado podia se juntar.

Thor e Roberto Telles lutavam ao meu favor.

Cada palavra boa não dita teria a chance de vir à tona. Meu filho você terá chance, os anjos apareceram. Obrigada Deus.

Thor socava a boca de um, Roberto prendia outro num golpe que conhecia como mata leão, Diego e Rafael lutavam juntos contra três, então eu vi. O desconhecido apontando a arma. Eu não entendia nada de briga, muito menos sabia o que fazer, toda minha vida se resumia em apanhar, sabia aguentar o sofrimento. Mas quando você vive diversas vezes a mesma coisa chega a gravá-la na memória, pode ser bem usada.

Estiquei meus braços para pegar minha sandália jogada no chão como meu corpo, acertei com força nas costas do cara barbudo, dando a chance de Rafael acertá-lo em cheio. Fiz a mesma com a outra, em um dos caras que lutavam contra Roberto, tinha uma boa pontaria de tanto ser alvo, acertei novamente, Thor aproveitou a deixa para derrubá-lo.

Foi aí que tudo aconteceu.

Corri para o desconhecido de capuz, como nunca tinha feito antes na vida, sua arma apontada ora Rafael, ora Telles, ora Diego e Roberto, numa indecisão sádica de em quem atirar primeiro, pode ter causado tudo isso...

"Se entrar na frente morre" Austin dizia isso para os que o ameaçavam, realmente acontecia... A pouca coragem que tenho, vem da convivência a qual tivemos prazer de dividir por anos, vem do carinho das promessas de Telles de nunca estar sozinha, vem do bebê que precisa de mim, para vir ao mundo.

Rafael lutou contra meus males, guerreou as minhas batalhas.

Thor Telles por meio de brincadeiras leves ensinou a buscar forças no meu interior. Ele acreditava em mim.

E foi assim que vim parar aqui, rolando no chão com os dedos no gatilho, ora o cara de capuz por cima, ora a grávida, adrenalina deu forças para tentar roubar sua arma, meu filho me encheu de esperanças para lutar por ele, ela não acaba mesmo quando o homem defere socos contra o meu rosto, sinto o gosto metálico escorrendo pela garganta.

Vejo vermelho, brigamos ferozmente pela maldita arma de fogo, fisicamente não tinha a mínima chance, daria adeus a esse mundo facilmente, mas havia por quem vencer. E o homem a qual já considerava vitória certa, batia forte e glorioso na pobre mulher indefesa, no seu rosto brotava o sorriso maligno por acreditar ter tudo sobre controle.

A força de um amor pode ser poderosa. Agora de três amores estupendos gritando, no peito de uma pessoa apaixonada pode ser interminável, descomunal e potente até para um jogo perdido.

Afinal sou mesmo a grande rainha de copas.

– Larga ela seu filho da puta do caralho, – Rafael grita desesperadamente, enquanto um dos gigantes prendem seus braços outro defere socos no abdômen.

– Laylaaaa, atira – Thor alerta, deferindo socos contra oponente.

Fecho meus olhos.

E Boom.

Fica tudo escuro. Escuro como a noite, escuro como meu nome.

Meu Limite - QUEBRADOS 1Where stories live. Discover now