Capítulo 29 - Copo de açucar

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E ali enquanto nos abraçava analisei as coisas. Depois da noite cheia de turbulência, Thor Telles disse que me amava.

– Preciso de bebida alcoólica, para digerir tudo isso. Uma taça de vinho seria bem-vinda nesse momento, bem relaxante – meus músculos estão todos travados.

– Nada de bebida alcoólica, posso te relaxar de outras maneiras.

– Huuum – resmungo – sério, não sou viciada nem nada assim, mas...

– Mas nada Layla sua saúde em primeiro lugar – viro abruptamente de frente pro grande homem.

– Qual é Thor, o que existe de tão sério nesses exames? Já passou da hora de abrir o jogo comigo. – Questiono com irritação presente na face.

– Você tem anemia e precisa ser tratada – vira as costas, voltando a caminhar sem rumo pela sala de estar.

– Tem algo muito errado Thor, já estou bem melhor, é nítido isso, ando me alimentando feito uma ogra, mamãe mesmo diz, sei que tem algo impreciso comigo. Você sabe, não quer me dizer, mas você sabe...

– Layla para com isso, sem neura.

– Não, – falo mais alto que o necessário, com muito medo do que possa vir pela frente – me conta, posso aguentar.

Respira fundo, buscando um autocontrole que não cabe no momento. Certa de que jamais encontrará. Espero que abra a boca e me ofereça resposta, entretanto continua calado.

– Vou morrer Thor? Tem alguma coisa de errado comigo né? Sei disso... meu corpo não está normal, estou sentindo dores há alguns dias, não tive tempo e nem coragem pra buscar saber o porquê. E você sabe, não quer me contar isso é injusto.

Continua mudo. Senta-se no sofá os cotovelos posicionados no joelho, curva seu corpo sobre a cabeça, como se em breve fosse estourar.

– Layla não é isso, você não está doente, tirando o fato da anemia, a desnutrição...

– Então o que eu tenho? – Pergunto exasperada.

– Você tem um bebê. – Responde em tom baixo, joga uma bomba em meu colo, espera que receba de braços abertos, será que imaginou como essas palavras atingiram feito bala de calibre trinta e oito? Não existiria tempo de pensar sobre, como uma bala pode alcançar uma velocidade maior do que 975 metros por segundo, a esquiva é quase impossível e o local a torna mortal, na maioria das vezes, assim foi o ferimento causado por ele naquele instante.

Qualquer coisa fraca demasiada dentro de mim morreu.

– O que? – Tontura me abate, Thor aparece rápido demais ao meu lado, checando meu pulso, seu gesto caloroso me causa repulsa pela mágoa acumulada. Puxo minha mão de seu toque.

– Desculpa, não sabia como contar.

– Isso só pode ser uma piada, as pílulas que Luiza me dá pra controlar os hormônios não permitiram isso! – Digo pra mim mesmo analisando todas as possibilidades.

– Layla, foram feitos os exames e precisamos ir ao seu ginecologista, para iniciarmos os cuidados necessários eu vou...

– Você não tinha esse direito – choro por que é tudo que me resta – você não tinha esse direito.

– Não sabia o que fazer tá legal? Sua mãe não é confiável, você estava instável, Rafael é um filho da puta Layla, ele não merece esse bebê.

– Ele não merece, então quem merece?

– Eu – sussurra.

Aponto o dedo indicador em sua direção, a decepção, o pesar, a tristeza. Thor deferiu um golpe tão fundo, tirou meu equilíbrio, jamais estaria preparada pra algo assim, muito menos vindo dele.

– Esse segredo não era seu pra guardar.

O choque está estampado em seu rosto. E no meu, não a nada a não ser dor e lágrimas.

Universalmente falando de confiança sabemos o quão árduo é para vê-la nascer, e o quão descomplicado para que ela se vá. Sua partida é moralmente ilegal.

– Adeus!

Thor e Layla, agora estavam feitos copo de açúcar e água, quando misturados parece não ter nada além da coloração única de tão unidos e bonitos que ficavam juntos, mas deixe um tempo em repouso, á açúcar vai para o fundo do copo, à água fica mais transparente, é notável e lamentoso se ver o elo quase invisível que os separam.

Como poderia quebrar a regra número um de mamãe? "Não fique grávida"

A única certeza que tive, era que das trevas, sairia luz. E a luz seria boa. Um sentimento extraordinário possui meu intelecto. Digito o único número que me vem à cabeça, sei que devido a minha respiração dificultosa, irei apagar em breve, estou cansada de lutar contra os desmaios, estou cansada pra se quer continuar andando, chorando, falando, ou qualquer coisa.

– Preciso de você! – É tudo que posso dizer, antes de ficar escuro, escuro como a noite, escuro como meu nome.

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Meu Limite - QUEBRADOS 1Where stories live. Discover now