Capítulo 28 - Cristal quebrado

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Volta se para mim, andando calmamente até estarmos a um passo de distância um do outro. Segura me pelo queixo erguendo meu rosto para si. Busca compreensão no fundo dos meus olhos.

– Lógico que tem! Você tem 22 anos, é vacinada, independente. Me diz porquê? Aguentar tudo isso, seguir regas daquela mulher?

– Foi assim que aprendi a viver, desde o dia em que nasci, as regras existiam para serem cumpridas, caso contrário resultava em castigo, penalidade, calvário. –Desvio me de seu toque que de repente se torna pesado demais e caminho alguns passos para longe dele, tentando fugir da sua interrogação visual. – Eu não sei – sinto o peso do meu corpo cair sobre minhas pernas. De repente todo ar frio, desaparece, o sangue não deve estar circulando normalmente, insisto em continuar falando – ela aguentou muita coisa por mim, pra me dar uma boa vida. Thor ela fez coisas que ninguém faria, passou por coisas que ninguém passaria.

– A preço de que? Da sua alma? – O silêncio constrangedor formou uma nuvem de desconforto. Quis ter forças pra levantar e ir embora. A vertigem estava tomando conta.

Queria sentir raiva, ódio, rancor das palavras dele, mas era isso que tinha acontecido. Vendi minha alma para os caprichos de mamãe. E subitamente não sabia como sair do cativeiro, não foram às agressões constantes a quais sofri, que prenderam tudo de mim. Não foram as ameaças, a tristeza, o escuro. Foi o medo de que algo pudesse acontecer com ela, como uma overdose pelos remédios, ou a arma a qual mudava de esconderijo a cada semana. Eu seria culpada.

A minha mãe foi o distúrbio da palavra amor dentro de mim.

Eu a amava. E sabia que ela sentia algo parecido, do jeito indireto dela, existiam sentimentos. Sempre fui refém das suas vontades, não conhecia outra forma de viver. Não sabia como escapar.

Tonturas, vertigens, desmaios, visão embaçada, fraqueza, cansaço. Esses sintomas me acompanharam por grande parte da vida. A pressão baixa causada pela falta de alimentos, ou momentos intensos desesperadores, nervos à flor da pele, fazia com que ela surgisse, nos últimos dias, estava quase incontrolável. E eu não fazia ideia que aquilo podia ser um ataque de pânico.

O homem se ajoelha ao meu lado, medindo minha temperatura, preocupado, não parecia o mesmo que segundos atrás me tratou com desdém.

– É só minha pressão.

– Vamos ter que cuidar dessa saúde melhor, precisamos retornar ao médico e fazer alguns exames pra verificar o grau da anemia.

– Por que você se importa com uma pessoa sem alma?

– Layla você tem transtorno de personalidade, foi implantado em você e contamina todos ao seu redor. Não devia ter falado sobre sua alma, é que... – Deixei de escutar.

Minha boca se transforma em um C trêmulo de cabeça para baixo, meus olhos ardem com as lágrimas que saem. Sinto uma pontada no peito. Thor Telles descobriu como sou quebrada. E como qualquer um, vai se afastar de mim. Os motivos a quais eu dei pra que ficasse, se tornaram inexistentes.

O mundo gira embaraçoso ao meu redor, minha visão tem pontos negros, movo a cabeça de um lado para outro, com as mãos firmes como se isso a mantivesse no lugar.

– Esqueça que um dia me conheceu, fiz mesmo tudo errado, sou a pior escória que poderia encontrar, não sou feita para um Telles. – Cada palavras doía como uma picada abelha ao ser dita, precisava libertá-lo de mim mesma. – É uma pena, porque queria realmente pertencer a algum lugar. Enfim, desculpa por todo mal que te fiz. Obrigada por tudo que fez por mim.

Algumas gotas salgadas caem dos meus olhos, giro nos calcanhares em busca da saída. Perder Rafael ainda doía, agora somado com a perca de Thor foi exorbitante, descomunal. Pesava fundo no espírito. Ardiam às veias, o sangue circulava em bagunça periódica.

Qual o tempo necessário para que alguém desconsidere a hipótese de viver longe um do outro? Existe um método correto para descobrir qual sentimento real, ou qual é causado pela lacuna da solidão instalada? Como medir a intensidade gerada no seu interior? Suportar a falta benevolência, que pode levar alguém à loucura?

Estou próxima à porta, rumo ao fim, quando escuto seus passos apressados, acelero os meus para alcançar a saída.

Meu cotovelo é segurado com força controlada, seu braço envolve minha cintura, deposita suas mãos unidas para cima da minha barriga, as costas batem contra seu peito e no vão do pescoço desnudo sua barba arranha sem piedade, nos encaixando assim.

Passaram-se alguns minutos permanecemos imóveis e calados, apenas desfrutando da proximidade, até rompe a quietude nos virando um para o outro, tem seu nariz roçando perigosamente o meu. Esse homem exala perigo, é impossível não ter a sanidade afetada pela sua respiração quente, seu olhar penetrante e a boca vermelha. Ele é o desenho perfeito do pecado.

– Desculpa, mas eu não posso te deixar ir. – Sussurra, trazendo sua boca gostosa pra minha, consigo virar o rosto a contragosto necessário. Dessa vez sou eu quem busca no topázio compreensão para tal atitude.

Estou perdida num labirinto de sentimentos, os braços dele, sua respiração, nossa proximidade, revela que por detrás da mágoa, existe algo ainda mais forte. O que será que nos une até quando nos tornamos cristal quebrado?

Meu Limite - QUEBRADOS 1حيث تعيش القصص. اكتشف الآن