XXII - OS GUARDIÕES

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— Aquele homem é... — Millo sussurrou.

— Um homem azul. — Meicy completou sem muita surpresa.

— Eu nunca pensei que viveria para ver algum.

— Mas que coisa asquerosa! — Kainã falou sem se preocupar com o tom de voz.

— Cala a boca, Kainã! — Kelmo reclamou, impaciente.

Antes de Kainã poder protestar, Salomon havia parado de caminhar subitamente. Com os olhos estreitos observava aqueles dois estranhos que ao notá-lo foram ao seu encontro. Os jovens observavam aquela aproximação. Aquelas figuras deveriam ser os supostos guardiões a serem treinados. Era realmente bastante curioso.

Uma mulher com uma densa cabeleira castanha e encaracolada tomava a frente, sendo seguida por um homem bastante alto, de longo cabelo negro preso com um barbante e a pele azul escura vista de perto ainda era mais intensa. Tanto o homem quanto a mulher trajavam um grosso tecido escuro, que mais lembrava um grande casaco e um lenço envolvido no pescoço que além de cobrir a cabeça também protegia o nariz e a boca. Eles levavam na cintura suas bainhas com espadas e pelas faces manchadas de suor e sujeira, percebia que eles viajavam há uns dias.

— O que aconteceu aqui? — Salomon perguntou antes que os dois estranhos parassem de caminhar.

A mulher olhou ao redor. Os seus olhos verdes se destacaram no ambiente amarelado, a sua pele queimada lhe entregava a sua exposição ao sol escaldante. Ela abaixou o lenço que ocultava seus lábios. Incrivelmente, era uma mulher formosa, mas nem isso distraía os olhos do ancião.

— Estamos tão surpresos quanto o senhor. — Ela falou. — Estamos viajando a dias por esse deserto. Ele se estende até a fronteira. — Ela apontou o indicador para a direção de umas dunas de areia.

— Mas já investigamos um pouco por aqui e encontramos uma floresta há algumas milhas. — O homem azul completou.

Salomon cerrou os dentes em frustração.

— Então nos leve para lá e nos tire desse inferno!

Os dois guardiões assentiram com a ordem e tomaram a frente para uma longa caminhada. O ancião os seguiu acompanhado pelos seis jovens logo atrás. Kainã resmungava já impaciente com aquela missão. Kelmo e Adádidas preservavam o silêncio, mas no fundo, ambos já admitiam a falta de empolgação para se aventurarem naquele mundo. Lirah ainda jazia preocupada e Millo tentava reconfortá-la com palavras gentis. Meicy, no entanto, caminhava lentamente se deixando por último. Estava perdido em seus pensamentos, uma sensação agourenta o tomava, era bem pior que as auras macabras dos lobos demônios em Karkariá. Ele temia por algo ruim. Aquele deserto não surgiu ali magicamente e ele sabia que Salomon pensava o mesmo.

☽✳☾ 

O clima estava mais fresco, graças à sombra das árvores. Eram enormes plantas de algumas espécies desconhecidas para os bruxos. O caule era escuro, grosso e percebia a densa folhagem que se formava nas copas e protegia-os do sol. Eles estavam em uma clareira em meio a mata, mas não tão distantes da área desértica. Sentaram-se no chão para descansarem e Salomon permitiu que eles retirassem as máscaras e os mantos.

— Méyrios era um lugar lindo. Um bosque verde e florido. — O homem azul falava enquanto retirava a grossa camada de roupa do corpo. — Havia fadas por lá, mesmo nunca ter visto alguma, mas foi o que me ensinaram sobre.

O homem revelou umas vestimentas antigas, que lembravam as antigas ilustrações dos livros de História do Instituo. Mengie realmente era um planeta atrasado. A túnica amarelada por sujeira do guardião chegava até a altura dos joelhos, não possuía botões e o cinto onde carregava a bainha deixava a vestimenta cinturada. A calça era um tanto justa na cor verde escuro e os sapatos marrons pareciam ser finos e folgados nos pés. Kainã pareceu rir sem disfarçar, mas todos o ignoraram.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOWhere stories live. Discover now