CAPÍTULO 4

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Cha Eun Woo

- Deveríamos sair um pouco ao invés de ficarmos aqui olhando os traços um do outro - sugeriu Xiumin hyeong (é como os homens mais novos se direcionam aos homens mais velhos).

- E para onde iríamos? - perguntou Tae Hoon, enquanto mexia no celular.

- Qual é? É Seoul e o clima está quente - disse hyeong, escorregando a coluna na cadeira.

- Seja direto, hyeong! - falei.

- Essa é a forma dele dizer que precisamos ir ao parque aquático - explicou Tae Hoon, se abanando com um pedaço da camisa agora.

- Parque aquático? Não parece ruim.

Era sempre assim: Quando o hyeong sugeria algo, de qualquer forma, mesmo que eu negasse, ele seduzia Tae Hoon para me convencer de que seria legal. Desta vez, eu apenas concordei sem nenhuma democracia.

Era dia de sábado, o parque estava repleto de pessoas. As crianças corriam para lá e para cá equilibrando boias nas mãos, às vezes nos arremessando alguns grãos de areia nas pernas. Detalhes sempre me cativaram, então meus olhos vagaram com cuidado por ali, analisando aquele ambiente não muito rotineiro a mim. Andamos mais um pouco e a brisa toca o meu rosto quando uma imagem deslumbrante me congela os passos. Quase solucei.

- Por que não vai lá? - incentivou Xiumin.

- Oh? - desviei meu olhar para ele.

- Xiumin hyeong, tem razão. Você deveria ir lá. - comentou Tae Hoon, sendo cúmplice.

- Olha, se te ajuda, nós a conhecemos, é uma garota legal - um sorriso de canto surgiu nos lábios do hyeong.

Nenhum estudo ainda comprovou ser possível controlar seus sentimentos tão facilmente quanto beber um copo d'água. Se apaixonar é a maior incógnita já percebida pela humanidade, e se isso acontece, me parece muito difícil conter os batimentos acelerados que vibram o peito por completo. Entrei em conflito - confesso. Para alguém que coloca todos a sua volta acima de tudo, assim como eu, foi como merecer uma eternidade de culpa por reparar demais na beleza de uma garota, ou na forma como ela sorri tão facilmente ao olhar para uma simples paisagem, nada comparada aos pés de tamanha beldade.

- Hyeong, sua namorada sabe que você está aqui? - perguntei a ele.

- Eung (os coreanos usam esta expressão informal para afirmarem ou concordarem com algo) - concordou. - Ela sabe, só não está aqui porque teve que retornar ao Brasil urgentemente.

- Ah, entendo. E por que não foi com ela? - indaguei.

- A família tinha assuntos importantes para tratar, e talvez minha presença não fosse tão conveniente.

- Mas, Xiumin hyeong, você é o namorado dela, devia ter ido - comentou Tae Hoon.

- É que ainda não nos apresentamos aos pais de ambos, então vocês são capazes de me entender, certo? - Disse ele, parecendo tímido.

- Ahhh, você é uma pessoa horrível, hyeong. Deveria tomar a iniciativa - brinquei.

- Olha você falando isso - riu, em deboche - Vá logo até a garota.

Não os ouvi, até porque nunca fui muito afortunado quando o assunto era sobre garotas.

- Garotos, a verdade é que... eu sinto falta do meu marshmallow. - comentou Xiumin, enquanto nos aproximávamos do tobogã. Seu semblante havia mudado, já não era mais o divertido de sempre. Vi que seus olhos caíram quando forçou um sorriso para mim. - Eu sinto falta dela - disse, quase choramingando.

- Não acredito que estamos ouvindo isso, hyeong - falei.

- Eu não sabia que uma garota podia fazer isso com o hyeong - Tae Hoon não segurou uma risada.

- Devo contar sobre nosso primeiro encontro? Eu estava indo na gravadora levar o... - Tae Hoon o interrompeu. - Hyeong, jebal (por favor, apelativo).

Continuamos vagando pelo parque. Xiumin hyeong e Tae Hoon acabaram sendo seduzidos por um tobogã um tanto curioso, era o mais alto do parque e a fila se estendia a cada minuto, enquanto eu aproveitei para me afastar um pouco e sentir a temperatura fria e relaxante da areia sob meus pés. Meu coração agora já estava calmo, mas aquele rosto não saía da minha mente acostumada a assuntos burocráticos da empresa. Mais alguns passos e sou surpreendido pela ameaça da chegada de uma onda artificial avançando em uma direção próxima. A garota de beleza exorbitante estava lá prestes a ser atingida, e corri como nunca havia feito antes para segurá-la.

- Gwaenchanhayo (você está bem, termo educado)? - perguntei, tendo a oportunidade de encarar seus olhos de perto.

Fez que sim com a cabeça.

- Gamsahabnida (obrigada, termo educado) - respondeu um pouco ofegante, parecendo assustada.

Limpei a garganta quando me dei conta daquele meu comportamento. Quis me sentir envergonhado e até pedir desculpa por ter segurado ela. Que idiotice! Eu a salvei daquela onda. Ela olhava para mim como se buscasse por respostas. Não consegui conter um sorriso tímido. Ele não saía de mim. Afastei meus braços dela.

- Hã... tenha mais cuidado da próxima vez - aconselhei, colocando sobre seus ombros o colete salva-vidas que vinha carregando para o hyeong, que gostava de se aventurar nos jet-ski.

- Sim, obrigada.

Lee Soo Ah

Eu nunca tinha visto olhos como aqueles. Eram diferentes; um olhar triste mas dócil que guardava uma sinceridade ingênua. Com certeza não me fariam pensar duas vezes caso eu tivesse uma outra oportunidade de encontrá-lo novamente. Meu corpo ainda permanecia em choque por eu pensar que poderia ter sido atingida por aquela onda. E assim como um milagre, aquele belo rapaz me apareceu.

Cha Eun Woo

- Eu preciso ir - falei, enquanto já me afastava.

Qual seria a estimativa de segundos para começar a ter uma garota em pensamento com frequência após o primeiro contato físico?

- Onde você estava? - me perguntou Tae Hoon, espantando algumas gotículas de água do cabelo.

- Acho que me distraí e acabei indo até a piscina artificial enquanto vocês estavam olhando para o outro lado - respondi.

- Sua roupa nem está molhada - disse Xiumin, puxando a minha camisa.

- E nem o seu cabelo - complementou Tae Hoon.

- Está suado - Xiumin cerrou os olhos.

Engoli em seco.

- Eu não entrei na piscina. Apenas andei um pouco à beira. Queria sentir um pouco da areia fria nos pés.

- "Queria sentir um pouco da areia fria nos pés" - Xiumin repetiu, com seu deboche provocador.

Revirei os olhos.

- Já podemos voltar para casa?

- O que? Ainda nem nos divertimos direito. Você nem entrou no tobogã - rebateu o hyeong.

- Podemos voltar outro dia.

- Primo, acabamos de chegar.

- Teremos tempo para isso - falei.

- Ter tempo para se divertir é uma coisa rara para o nosso Cha Eun Woo - disse o hyeong, balançando a cabeça em negação.

- Apenas vamos - falei, já começando a avançar os passos.

- Ei, está brincando? Eu não quero ir. Ainda nem andei no jet-ski. E, a propósito, onde está o colete?

- Eu já devolvi.

- Cara, como pode ser tão chato?

O Mistério Em Seu OlharWo Geschichten leben. Entdecke jetzt