PRÓLOGO I

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Cha Eun Woo

Eu estava entediado, deitado no sofá da sala com um livro sobre o peito. Consultoria em RH nunca foi tão entediante. Mamãe havia levado as gêmeas a um concerto de piano. Minha irmã mais nova deveria estar aproveitando a companhia do papai na compra de novos brinquedos. Minha irmã mais velha provavelmente estaria no campus fazendo horas extracurriculares, eu era o único em casa.

Meu primo Tae Hoon e meu melhor amigo, Xiumin, resolveram sugerir que fôssemos ao parque aquático, parecia bom, o clima estava quente e ficar em casa sem as minhas irmãs não estava sendo uma experiência muito agradável. Pegamos o carro do Xiumin e seguimos em direção ao parque, sem paradas pelo caminho. Era dia de sábado, o parque estava repleto de pessoas. As crianças corriam para lá e para cá equilibrando boias nas mãos, às vezes nos arremessando alguns grãos de areia nas pernas. Detalhes sempre me cativaram, então meus olhos vagaram com cuidado por ali, analisando aquele ambiente não muito rotineiro a mim. Andamos mais um pouco e a brisa toca o meu rosto quando uma imagem deslumbrante me congela os passos. Quase solucei.
Meu primo e amigo não deixam nada passar.

— Wow, acho que nosso querido e ingênuo Eun Woo está — Xiumin fez uma pausa esperando que Tae Hoon continuasse — "Caidinho" por alguém — finalizaram, rindo.

Limpei a garganta para tentar dizer algo, ainda que sentisse como se meus pés estivessem colados à areia.

— Do que estão falando? — indaguei, tentando não demonstrar nervosismo na fala.

Continuaram rindo.

— Por que não vai lá? — incentivou Xiumin.

— Oh? — desviei meu olhar para ele.

— Xiumin hyeong (é como os homens mais novos se dirigem aos homens mais velhos) tem razão. Você deveria ir lá. — comentou Tae Hoon, sendo cúmplice.

— Olha, se te ajuda, nós a conhecemos, é uma garota legal — um sorriso de canto surgiu nos lábios do hyeong.

— C-como a conhecem? — perguntei, um pouco retraído.

— Isso não importa, apenas vá — riu Xiumin, me dando um leve empurrão.

Nenhum estudo ainda comprovou ser possível controlar seus sentimentos tão facilmente quanto beber um copo d'água. Se apaixonar é a maior incógnita já percebida pela humanidade, e se isso acontece, me parece muito difícil conter os batimentos acelerados que vibram o peito por completo. Entrei em conflito — confesso. Para alguém que coloca todos a sua volta acima de tudo, assim como eu, foi como merecer uma eternidade de culpa por reparar demais na beleza de uma garota, ou na forma como ela sorri tão facilmente ao olhar para uma simples paisagem, nada comparada aos pés de tamanha beldade.

Hyeong, sua namorada sabe que você está aqui? — o provoquei.

Eung (os coreanos usam esta expressão informal para afirmarem ou concordarem com algo) — concordou. — Ela sabe, só não está aqui porque teve que voltar para o Brasil urgentemente.

— Ah, entendo. E por que não foi com ela?

— Assunto de família.

— Mas, hyeong, você é o namorado dela, devia ter ido — comentou Tae Hoon.

— É que ainda não nos apresentamos aos pais de ambos, então vocês são capazes de me entender, certo? — Disse ele, agora retraído.

— Ahhh, você é uma pessoa horrível, hyeong. Deveria tomar a iniciativa — brinquei.

— Olha você falando isso — riu, em deboche. — Vá logo até a garota.

Não dei ouvidos, até porque nunca fui muito afortunado quando o assunto era sobre garotas.

Continuamos vagando pelo parque. Xiumin hyeong e Tae Hoon acabaram sendo seduzidos por um tobogã um tanto curioso, era o mais alto do parque e a fila se estendia a cada minuto, enquanto eu aproveitei para me afastar um pouco e sentir a temperatura fria e relaxante da areia sob meus pés. Meu coração agora já estava calmo, mas aquele rosto não saía da minha mente acostumada a assuntos burocráticos da empresa. Mais alguns passos e sou surpreendido pela ameaça da chegada de uma onda artificial avançando em uma direção próxima. A garota de beleza exorbitante estava lá prestes a ser atingida, e corri como nunca havia feito antes para segurá-la.

Gwaenchanhayo (você está bem, termo educado)? — perguntei, tendo a oportunidade de encarar seus olhos de perto.

O Mistério Em Seu OlharOnde as histórias ganham vida. Descobre agora