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André


Funeral.

Eram três da tarde e já estava terrivelmente cansado.

Tinha prometido à Lis que trataria de tudo e que não precisava de se preocupar com nada, apenas com a mãe. De manhã já tinha feito duas viagens até casa dos meus pais para buscar o André. Queríamos estar com ele antes da cerimónia fúnebre na igreja e como a minha mãe não iria para ficar com o André decidi busca-lo antes de sairmos de casa. O brilho no olhar assim que ele entrou pela casa a correr um pouco atabalhoado era de cortar a respiração. Sem ser comigo, o nosso filho era a única pessoa capaz de lhe colocar um sorriso no rosto no meio de toda esta tristeza.

Fiquei encostado junto à ombreira da porta da sala enquanto os via a brincar com um carro. As gargalhadas do pequeno eram incrivelmente contagiantes e era excelente para desanuviar um pouco a cabeça.

- Papá! - A voz do pequeno sobrepôs-se a tudo e não consegui de deixar de sorrir feito parvo ao ouvir aquilo. Sentia um enorme remoinho dentro de mim sempre que ouvia aquela palavra. O sonho de ser pai sempre esteve presente na minha vida e agora estava mais do que concretizado. Era tão estranho mas ao mesmo tempo tão bom.

Ficamos a brincar com ele durante aproximadamente meia hora e apesar de em alguns momentos a Lis simplesmente desaparecer mentalmente dali sabia que aquele tempo era ouro para ela. Voltei a pegar no carro desta vez para levar o André de volta a casa dos meus pais para assim podermos voltar para a igreja.

Ela ficou bastante surpreendida por ver alguns colegas de faculdade junto à igreja assim que chegamos. O seu olhar voou à velocidade da luz para o meu e uma pequena lágrima escorrer pela face quando murmurava um "obrigada" praticamente inaudível. Tive a ajuda preciosa da Joana porque não fazia ideia quem eram os amigos mais próximos dela. Antes que ela me ajudasse ainda tive que ouvir um sermão parecido com o do Afonso sobre não estragar as coisas e cuidar muito bem da Lis.

Claro que iria cuidar dela. É o meu principal trabalho da vida.

Tentei não ficar muito chateado nem com vontade de socar ninguém quando percebi que os amigos mais próximos da minha namorada eram homens. A única rapariga próxima dela era a Joana que é considerada uma irmã. Também tive que respirar fundo duas ou três vezes quando liguei para o director dela e fiz um exercício de respiração longo e relaxante quando liguei para o Rui.

Vês, amor. Estou um verdadeiro príncipe encantado.

Também ainda estava indeciso sobre o que fazer ao Guilherme já que ele tinha decidido não pôr ali os pés. Percebi que a Lis ficou um pouco desiludida quando não encontrou o ex-namorado por ali. Por incrível que pareça apetecia-me bater-lhe por não ter aparecido. Apesar de tudo eram amigos e ela ainda valorizava a amizade deles. Só o facto de ele não ter aparecido mostra o quanto não merece o respeito da Lis.

A minha mão direita nunca deixou o fundo das costas da minha pequena enquanto era abraçada pelos vários amigos que não sabia o nome. Ela apresentou-nos e o sorriso não abandonou o meu rosto quando ela pronunciou "namorado".

- Obrigada por terem vindo. - Agradeci e a Lis olhava para mim como se tivesse entrado num mundo paralelo.

- Onde é que está o André? - Questionou pelo facto de ainda não ter feito nenhuma cena de homem das cavernas como ela gostava de chamar.

- Prestes a sair se mais algum deles te abraçar por mais de dez segundos. - Brinquei. Todo o seu corpo se virou para mim e encostou a cabeça no meu peito. Os meus braços automaticamente a abraçaram protegendo-a do mundo.

André | André SilvaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz