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Aqueci uma chávena de chá enquanto esperava que a Joana aparecesse novamente na tela do telemóvel. Sentia algumas dores no joelho o que já era normal em mim e ainda estava um pouco indisposta do estomago apesar de ter passado bem a noite. O corpo também estava um pouco dorido por ter ficado praticamente a noite toda numa posição nada confortável. Por mais que tivesse tentado levantar-me daquela cama para ir dormir no quarto da Joana o coração queria ficar ali. Por mais que tentasse explicar-me que na manhã seguinte aquilo não passaria de um sonho e que tudo voltaria ao mesmo, aqueles preciosos minutos e horas que passava ao lado do André eram o suficiente para aquecer a minha alma.

Imagens nossas passaram na minha mente durante toda a noite recordando-me do quanto o nosso amor fazia sentido. E principalmente o quanto as minhas decisões prejudicaram e destruíram tudo o que tínhamos de bom. Se me arrependo? Não porque achava genuinamente que o que estava a fazer na altura era o mais acertado. Não me posso arrepender de algo que achava que era o melhor para ambos.

- Diz-me que não fizeram sexo, Lis! – A voz da Joana tirou-me dos meus desvaneios e concentrei-me no telemóvel e na chávena de chá. – Eu sei que ainda gostas dele mas depois do que ele fez esta tarde é melhor não se envolverem intimamente. E eu ainda o continuo a odiar para que conste.

- Achas-me com cara de quem se esteve a divertir esta noite? – Assim que me vi ao espelho até me assustei com a camada de olheiras que tinha e do ar cansado. Até podia ser sinónimo de actividades sexuais durante toda a noite mas neste caso era tudo menos isso.

- Não. – Respondeu prontamente tornando o semblante mais triste e carregado. – Embora isso me entristeça para mal dos meus pecados.

- Não há quem te perceba, Joana. Não queres que me envolva com o André mas depois ficas triste por não o fazer. Como é suposto perceber alguma coisa? – Esta rapariga podia ser bastante complicada quando queria.

- Só quero a tua felicidade, Lis. Por mais que não goste do André e que às vezes me apeteça manda-lo num foguetão para o espaço por te fazer sofrer mesmo sem saber, sei que ele é o único homem que poderá voltar a conquistar o teu coração. – Odiava que ela tivesse razão e que me conhecesse tão bem.

- Ele disse que me amava, Joana. – Não sei porquê mas senti a necessidade de dizer aquelas palavras em voz alta. Talvez por medo de achar que se não as ouvisse novamente tudo não passasse de um sonho.

- Repete lá isso novamente. Acho que a ligação ficou com problemas. – A expressão da Joana era de surpresa total.

- Foi pouco tempo antes de adormecer e ainda estava sob efeitos do álcool quando disse que me amava. – Expliquei. De repente senti-me bastante patética por estar tão agarrada a algo que hoje para ele é mentira.

- Oh, Lis.

- Eu sei, Joana. Não precisas do dizer, vou esquecer que ele alguma vez disse essas palavras e não pensar mais no assunto. – Interrompi-a. – Agora como está o meu pequenino? Dormiu bem a noite na vossa companhia.

- És uma péssima mudadora de assuntos se é que isso existe. – Começou. – Quanto ao meu afilhado devo dizer que o andas a habituar muito mal.

- Então porquê?

- Ele queria a todo o custo adormecer em cima do meu peito. Como é que o consegues adormece-lo daquela maneira? Para mim foi tão desconfortável que até achava que o estava a magoar. – Sorri. Para mim era tão natural tê-lo junto a mim, ele era parte de mim e qualquer que fosse a posição para o adormecer era sempre o encaixe perfeito.

- Isso é porque ele é meu filho, sua tonta. Ele dormiu bem, pelo menos? – Questionei. Ele tinha o péssimo hábito de demorar mais tempo a adormecer em locais que não conhecia. Ficava demasiado tempo a olhar em volta mesmo que tivesse muito cansado.

André | André SilvaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora