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Poderia facilmente contar pelos dedos em que tinha presenciado estados de embriaguez por parte do André. Quando íamos sair à noite ele tinha sempre o cuidado para não ultrapassar o limite e só o fazia em casos muito excepcionais. Daí a minha total surpresa ao perceber do seu estado horas depois de descobrir que era pai.

- Onde é que estás, André? – Questionei levantando-me e indo em direcção ao interior da casa. – Vou buscar-te onde estiveres. – Conclui. Não conseguia distinguir barulho nenhum do outro lado da linha para que me ajudasse a descobrir onde estava.

- Onde estou? – O moreno riu-se ruidosamente levando-me a afastar o aparelho electrónico do ouvido. – Estou no paraíso! – Gritou. Não queria acreditar que ele estava a fazer um verdadeiro espectáculo provavelmente no meio da rua. Só rezava para que ninguém o reconhecesse e não tornasse aquela situação ainda pior.

- Ouve-me, André. – Respirei fundo parando no meio da sala – Pára de rir e o que estiveres a fazer no momento e diz-me onde estás para que vá aí ter. Ainda te podes magoar ou acontecer algo pior. – Tudo o que ouvi foram gargalhadas como resposta. Será que este era o meu castigo por não lhe ter contado da gravidez?

- Foda-se. Colabora comigo. – Praguejei. Finalmente o riso cessou e tudo o que ouvia era um barulho de fundo indecifrável. Esperei para ouvir alguma coisa mas nada acontecia. Será que lhe tinha acontecido alguma coisa? – André? Estás aí? – Comecei a ficar realmente preocupada com a ausência de comunicação da outra parte da linha. – André? – Voltei a questionar quando peguei nas chaves de casa e quando ia apanhar as chaves do carro lembrei-me que tinha emprestado o carro à Joana. – Caralho! – Voltei a praguejar. Isto não estava a correr nada bem. – Falas ou és um homem morto quando te vir, André. – Acusei-o.

- Não podes dizer asneiras à frente do nosso filho. – Não sabia se haveria de ficar aliviada ou irritada quando o André finalmente deu sinais de vida. – Nem matar o pai do teu filho. – Concluiu como se nada fosse. Isto estava mesmo a acontecer? Ainda há horas queria o teste de paternidade agora já falava como se fosse filho dele?

- Também não queria que o pai do meu filho estivesse podre de bêbado e está. Parece que não vamos ter o que ambos queremos. – Respondi perdendo a paciência. – E ainda bem que ele não está comigo pois seria muito decepcionante ver-te nesse estado deplorável. – Passou-me pela cabeça desligar o telemóvel e não querer saber de mais nada mas o meu lado racional levou a melhor. Não podia abandona-lo no estado em que estava. Saí de casa apenas com a chave de casa no bolso e com o telemóvel.

- Agora que ambos estamos mais calmos vamos falar. – Comecei. Olhei para a esquerda e para a direita. O meu instinto mandou-me para a esquerda e foi isso que fiz. Só esperava que ele não tivesse ido para muito longe. – Podes-me dizer o que vês? – Questionei.

- O que vejo? – Ele arrastava cada vez mais as palavras. Quanto é que teria bebido? – O que vejo é apenas um ténis nos pés. Onde é que está o outro? – Ele soava cada vez mais desnorteado.

- Como é que só tens um calçado? – Como é que não se apercebia que estava meio descalço.

- Oh, aqui está ele. Como é que saíste do meu pé, malandro? – Não acho que estivesse a falar comigo. Percorri a rua o mais rápido que consegui para chegar junto à costa. Toda a marginal junto à praia está repleta de bares abertos, só esperava que estivesse por lá perdido. – Já encontrei o outro ténis, Lis.

- Olha que bom André. Isso já é uma enorme vitória. – Ironizei – Agora só preciso que me digas onde estás para que te encontre. – Falei calmamente para que entendesse cada palavra e conseguisse processar no seu cérebro agora mais lento.

André | André SilvaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora