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Tudo à minha volta parecia estar a tremer. Encostei-me ao armário atrás de mim com a mão sobre o meu peito enquanto esperava que os batimentos cardíacos acalmassem um pouco. A sensação dos lábios do André sobre os meus ainda perdurava deixando uma espécie de formigueiro. A minha mente só conseguia reviver vezes sem conta esse momento e em como todo o meu corpo pareceu ganhar vida. Como se tivesse adormecida todos estes anos e finalmente comecei a acordar. Um sorriso enorme desenhou-se nos meus lábios e sabia que estava definitivamente tramada.

Eu amava-o.

Mas a questão mais importante era se estaria pronta para ama-lo novamente. Principalmente conseguir perdoar-me por tudo o que fiz.

Como era possível, aparentemente, ele querer uma segunda oportunidade comigo depois de tudo?

Percebi aos poucos que daria tudo de mim para voltar a beija-lo. Para voltar a sentir aquele amor incondicional que me rodeava sempre que olhava para mim. Voltar a sentir-me apaixonada por algo que não fosse o meu filho ou a minha profissão.

Olhei para o meu filho que dormia serenamente sem nenhuma noção da confusão emocional em que a mãe se encontrava. Sorri parvamente ao imaginar todos nós como uma família, uma verdadeira família como deveríamos ter sido sempre.

Uma batida na porta fez-me olhar nessa direcção e entrou a Joana sorrateiramente para não acordar o André.

- Precisamos de falar. - Disse a Joana praticamente a sussurrar. - Anda! - Desencostei-me do armário e acompanhei-a para fora do quarto. Fomos para o quarto dela que fechou a porta assim que passei por ela deitando-me na cama.

- O que se passa? - Questionei praticamente adivinhando o motivo desta conversa tão urgente.

- Porque é que o André saiu daqui com um sorriso enorme no rosto? Acho que nunca o tinha visto assim desde que estamos aqui. - Estaria a mentir se dissesse que não me senti feliz ao ouvir aquela declaração. No fundo, ainda poderia haver esperança entre nós.

- Não faço a mínima ideia. - Decidi prolongar um pouco o sofrimento dela e não contar de imediato.

- Não me enganas. - A morena sentou-se ao meu lado da cama com toda a vontade para descobrir tudo. - Desembucha de uma vez ou sou obrigada a fazer-te falar.

- Não precisamos de chegar a tanto. - Disse levantando os braços em sinal de falsa rendição. - O que queres que te diga?

- Tudo! - A Joana parecia uma criança entusiasmada à espera de abrir as prendas de natal.

- Tudo o quê? - Fiz-me novamente desentendida e tudo o que vejo a seguir é uma almofada a vir na minha direcção.

- Acabei de sair do hospital, não posso sofrer por antecipação! - Resmungou atirando outra almofada apenas com um braço ao me ver a rir. - Não tem piada.

- Mas queres saber o que se passou? - Questionei sabendo que estava a testar os limites da paciência da Joana.

- Pára de gozar comigo e conta de uma vez o que se passou no teu quarto. - Decidi que não a podia fazer sofrer mais e correr o risco de ser atacada.

- Depois de colocar o André na cama a dormir, ele fez-me voltar a dizer o que lhe tinha dito ao telefone. - A forma como a Joana arregalou os olhos praticamente em antecipação ao que iria suceder a seguir fez-me gargalhar. - Acalma as hormonas, Joana!

- E repetiste o que lhe disseste? - Questionou ansiosa.

- Disse que o amei em todos os momentos. - Deitar tudo cá para fora era uma sensação tão aliviante. - Ao início estava a tentar escapar às perguntas dele mas depois não consegui esquivar-me mais.

André | André SilvaWhere stories live. Discover now