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Tinha as minhas feridas demasiado abertas após a conversa com a mãe do André para agora conseguir lidar bem com esta notícia. Olhei durante alguns segundos para o André com o objectivo de tentar perceber o que se estava a passar. Infelizmente não conseguia ler a sua expressão como antigamente. Lembro-me do quão fácil era comunicarmos apenas com o olhar e da forma como conseguíamos ser transparentes um com o outro. Agora, neste momento, só vejo confusão e nem uma tentativa, fracassada ou não, de falar comigo. Eu estava ali, a mãe do filho dele, bastava um gesto para me sentir bem-vinda naquele momento. Sei que tinha perdido esse direito à muito tempo mas ainda assim esperava algum tipo de consideração por parte dele.

- Vou preparar-lhe algo para comer. – Anunciei na esperança de receber alguma resposta por parte dele mas sem qualquer sucesso. Sério, André? Ignorares-me agora é uma excelente forma de comunicação.

Passei pela porta sem olhar para trás e encontrei a tão famosa rapariga a cumprimentar o pai do André. Assim que ouviu barulho vindo do exterior virou-se na minha direcção na esperança que fosse o André. Isto porque a expressão sorridente dela mudou drasticamente quando perceber que não era o André. Já a tinha visto numa fotografia mas vê-la ao vivo era completamente diferente. Nunca achei que o André tivesse um tipo de rapariga ou que se sentisse atraído por um certo tipo de aparência. Pelo menos era o que achava já que a rapariga conseguia ser o meu oposto.

Infelizmente conseguiu trazer à tona todas as minhas inseguranças principalmente no que tocava ao meu corpo. Desviei de imediato todos esses pensamentos da minha mente e apenas sorri para a mais recente convidada.

- Boa tarde. – Cumprimentei-a simplesmente e segui o meu caminho. Nem sequer esperei para perceber se ela me entendia ou se me tinha respondido. Estranhei ao não encontrar a mala do André onde a tinha deixado mas depois lembrei-me que o André tinha mudado a fralda ao nosso filho. Fui até ao quarto dele e quando voltei para a cozinha já com a mala encontrei o Afonso e a D. Anabela.

- Precisas de ajuda, querida? – Questionou a mãe do André. De novo encontrei algum tipo de conforto no olhar dela, pelo menos tínhamos chegado a bom porto com a nossa conversa. Vislumbrei por segundos o Afonso que me olhava compreensivamente. Tive que respirar fundo para que as lágrimas não se acumulassem no canto dos meus olhos. Encontrava-me numa situação demasiado vulnerável principalmente por causa da conversa minutos antes.

- Se quiser pode segurar nele enquanto lhe preparo Cerelac. – O pequeno nos meus braços ainda choramingava ao meu colo.

- Claro que sim, Lis.

O mau estar dentro da cozinha por causa da outra que tinha aparecido continuava à medida que preparava a comida para o André. O Afonso tornou-se útil e pediu-me para que o deixasse dar de comer ao pequeno André. É claro que deixei mas o pequeno não achou muita piada mas à medida que lhe ia comendo começou a sorrir mais para o tio. O Afonso ia fazendo algumas palhaçadas que o deixava a rir que nem um perdido. Finalmente o meu filho parecia ficar agradado com a presença do tio.

Barulhos vindo da sala fizeram-me automaticamente olhar para a porta e o que vi fez com que desejasse mentalmente não o ter feito. O André tinha passado com a loira em direcção aos quartos com ela a rir-se. Desde quando as italianas se tornaram assim tão irritantes? Em nenhum momento o André tentou entrar em contacto comigo. Não sei o que esperava dele mas de certeza não era esta falta de consideração.

Por mais que não quisesse e tentasse camuflar com um sorriso tinha o coração num enorme sufoco. E para complicar as coisas o problema não era a italiana aos sorrisos porque se fosse outra qualquer tinha a certeza que a dor que estava a sentir era a mesma. O principal problema eram os meus sentimentos. Lembro-me que nunca fui muito ciumenta ao contrário do André que entrava em parafuso sempre que me via com num rapaz. Não é que na altura gostasse de o ver rodeado de raparigas principalmente desde que começara a jogar no Porto. Mas sempre que olhava para mim, mesmo estando no meio de raparigas fisicamente mais bonitas que eu, fazia-me sentir como se fosse a única mulher do mundo. E não havia melhor sentimento que esse.

André | André SilvaWhere stories live. Discover now