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Eu amava-o.

Quando tomei a decisão de que seria melhor deixa-lo para que seguisse a sua vida, sempre pensei que um dia iria aparecer alguém por quem me apaixonar. Tinha a plena consciência que não seria igual mas talvez algo diferente era o que precisava. Alguém que não tivesse ligado fortemente ao desporto, que a sua carreira não significasse mudar de país a cada ano. Que um simples passeio à beira mar não fosse motivo de preocupações por parte de seguranças. Onde não houvesse problemas sobre o que postar nas redes sociais porque simplesmente ninguém estaria interessado.

As pequenas coisas que me fizeram apaixonar-me por ele ainda lá estavam bem como o amor que sentia no meu coração. Infelizmente não dava para tirar toda a bagagem de cariz mediático dele e ficar só com o lado bom. Apesar de tudo até gostava de o ver jogar futebol porque era algo que o fazia inteiramente feliz. Nunca fui grande fã de futebol mas por sentir obrigação como amiga e depois como namorada de assistir aos jogos acabei por envolver emocionalmente com o futebol. Mas desde que terminamos que nunca mais consegui ver um jogo completo, o máximo que conseguia era ouvir os relatos entusiásticos da Joana enquanto trabalhava no computador.

O problema é que tudo muda quando há um bebé a depender de nós para viver. Não podia deixar os meus problemas prejudicassem a vida de alguém inocente. Ele não tinha pedido para nascer e não podia ser colocado no meio de uma guerra. Apesar da primeira reacção do André não ter sido a melhor nem a segunda e talvez a terceira também, ele estava a fazer um esforço. Não era preciso ser um génio para entender que ele ainda estava magoado comigo mas isso não podia interferir com o bem-estar do nosso filho. Mais uma vez não o merecia porque ainda podia vislumbrar alguma bondade no olhar para comigo.

Mais uma vez, eu amava-o.

Achava que tudo estava bem confinado no fundo do meu coração mas acabou por explodir tudo à minha volta. Todos os meus sentimentos começavam a aflorar na pele o que me tornava numa pequena bomba relógio. Era disso que mais tinha medo, de explodir e criar expectativas que o meu coração não podia suportar. Podia jurar que ainda conseguia sentir os lábios do André nos meus. Podia jurar que ainda podia sentir a adrenalina que desceu sobre o meu corpo e como tudo à minha volta teve uma cor diferente. A forma como o meu corpo reagiu ao dele era prova mais do que suficiente que seria muito complicado manter tudo controlado dentro de mim.

Pela terceira vez, eu amava-o.

Eu amava-o e tinha de conseguir lidar da melhor maneira para o bem do meu filho. Porque acima de qualquer coisa o pequeno André ocupava todas as minhas prioridades.

Fotografias do André no dia anterior quando foi ter comigo à praia apareceram no meu feed do instagram. Inconscientemente, ou talvez não, andei a pesquisar coisas sobre ele. O meu nervosismo com a reunião do André com os pais é a minha desculpa por estar há uns bons minutos a olhar para a fotografia do André. Foi um pequeno passo para descobrir quem era a Francesca, a ex-namorada e desejei não ter aberto o seu perfil. Não sabia se haveria de ficar triste ou contente por perceber que não tinha qualquer semelhança física ou muito provavelmente intelectual com ele. Depois disso percebi que as pessoas que o abordaram na praia tinham postado as fotografias no instagram onde indicavam o local onde estávamos. Era apenas uma questão de tempo até aparecer alguma notícia sobre as suas férias no Algarve. Só esperava que ninguém o tivesse visto a sair da loja de bebés cheio de sacos. Já tínhamos problemas que cheguem e a última coisa que precisávamos é que toda a família saiba através da comunicação social que o André é pai.

Bloqueei o telemóvel e olhei para o André que estava a tentar levantar-se apoiando-se no sofá. Ele apenas tinha dado uns passos sozinho e muito por culpa da sua vontade de fazer tudo a correr acabava sempre por cair. Observei-o enquanto tentava firmar-se nas suas pernas pequeninas. Emocionalmente não estava à espera de ver o que estava prestes a acontecer. Ele abriu os braços para se equilibrar e desemparou-se do sofá. Deu pequenos passos devagarinho, algo que nunca tinha visto. Não conseguir colocar em palavras o que estava a sentir à medida que ele avançava para mim.

André | André SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora