Prólogo

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Pequenos beijos eram depositados ao longo do meu ombro acordando-me aos poucos. Podia sentir o sorriso dele contra a pele das costas quando descia ao longo do meu corpo. Tinha por norma um péssimo despertar principalmente quando era através do som do despertador. Era uma espécie de relação temperamental entre mim e o pequeno objecto electrónico. E em muitas das vezes acabou com o objecto estilhaçado no meio do chão.

Agora acordar com aqueles beijos deliciosos mudara completamente a minha visão enublada pela manhã. O lençol que cobria parte do meu corpo nu foi sendo puxado para o lado deixando-me arrepiada. Não sabia se era do frio ou por causa dos lábios que não ficavam muito tempo longe da minha pele.

Abri os olhos aos poucos ficando com a visão um pouco enublada. Esfreguei os olhos com a mão direita permitindo uma melhor visão do momento. O que vi em seguida fez o meu coração parar com tamanho amor. Nunca pensei que fosse possível amar alguém como amava o André mas ver espelhado no olhar dele todo esse amor retribuído era de fazer chorar. Não me sentia apenas a pessoa mais feliz do mundo mas também sortudo por ter alguém que me dá a sua alma para cuidar e preservar ao longo do maior tempo possível.

- Bom dia, meu amor. - Era incapaz de me cansar de o ouvir chamar-me "amor". Tenho como objectivo principal na vida ouvi-lo chamar-me assim um número infinito de vezes. - Onde anda esse mau humor matinal? Se a cura for beijos e mais beijos não te preocupes que faço isso com muita dedicação até ao fim dos nossos dias.

As enormes mãos do moreno pressionaram o meu corpo a rodar trazendo as costas para junto do lençol. Agora estávamos de frente e não consegui prender um dos melhores sorrisos de sempre. Sentia-me a transbordar de alegria e felicidade. Não conseguia expressar tudo o que envolvia o meu pequeno coração e principalmente o que sentia quando ele recantos da minha alma que desconhecia. A cada dia descobria algo novo sobre mim e a encontrava algo que me completava nele.

- Se acordar todos os dias assim prometo deixar de lado toda a minha irritação matinal. - Ele inclinou-se sobre mim juntando os nossos lábios num beijo calmo mas cheio de significado. Fazia um ano que estávamos juntos e outros tantos que nos conhecíamos. Ainda me lembrava perfeitamente do dia em que nos conhecemos, da forma como me sujou de lama e do jeito brincalhão como ambos caímos piorando ainda mais o estado das nossas roupas. Sempre nos disseram que tínhamos tudo para dar errado mas aqui estávamos nós provando que tudo poderia correr bem e que o futuro será brilhante. - Bom dia, amor. - Os seus lábios abandonaram a minha boca descendo pelo meu pescoço até encontrar um dos pontos mais sensíveis do meu corpo. O ponto entre a curvatura do pescoço com o ombro fazia-me arquear até às pontas dos dedos do pé.

- Devíamos chamar este ponto como "André". Fui eu que o encontrei e quero reivindica-lo sempre que possível. - Não consegui deixar de rir. Com os meus braços em redor do seu corpo abracei-o sem ter a intenção de o deixar ir para lado nenhum.

- Não queres reclamar mais nenhum ponto? Este chega-te? - Deixei pequenos beijos sobre a sua face onde começava a aflorar vestígios de barba até chegar ao lóbulo da orelha. Não resisti em deixar os dentes rasparem nessa pequena zona.

- Ainda ando à procura, baby. Não te preocupes que este é um daqueles trabalhos que não me importo nada em executar. Para além de que o teu corpo é tão cheio de pequenos pontos mágicos e quero explora-los com tempo e dedicação. - Novamente os lábios dele exploraram os meus até adquirem uma nova tonalidade de vermelho.

- Promete-me que o que temos nunca acabe independentemente do que se possa suceder, dos problemas que possam surgir, dos obstáculos que tenhamos de ultrapassar. Promete-me que estaremos juntos em todos esses momentos. - A voz frágil do moreno tocou na minha alma nua. Podia ver toda a sua insegurança naquele momento através dos seus brilhantes olhos. Procurei a mão dele cegamente até a encontrar e entrelaçar os nossos dedos.

- Prometo, André. - Falei através da minha alma tudo o que sentia - Nada me vai fazer separar de ti e o que sinto é capaz de fazer abalar o mundo. Eu tenho fé em nós, no nosso amor e que seremos capazes de superar tudo o que vier para nos derrubar.

- O meu amor por ti é inabalável e indestrutível, Lis. - E acreditei em todas as palavras dele porque acima de tudo vinham do lugar mais remoto do seu coração.



O pequeno corpo estava encostado ao meu peito enquanto deixava tudo pronto para as férias. Trabalhava apenas com uma mão enquanto a outra segurava as pequenas costas do menino. Acabei de responder ao último e-mail e fechei o portátil deixando-o em cima da secretária. Levantei-me devagar para não acordar aquela pequena preciosidade e fui deita-lo na sua caminha. Ele não protestou nem um momento quando o coloquei em cima dos lençóis e o cobri com a coberta azul onde estava bordado o nome dele. André.

Ele dormia tão serenamente.

Era o meu anjo e a minha maior fonte de energia. Mas havia momentos em que todos os meus muros ruíam à minha volta deixando-me frágil e emocional. Nunca me passara pela cabeça estar naquela situação nem em algum momento pensei que fosse possível sequer. O problema é que a vida dava demasiadas voltas e o que achavas que era o certo agora parece errado. O que era indestrutível era afinal uma manta de retalhos pronto a desfazer-se. O que era amor na realidade era algo passageiro.

- Sinto tanta falta do teu pai, meu anjo. - Deixei escapar e a dor voltou a invadir-me como da primeira vez. A dor não melhorava nem apaziguava. Apenas tinha que aprender a conviver com ela. E era isso que tencionava conseguir.


André | André SilvaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora