0.5

3.3K 166 11
                                    

Não tinha ido à escola. Depois de muita insistência com a minha mãe consegui convencê-la a deixar-me ficar em casa. Ela ainda pensou que fosse algum problema com o André mas assegurei-lhe que estava tudo bem com a nossa relação. Dava para ver na sua expressão que queria saber mais e que a minha justificação de dor de cabeça era mentira. Praticamente supliquei-lhe em surdina para que não fizesse mais perguntas e assim o fez. Quando ouvi a porta de casa a fechar deitei-me na cama e tentei não me afogar nas lágrimas.

Encontrava-me em modo sonolento quando senti alguém a tocar-me no braço levemente. Não tinha noção do tempo que tinha passado desde que me deitara até aquele momento. Quando me viro na direcção do desconhecido encontro o meu moreno. Ele sorri timidamente aproveitando para desviar algumas mechas de cabelo que caiam preguiçosamente na minha face. O contacto da pele dele dos dedos com a minha face era o suficiente para me fazer relaxar contra a almofada.

- Como é que apareceste aqui? - Questionei fechando os olhos para aproveitar melhor o seu toque.

- A tua mãe ligou-me de manhã a dizer que tinhas ficado em casa aparentemente doente. - A minha mãe e a sua enorme boca. - Ela pediu-me para que passasse na hora de almoço aqui em casa para ver como estavas. Passei pelo trabalho dela a caminho daqui para buscar as chaves de tua casa.

- Mas não tens treino ou algo parecido? - O André tinha assinado pelo Porto recentemente. Era um enorme passo na carreira dele e não queria que tivesse problemas por minha causa. Sabia que agora iria estar cada vez mais ocupado e que o futebol tinha ganho um novo patamar na sua vida. Não conseguia expressar por palavras o quão estava orgulhosa de tudo o que tinha alcançado até agora.

- Não quero que tenhas problemas com o teu treinador ou com o clube por minha causa. - Concluí o meu raciocínio.

- Estou na minha hora de almoço, Lis. - Ainda não tinha dado conta que o André estava praticamente deitado na minha cama. Ele esticou as pernas para que tocassem nas minhas por cima do fino édredon. - Posso fazer o que quiser incluindo visitar a minha namorada a casa que parece estar no meio de uma crise existencial.

- Crise existencial? - Onde raio tinha ido buscar estes termos?

- Sim. Li na internet que a melhor cura é gelado de chocolate e uma boa dose de miminhos. - Havia alturas na minha vida que achava que o André era louco mas hoje tinha a certeza que o era.

- André... - O moreno tinha aquele sorriso travesso de quem andou a tramar alguma coisa. Ele inclina-se para a beira da cama e com o braço puxa para a cama o que estava pousado no chão. Um pote de gelado, um pano de cozinha e duas colheres foi o que trouxe para cima da cama. Eu estava demasiado vidrada no gelado que era a minha maior perdição.

- Uma colher para ti e outra para mim. - Não lhe conseguia dizer que não quando ele tinha gestos como este para me surpreender. Era impossível ficar mais de coração cheio como agora.

- E eu a pensar que o gelado era só para mim. - Provoquei-o. Facilmente poderia comer aquele pote inteiro sozinha se quiser depois ter uma enorme dor de barriga.

- Lamento, baby. Vamos ter de compartilhar e já tens sorte de ter uma colher só para ti. - Ele abriu a tampa do gelado e pousou-a em cima da mesa-de-cabeceira. O moreno ia tirar um pedaço de gelado mas antecipei-me e roubei-lhe o pote. - Então? - Resmungou.

- Eu é que estou com uma crise existencial e não tu. - Ele riu-se fazendo-me rir também. Acomodei-me melhor na cama para que pudesse devorar confortavelmente o gelado. Já estava na quarta colherada quando deixei o André provar. Encostei-me a ele para que pudesse sentir o seu calor e aconchegar-me melhor. - Obrigada.

André | André SilvaWhere stories live. Discover now