Devorador de Mentes

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Sabia que todo aquele sistema de segurança era necessário, mas não gostava de como aquilo me fazia sentir.

O assassino continuava livre enquanto nós estávamos em prisão domiciliar.

Todas as formas que pensei para fugir dali culminavam em um policial caminhando ao meu lado e não poderia virar os holofotes para o James.

Carol nos chamou para ver a segunda temporada de stranger things que tinha acabado de chegar ao Netflix. Fabricia não mostrou muito interesse,  mas acabou assistindo com a gente. Ela choramingava entre um episodio e outro, porém senti que aquela distração nos fez bem.

Foram nove episódios muito intensos,  mas nos divertimos muito. Foi literalmente uma fuga de todos os problemas que estávamos passando.

Eu particularmente me sentia no mundo invertido com um devorador de mentes a espreita, apenas esperando o momento certo para me pegar.

Quando a noite caiu, tive uma ideia bem ao estilo Stranger Things. Pensei que talvez poderia tomar um banho bem longo.

Guardei um disfarce novo na minha bolsa e disse a todos que iria relaxar por algumas horas na banheira. Acho que ninguém suspeitou de nada , pois nem me seguiram.

Ao entrar no banheiro coloquei  próteses para o nariz e o queixo e me vesti de punk. Penteei meu cabelo para trás e fiz uma maquiagem inspirada na Eleven. A parte difícil foi conseguir pular a janela do banheiro. Estávamos no oitavo andar e meu medo de altura não contribuía muito.

Passei com muita dificuldade pela janelinha estreita e firmei a ponta dos meus pés no pequeno parapeito que circundava o prédio. O vento uivava e tentava tirar o pouco de equilíbrio que o medo me permitia ter. 

Caminhei lentamente até o parapeito do quarto vizinho. Pulei para dentro dele e abri com cuidado a porta de vidro. Não sabia muito bem o que encontraria, mas estava disposta a enfrentar o que fosse.

A sala estava decorada com estilo bem retrô. E o carpete reduziu a quase zero os ruídos dos meu passos. Alcancei a porta sem muita dificuldade e felizmente a chave estava lá.  Pendurada na fechadura. Sorri com aquela visão. Virei a chave com cuidado e me senti livre de novo.

Corri para elevador e apertei umas mil vezes o botão para recepção.
Ao sair passei por dois policiais que nem ao menos perderam tempo olhando para mim.

Parei o primeiro táxi e dei o endereço do James. Não demorou mais que 29 minutos. Desci em frente a casa dele e após respirar fundo bati na porta.

Felizmente foi o James que abriu. Ele nem parou para pensar sobre quem era. Talvez meu disfarce não tivesse ficado tão bom assim.

Ele me abraçou forte e por alguns segundos parecia que ainda estávamos na Chapada e que nada daquilo tinha acontecido.

Ele fechou a porta e me levou para a mesma praça que tínhamos ido juntos quando me disfarcei de Amelia pela primeira vez.

_ Gostei do estilo Eleven - ele disse sorrindo quando nossos olhares se encontraram.

_ Não acredito que você vê esse tipo de série.

_ Claro que vejo! Gosto daqueles garotos! _ concluiu com um beijo.

_ Eu estou me sentindo como a Eleven, como se tudo que eu tocasse pudesse desaparecer _ respondi afundando meu rosto em seu peito.

_ Eu me sinto como o Will, mas ouvindo você falar assim vou começar a ser o Mike _ senti seu sorriso sob o meu cabelo.

Ele se levantou e me estendeu a mão para uma dança. Não havia música como na primeira vez que dançamos, mas ele cantou para mim. Cantou a mesma música lindamente assustadora do The Police do baile de neve no último episódio e pensei que talvez o Devorador de Mentes que me perseguia poderia ser real.

Que outra explicação poderia existir para o fato dele saber como eu desejava que fosse minha morte?

Como ele saberia tantos detalhes ao ponto de reproduzir tão fielmente causando tantas mortes?

Fechei meus olhos na esperança que tudo aquilo fosse parte de um pesadelo e que a única parte real fosse o James cantando para mim.

O Colecionador de BorboletasWhere stories live. Discover now